Olá povo do fetiche!
Como vocês estão? Espero que todos bem!
Hoje eu quero conversar com vocês um pouquinho sobre um dos assuntos ainda um tico “espinhosos” dentro do bdsm: o Top Service!
Então, café em mãos e se acomodem … o passeio promete ser interessante!
Antes de qualquer coisa, eu quero pontuar que nós, simples e meros brasileiros, sofremos muito quando “importamos” conceitos, até mesmo porque existe uma expressão em inglês (ironicamente) que é “lost in translation”, que numa tradução simples quer dizer “perdido na tradução”.
Pois bem, BDSM não nasceu no Brasil (mesmo algumas pessoas insistindo em dizer que estão no bdsm mesmo antes dele por aqui chegar 🤡, com suas centenas de anos de experiência, isso é mentira!), logo, nós “importamos” muitos conceitos e temos, por conta de disparidade linguística, uma tradução ‘tronxa’ e que não necessariamente traduz literalmente o que as coisas significam.
Com o Top Service acontece a mesma coisa!
Eu já li diversas coisas sobre Top Service, das mais absurdas possíveis, porém, conceitualmente falando, o Top Service é quando o Top desenvolve a sua sessão de acordo com o “direcionamento” dado pelo bottom.
Ah Sra Storm, mas isso é “Dominação por baixo”!
Será?
Pode vir a ser?
Vamos pensar juntos?
Se na nossa vidinha baunilha, quando duas pessoas estão se conhecendo as coisas já são complexas, imaginem no BDSM!
Se a gente pensar em duas pessoas já com certa experiência, estamos falando de dois tipos de jogos diferentes, duas toadas diferentes, mas que não existe nada que garanta que os jogos combinarão assim de primeira!
E como se resolve isso?
Se você que está me lendo agora é bottom, eu imagino que você tenha vontade de explicar para o Top como o seu corpo se comunica, como ele reage aos estímulos, ou estou errada? E isso não seria um direito seu?
Outra coisa, a gente sempre fala que o bottom é o único que tem o direito de dizer quando um limite pode ser excedido, concordam? E como isso poderia acontecer se não houvesse um “direcionamento” do bottom? Através da bola de cristal de Top eu garanto que não vai ser!
Outro momento que eu acredito que eventualmente possa haver um direcionamento, é quando um bottom já experiente, se engaja em um jogo com um Top zero experiência.
Vamos falar a verdade? TODO MUNDO um dia não teve noção de como fazer as coisas!
Alguns Tops mentem dizendo que tem anos de experiência ao chegarem, fazem sessão, e acabam machucando os bottoms.
Outros preferem trabalhar na honestidade e não se colocam em práticas que ainda não tenham minimamente estudado.
Outros ainda preferem chegar no bottom e jogar limpo dizendo que não sabem nem como construir uma cena e aceitam o “direcionamento” do bottom! E a cena sai! E todo mundo sai vivo e feliz de lá!
Eu não sei vocês, mas se eu fosse bottom, eu fugiria do primeiro exemplo como o demônio foge da cruz! Mas isso sou eu né? Eu posso indicar o caminho para vocês, mas nunca caminhar por vocês!
Vocês conseguem perceber que nesses cenários que eu coloquei aqui, o tal do Top Service não parece assim um bicho papão?
Agora vamos pensar como esse comportamento de “direcionamento” pode se tornar tóxico para a relação?
Quando a gente pensa num jogo de “troca de poderes”, a gente imagina que a pessoa que está cedendo o poder confie na outra o suficiente para essa entrega, logo, se você confia, não existe a necessidade de direcionamento!
Tudo bem, eu particularmente acho esse argumento naive demais mas, ok!
Na minha opinião, esse tal “direcionamento” somente começa a fazer mal para a relação quando percebemos que o bottom está tentando manipular a situação para que ele continue sendo o detentor do poder da relação, não existe na intenção do bottom progredir, nem levar a relação do ponto A para o ponto B.
Bottoms sem muito tempo de experiência, provavelmente não conseguem expressar com clareza seus desejos e como seus corpos reagem, e talvez, incorram na dominação por baixo nociva, principalmente os que estão ainda muito arraigados nos moldes baunilha de relação.
Por isso o entender-se é tão importante! Ler a respeito é tão importante! Acompanhar pessoas do bem é tão importante!
Quando eu falo de “direcionamento”, obviamente que eu não estou falando do bottom dizer “quero assim, assado, tal dia, tal hora, com esse ou esse instrumento” mas sim do momento que o bottom chega e diz “olha Sra, caso a Sra queira saber, minha pele é mais sensível ao instrumento x”.
Eu vou dar um exemplo bem bobo para vocês … atualmente jogo com uma pessoa que possui um rebento, logo, a minha agenda de mulher solteira é muito mais flexível do que a dessa pessoa. Quando ela chega para mim e diz “eu estou livre tal, tal e tal dias”, o que eu posso fazer?
Ouvir a galera que demoniza o diálogo aberto entre as partes, e perder a sessão por medo do julgamento de ser chamada de Top Service, ou vou aproveitar o momento? Nasci bruxa, não trouxa!
Mesma coisa quando ela me disse “na bunda pode bater a vontade mas quando a Sra sobe pras costas, eu entrego tudo! Costas pra mim é meu ponto fraco!” – vocês acham mesmo que, demônia que sou, vou ouvir uma informação dessas e não usar ao meu favor? Só se eu fosse muito idiota!
Outra coisa muito importante, eu hoje estou falando de Top Service! Não estou falando de Top que pede pra bottom sodomizá-lo, bater nele ou qualquer coisa desse gênero! Até porque eu estou bem pouco preocupada com isso! Cada um faz o que lhes dá prazer!
A minha intenção hoje, é de falarmos do conceito de Top Service mesmo, quando ele pode ser nocivo para a relação e se ele pode ser usado de alguma forma positiva nas construções relacionais.
Relacionamentos são construídos com base no diálogo, sejam eles relacionamentos baunilhas, BDSM, polis, monos, liberais ou quaisquer que sejam. Essa cultura que a gente pegou pra gente no Brasil, de que Top não conversa, que Top sabe de tudo, que Top é o Master Sr Pica/PPK das Galáxias Todo Pleno e Soberano, que bottom não tem direito à fala, fez a gente chegar onde chegamos hoje: em um BDSM violento e absurdamente desrespeitoso!
Então meu querido povo do fetiche, acho que já passou da hora da gente abrir nossas cabecinhas e tentarmos entender os conceitos antes de sairmos falando caquinhas e perpetuando bobagens, não é mesmo?
Todos nós somos seres dúbios, temos o bem e o mal dentro de nós, se a gente não souber nos regular, tudo vai para o vinagre! O BDSM é exatamente igual!
E por hoje eu fico por aqui!
Espero que vocês tenham gostado do passeio!
Até semana que vem!
Hidratem-se!
Usem camisinha!
Sra Storm
AUTORA
SRA STORM
Terapeuta sexual e praticante de BDSM. Sádica e voyeur assumida, suas práticas preferidas são as de caráter mais psicológico porém, se encanta também por práticas como Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!
Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
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