Senta aqui, precisamos falar sobre esse tal se subspace

Oi fetichistas! Ando meio sumido por aqui né? Nas últimas semanas aproveitei para tirar uma folguinha, umas férias para me organizar física e mentalmente para esse ano. Também estava em uma série de questionamentos, pois não sabia ao certo o que escrever nos últimos dias. Não me via com muitos assuntos a discutir. Mas aí, em um belo sábado chuvoso, a querida Storm me surge com um print sobre uma história de subspace. E um questionamento me vem na cabeça. Pronto! Já tenho o que questionar.

Pode não ser um texto que agrade a todos. Na verdade, imagino que não vá agradar muitas pessoas, principalmente àquelas pessoas que possuem inclinações para um BDSM que não se baseia no SSC. Mas, para mim como praticamente BDSM na posição de Bottom e como psicólogo – modéstia a parte – que sabe um pouco do que fala, eu posso afirmar: O SUBSPACE É UMA FALÁCIA, além de ser altamente perigoso.

Vamos ao didatismo. O subespace pode ser definido como um estado de ‘entrega total ao Top’ de forma que você chega a não ter controle dos seus atos, você está inerte, completamente entregue ao Top. Os Bottons que defendem e dissertam sobre este estado mental falam que você precisa ter muita confiança na pessoa que você está jogando. E nesse ponto em específico eu concordo plenamente. É preciso uma extrema confiança para se entregar em algumas práticas do BDSM. Mas, vamos pensar aqui com o Dr PSI, o quanto de confiança você tem que ter em uma pessoa para “se permitir” sair de órbita, ‘perder’ seu estado consciente e entrar em um estado de entrega total? Posso ser uma pessoa extremamente desconfiada, mas eu não tenho esse estado de entrega total nem com meus amigos mais próximos, embora racionalmente eu saiba que estas pessoas cuidarão de mim (ou pelo menos algumas delas).

Eu realmente perdi a conta aqui de quantas vezes eu falei sobre o BDSM ser um espaço de prazer. É um jogo que envolve prazer através da representação de papéis e com um jogo de poder. O que acontece que, dentro desse jogo de poder as pessoas criam regras específicas, situações imaginárias e idealizadas que não correspondem à realidade. Não sei se vocês sabem, mas o BDSM não é o que vemos em Verdades Secretas II ou na triologia Cinquenta tons.

E o que piora a situação ainda mais é o fato de que vivemos em uma sociedade psicologicamente adoecida e cada vez mais egoísta e ‘narcisista’, pensando apenas em seu benefício pessoal. Por outro lado, existem pessoas que, por estratégias de enfrentamento disfuncionais, compensam crenças de desvalor e desamparo se submetendo a pessoas extremamente tóxicas. E, claro, tem os pseudo-espertões que se beneficiam disso para – desculpe o termo – abusar da pessoa, seja física, psicológica e financeiramente. Por isso vemos diversas exposições de Tops que parecem bonzinhos, mas apenas tem uma boa lábia, que abusam de Bottons de diversas formas.

E, nesse ponto levanto uma pequena hipótese que não tenho como avaliar suas evidências por falta de campo – e falta de paciência também: quem defende esse famigerado subspace são pessoas que a) definiram ou difundiram esse termo para tem um aval para ‘usar’ o sub como desejar; b) possuem o psicológico extremamente fragilizado, altos índices de Neuroticismo e um histórico de vida não tão legal; c) Não conhecem a definição e a prática de um BDSM baseado em práticas sã, seguras e, principalmente consensuais.

É praticamente impensável pensarmos em um BDSM consensual onde podemos nos submeter a um momento em que entramos em uma áurea mágica e com cheio de couro e baunilha que perdemos a consciência de quem somos para nós submetemos a uma pessoa que, muitíssimas vezes não conhecemos direito, ou conhecemos camadas. Isso é completamente doentio em tantos campos que eu fico extremamente preocupado.

Ufa! Agora, o coração está até mais leve. Desculpe se ofendi alguém, algumas verdades precisam ser ditas. E vocês já sabem…

Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.

 

AUTOR:

DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.

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Respostas de 2

  1. Olá Dr. Psi. Primeiramente gostaria muito de elogiar seu posicionamento quanto ao SSC. Confesso que sou um amante das liturgias clássicas e fundamentais do BDSM. Por sinal, aqueles que não conseguem alcançar seu erotismo com regras, estão fazendo apenas sexo e não a arte do BDSM. Porém, como sou do Direito, áreas próximas as nossas, gostaria de fazer um pouco o advogado do Diabo.
    Acredito mesmo que o SSC é indispensável mas, também acredito que esse tal estado “SUBSPACE” – ao qual confesso já ter ouvido por outros termos – pode ser possível, em sua forma substancial , ou seja, acredito realmente que o Sub pode chegar a um estado de entrega total. Porém, acredito ser papel do DOM se limitar as regras do contrato e aos pilares do BDSM.
    Em suma, não vejo problema no estado mental do SUBSPACE, só vejo que é preciso um discernimento e uma maturidade do Dominador em preservar a integridade de seu Submisso, até porque faz parte do fardo da Dominação ( ou liderança), presar por seus dominados ou liderados. Me desculpem os Doms, mas a dominação tem muito mais haver com servidão, ou seja você é responsável por aquilo que acontece e que faz, e a submissão muito mais haver com permissão, ou seja você submisso que permite, ou não, fazer algo com você.
    Muito obrigado pelo artigo.
    Abraços doloridos.
    J

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