FETICHE X CAPITALISMO – ENTENDENDO O DESEJO DE TER!

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Uma vez me perguntaram qual era meu maior fetiche e eu respondi: uma fazenda, cavalos, gados, tecnologia e uma Nissan Frontier.

Nunca uma resposta minha causou tanta comoção! 😬

Pois bem, acomodem-se, pois, agora irei abordar um conceito de fetiche diferente do conceito estabelecido pela psicologia e, como esse conceito se entremeia no nosso mundo capitalista e consumista, espero que vocês aproveitem a leitura!

Karl Marx desenvolveu uma teoria econômica e política para o fetiche, que é aplicada, por exemplo, à crítica dos meios de comunicação de massa, da mercadoria e do capital. Para Marx, o fetiche é um elemento fundamental da manutenção do modo de produção capitalista, para ele, uma sociedade de base capitalista não sobrevive sem o componente “fetiche”. Essa teoria consiste basicamente na ilusão que naturaliza um ambiente social específico, revelando sua aparência de igualdade e ocultando sua essência de desigualdade através de processos de aquisição. (Dominação x submissão)

Visto esse conceito mais sociológico do fetiche, preciso dizer que ele faz e muito, sentido para mim. Fetiche na minha opinião, acontece antes de qualquer interação sexual e não necessariamente se mantém em função dela também.

O fetiche “da mercadoria”, postulado por Marx, opõe-se à idéia de “valor de uso”, uma vez que este refere-se estritamente à utilidade do produto. Não importa o valor, queremos ter!

Uma das formas mais latentes de manifestação desse conceito de fetiche, é o mercado automobilístico. Talvez seja por conta disso que crescemos vendo homens almejando Ferraris antes mesmo de terem suas experiências sexuais! 🤷🏻♀️

A psicologia despreza o caráter “econômico” do fetiche e o considerada uma prática somente parafílica onde o interesse sexual é por alguma parte do corpo do outro, para alguma função fisiológica ou para peças do vestuário, adornos, etc. Para quem vê o fetiche assim, a atividade sexual pode se dar decorrente do fetiche ou, ele pode ser incorporado ao ato.

Para mim, que tenho o entendimento acomodado no fetiche como uma algo inerente à vida do ser humano, o desejo sexual “diferente” não é medido por fetiche mas sim, pelas parafilias de cada um, uma vez que, parafilias são comportamentos sexuais nos quais a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas sim em outra atividade.

Voltando agora à abordagem específica desse texto, e para aqueles que conseguem, como eu, ver o fetiche como algo aspiracional além da esfera erótica, vamos ver como o fetiche move, e muito, a indústria do consumo…

Até os anos 60 mais ou menos, a imagem e a moda fetichista sempre foi subjugada ao plano do sujo, do obscuros, dos impróprios. Depois dessa década, motivados por todos os movimentos de libertação sexual que aconteceram, os “seres humanos normais” passaram então a se vestir de forma que também os remetiam à libertinagem, quase que um grito social onde aqueles que expurgavam, queriam então fazer parte!

A primeira peça que saiu do submundo da perversão feminina acabou ganhando notoriedade, foram as botas de salto alto e couro, utilizadas até então, somente pelas prostitutas. Seriados de tv, vestiram heroínas com catsuit (roupa da Mulher Gato), máscaras, botas de cano extremamente longos e começaram então a passar a imagem de força.

Em paralelo a isso, na ala masculina, através dos ídolos do rock and roll, trazia figuras desejadas por homens e mulheres que vinham esfregando na cara da sociedade, o nosso símbolo máximo de poder, o couro!

Cada vez mais aspiracional, todo esse estereótipo do “cool” (antes somente pervertido) passa a ser desejado.

Década de 70 … o boom da revolução sexual torna o consumo de objetos e vestimentas fetichistas, um fenômeno em massa. Nessa mesma década, a própria censura começa a vender o sexo como “mercadoria desejável”

Ou seja, a mídia começa a ter então, fortíssima influência sobre os fetiches visuais.

