MIMADOS EMOCIONAIS

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Sumi por uma semana, mas voltei com um texto que eu estava querendo trazer há um bom tempo. Vou falar sobre mimados emocionais.

Ok, mas o que são mimados emocionais? Bom, este é um termo que não existe na psicologia, é um termo que eu desenvolvi para definir a todos nós. Sim, pasmem. Todos nós somos mimados emocionais. E por que isso? Vamos pensar em uma criança mimada. Quando tem algo que não sai como ela quer, ela se esperneia, chuta, grita, faz o maior auê. Por que ela faz isso? Porque ela está sentindo uma emoção muito desagradável de sentir que é a frustração. Ela se sente frustrada porque aquela emoção é desagradável, é ruim de sentir, é brusca, é desconfortável, logo eu tenho que fazer de tudo para que eu não a sinta. Logo tendemos a afastar toda as sensações que podem me causar frustração uma vez na vida.

Se você “bloqueia” de alguma forma qualquer uma das emoções desagradáveis como raiva, tristeza, medo, nojo, frustração, ansiedade, ou qualquer outra emoção eu tenho uma coisa para te dizer: você é um mimado emocional! E TUDO BEM! Eu também sou, todos somos. Somos ensinados a sermos mimados emocionalmente.

Somos treinados durante anos – praticamente condicionados – que ignoremos as nossas emoções desagradáveis, independente da intensidade que elas venham, e foquemos apenas nas nossas emoções agradáveis. Temos que ignorar a tristeza e focar apenas em coisas positivas, afinal, ninguém quer ouvir suas lamúrias. Não podemos sentir ansiedade, afinal as outras pessoas odeiam o fato de você ficar falando das suas crises all the time.

Acredito que eu já falei sobre este estudo alguma vez em alguma das minhas publicações neste site, mas existe um artigo que vai correlacionar a forma como que encaramos as nossas emoções em relação com a forma que estas emoções vão voltar para nós e influenciar o nosso cérebro. Em linhas gerais podemos entender que, negando ou remoendo aquelas emoções, elas vão voltar com mais força, trazendo um “estrago maior” para o nosso cérebro. Se, ao contrário, aceitarmos as nossas emoções, elas vão passar mais rápido, vamos “sentir menos o impacto destas emoções”.

Como sempre digo, aceitar não necessariamente quer dizer aceitar e não fazer nada com aquilo. Mas é no sentido de que aceitamos aquela emoção, entendemos que estamos com aquela emoção desagradável e nos comprometemos e criamos alguma estratégia para lidar com aquela emoção. Se eu estou triste e tentar afastar aquela tristeza, como se fosse a coisa mais horrível do mundo sentir tristeza, eu não vou conseguir me livrar dela tão cedo. A partir do momento em que eu aceito que eu estou triste e parto para alguma estratégia de ativação comportamental, ação oposta etc., etc., etc., aquela emoção vai passar mais rápido. Quer ver isso de uma maneira prática e lúdica? O melhor desenho do universo: DivertidaMente. O tempo todo a alegria quer afastar a tristeza, bloquear suas ações, deixar a Riley sempre feliz e contente, realizada sem que nada pudesse abalar. Conseguem ver uma criança mimada sendo formada ali? Mas quem consegue resolver a história toda? A tristeza e a sua maravilhosa função de nos fazer pensar sobre nossos comportamentos para mudá-los de alguma forma.

E como Rita Lee muito bem escreveu nos anos 80, agora que somos as ovelhas negras, somos mimados emocionais, precisamos assumir e sumir – ou como eu gosto de dizer – e sorrir. Somos mimados emocionais, a sociedade nos fez assim, mas não precisamos ser assim. Por isso sofremos tanto. Estamos tentando lutar com emoções básicas e biológicas que atuam de maneira automática na nossa vida. É como lutar contra a nossa vontade de ir ao banheiro, de comer, ou dormir. A criança não é negada de dormir quando ela está com sono, ao contrário, ela é incentivada a dormir, assim como é incentivada a ir ao banheiro para facilitar o desfralde. Por que isso não acontece com as nossas emoções? Sentir tristeza, raiva, alegria, medo é tão natural quanto ir ao banheiro. Precisamos entender isso para começarmos a mudar a forma de enfrentarmos nossas emoções.