Onde está o pulo do gato?

Versace, Jean Paul Galtier e a musa master do erotismo, Madonna, encontram, nos anos 80 a “mina de ouro” sexualizando absolutamente todas as suas inserções públicas. Madonna passa a ser o corpo que se quer sexualmente por absolutamente todos, assim como James Dean foi nos anos 60, nos anos 80 Madonna veio e se estabeleceu vendendo erotismo e fetiche. Versace abusa do elemento couro em suas criações, nunca a indústria da moda “pret a porter” apareceu tão “poderosa”. Galtier lança perfumes que os frascos são silhuetas de espartilhos (roupa antes vista como roupa de puta!)

Pronto, estabelece-se nesse momento o aspiracional, o conceito que Marx nos traz lá atrás, o conceito de que o fetiche é inerente ao ser humano e está relacionado sempre com o algo a se conseguir, se almejar.

Voando de volta para os anos 2000, um fenômeno literário, após cinematográfico, vem e revalida a “voz do dinheiro” dentro do universo fetichista. Mr Gray nos mostra um Dominador completamente inserido numa realidade financeira que não é a padrão da sociedade, que traz consigo, além de todo um aparato que bem sabemos, é caro, toda uma série de “facilidades” que somente uma pessoa muito bem estabelecida financeiramente é capaz de gozar.

E mais uma vez, o conceito de fetiche de Marx entra em cena.

Por ter atribuído um elemento que, até então não havia sido explorado (o amor), o Mr Gray agora desperta naquele que tá na posição de bottom, o desejo, o fetiche de também “ter” tudo aquilo pra si.

Economicamente falando, 50 Tom só veio pra colocar a última pá de cal no distanciamento entre fetiche aspiracional e fetiche real.

Assim como os expoentes desde os anos 60, esse personagem veio e segregou economicamente, ainda mais, como se o universo fetichista fosse o céu dos bem-aventurados financeiramente.

Dizer que essa imagem aspiracional não influencia, é uma grande falta da verdade, na minha opinião.

Fetiche é marketing e marketing é fetiche. Tudo isso inserido no contexto social capitalista, gera sim um certo benefício para os envolvidos na confecção de roupas e acessórios.

Querer apartar o universo BDSM do conceito de fetiche inspiracional capitalista consumidor é tentar negar o óbvio!

Da minha parte, nenhum problema quanto a isso, afinal meu fetiche é uma Nissan Frontier! 😬 Mas, entender, aceitar e respeitar essa relação sócio econômica capitalista à realização de nossos fetiches somente causará um benefício àqueles que hoje, tentam empreender no mercado do fetiche pois eles podem, numa linha do tempo, ser muito bem reconhecidos pelo seu trabalho. Sabemos que temos excelentes sex-shops espalhadas por aí mas que, muitas vezes nos entrega, mais do mesmo, mas … independente dessa presença no mercado, que me atire a primeira pedra aquele que nunca olhou um belo e luxuoso flogger e não o cobiçou.

Não podemos nos esquecer nunca que os dois maiores poderes que movem o mundo são sexo e dinheiro. Não enxergar o BDSM nesse contexto, é romantizar demais a nossa subcultura e, como muitos já sabem, romantizar o BDSM, não é muito minha praia!

AUTORA: SRA STORM

Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.

CASTIDADE

SUB SPACE

CONTRATO BDSM – MODELO EM ANEXO

CONSENTIMENTO NO BDSM

HISTÓRIA DA CULTURA LEATHER

RELAÇÃO BDSM X SEXO

UMA REFEIÇÃO SENSORIAL

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IMAGEM SOCIAL E BDSM

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FETICHE X FANTASIA

AS BASES DO BDSM E AS DIFERENÇAS ENTRE ELAS

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