Não falamos sobre BDSM neste post, mas basta nos esforçarmos um pouquinho, usar esse aparato altamente complexo chamado cérebro – que temos, mas muitas vezes não usamos – para perceber que uma pessoa altamente emocionada ou mimada emocionalmente não vai ter uma boa relação dento do BDSM. Dentro do contexto de uma sessão BDSM, seja uma sessão avulsa ou uma d/s temos um emergir de emoções e sensações, emoções agradáveis e desagradáveis. Ao mesmo tempo que sentimos prazer sentimos dor (já falamos sobre isso), ao mesmo tempo que sentimos curiosidade sentimos medo, brincamos com o medo, brincamos com o desconhecido, temos que deixar as emoções de lado em um segundo plano para vivenciarmos de maneira autêntica aquela situação. Bottoms se entregam a humilhação e sofrimento. Imaginem agora uma pessoa que tem a tendência a bloquear emoções desagradáveis se submetendo a um quadro desse. Aposto que é aquela pessoa que das duas a uma , ou vai ser inundada pela emoção e vai acostumar-se com ela e começar a sentir prazer com ela, ou aquela pessoa que vai sair da sessão falando que BDSM é coisa de louco.

Se persistirem os sintomas, procurem o terapeuta mais próximo.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas

AUTOESTIMA

DECEPÇÕES CAUSADAS PELO BDSM

RAZÃO X EMOÇÃO

BDSM X PODER

EGO, ARROGO E BDSM

CUCKOLD: O PRAZER DA TRAIÇÃO

FARDAS: POR QUE DESSE FETICHE?

ANO NOVO. NOVAS PRÁTICAS?

EMPATIA NA CENA BDSM

MONEY SLAVE

CONCILIANDO A VIDA BAUNILHA E A FETICHISTA

AFTERCARE, UMA NECESSIDADE PSICOLÓGICA

PUNIÇÃO E RECOMPENSAS NO CONTEXTO BDSM

PUNIÇÃO E CASTIGO: COMO UTILIZAR

VERGONHA EM PRÁTICAS NÃO TRADICIONAIS

AUTOESTIMA E BDSM

AGE PLAY: LIBERTANDO A NOSSA CRIANÇA INTERIOR

QUAL O LIMITE DO FETICHE?

A ORIGEM DOS FETICHES

EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 2: EXPERIENCIAS SEXUAIS

EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 1: O PAPEL DAS CRENÇAS

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DADDY, PORQUE AMAMOS?

DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA: GUIA PRÁTICO

CRENÇAS SOCIAIS E O SEU PAPEL NO BDSM

DOR X PRAZER

HUMILHAÇÃO

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BDSM E LIMITES – UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL

FETICHE MUITO ALÉM DAS PARAFILIAS

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2 comments

  1. morroi 22 março, 2021 at 19:24 Reply

    Entendo que lidar com as emoções faz parte do amadurecimento do ser humano. Ninguém é feliz o tempo todo, nem triste eternamente. Há que se compreender que somos como uma montanha russa, há altos que devem ser apreciados por serem agradáveis porém fugazes, e há baixos que, embora sejam menos agradáveis, são toleráveis pois não são perenes. E a beleza da vida está em viver estas emoções! Isso quebra a monotonia, ajuda a criar forças e a perdermos o medo de enfrentar o “ruim”, o desconhecido. Que tédio seria viver num estado mantido de êxtase ou tristeza…

  2. Lis 13 abril, 2021 at 13:00 Reply

    Como analisanda há mais de dez anos e leitora de Psicanálise, gosto de usar os termos da psicanálise. Pessoas que não sabem lidar com suas faltas e com seu narcisismo primário não estão em condições de ter nenhum tipo de relação, BDSM ou baunilha, que seja sã, segura e consensual.

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