PERSONA, PERSONALIDADE E BDSM

2154
2
Share:

Hoje vamos falar sobre a importância de separarmos o que eu chamo de pessoa física e pessoa jurídica no BDSM. Ao longo de todos esses meses escrevendo sobre BDSM, quase semanalmente, eu falo da importância de nós comunicarmos, como o BDSM e um contexto que pode e que precisa ser separado da nossa vida diária para mantermos a sanidade mental. Para isso podemos usar e abusar de personas, ou seja, utilizar uma outra identidade para utilizar dentro do BDSM.

Afinal, como podemos entender uma persona? Vocês conhecem o Dr Psi, um psicólogo que escreve sobre BDSM no site do Dom Barbudo. Alguns de vocês conhecem o psicólogo que existe por trás da persona do Dr. Psi , que fazem atendimento comigo e até mesmo me conhecem através da minha página profissional. Poucos ainda conhecem a persona que prática BDSM, ainda mais de quem conhece a pessoa física, a pessoa por trás da pessoa que empresta o corpo para todas essas personas.

Complicado? Um pouco, confesso! Mas é extremamente necessário pra gente entender e manter uma prática BDSM segura e mantendo a saúde mental que nos últimos tempos está muito escassa. Precisamos separar a nossa pessoa física da nossa pessoa que prática BDSM para nós proteger. Emprestamos nosso corpo para aquele ser, aquela persona habitar por alguns instantes para satisfazer nossas pulsões, nossos impulsos mais primitivos.

Criar uma persona, uma outra pessoa que tem uma outra forma de pensar, de agir, que tem outro nome, uma outra identidade completamente diferente nos previne de nós adentrarmos de cabeça em práticas que, muitas vezes, se olharmos de maneira racional (qualquer dúvida leia nosso texto sobre razão e emoção) não faríamos de forma alguma.

Vamos pensar de maneira prática. Quem é noveleiro como eu vai saber muito bem sobre isso. No começo dos anos 2000. Acho que 2005 ou 2006 foi lançada uma das novelas de mais sucesso da década: senhora do destino. Quem não lembra da icônica Nazaré Tedesco, representada pela Renata Sorah. Naquela época, Renata deu diversas entrevistas falando que muitas vezes ela era rechaçada na rua pelo comportamento da sua personagem Nazaré. A atriz Renata nunca faria as coisas que a sua personagem fazia. Ela apenas entregava o seu corpo, sua voz aquela personalidade por algum tempo. Quando terminava de desempenhar aquele papel, naquele momento lúdico que era a gravação de uma novela, ela voltava a ser ela mesma, independe daquele papel e das práticas que ela estava desempenhando a pouco tempo. São duas pessoas completamente diferentes que habitam o mesmo corpo (geminianos sabem bem como e isso rsrsrs)

Já disse em algum texto que o BDSM e um jogo de representação, que sempre anda a margem de uma prática normativa, fugindo de tudo aquilo que entendemos como normal, como regra. O contexto do BDSM joga as regras sociais vigentes para o alto e como o Simba diz “eu rio da cara do perigo” criando outras regras. E porque temos que fazer isso com as nossas pessoas civis/baunilhas? Quando adentrarmos no contexto de uma sessão BDSM temos um código cultural completamente distinto, diferente do que estamos acostumados. Quando entramos em um local e socialmente aceito que eu cumprimente as pessoas que estão no recinto. No BDSM, o bottom muitas vezes tem que ficar em um local específico, ajoelhado, olhando para baixo esperando ordens, sem falar absolutamente nada. A pessoa que habita e do lugar para o Dr Psi se expressar acha isso uma falta de habilidades sociais, porém a persona Dr Psi entende como isso ocorre e aceita, sem pensar duas vezes, pois sabe que isso faz parte do código social do BDSM.

Separar a pessoa da persona traz uma individualidade em relações a prática. se a persona do bottom é punida, somente ela é punida e não a pessoa que está dando seu corpo de empréstimo, embora a dor e a punição seja em seu corpo. Uma vez separando que temos duas pessoas dentro deste corpo eu entendo que quem está sendo punido e aquela persona adepta ao BDSM que também se veste de uma forma diferente, se comporta de uma forma diferente que não e uma forma civil, que foge do que conhecemos de baunilha. Práticas que não estão em nossa estrutura de personalidade, mas que com nossa capacidade de adaptação, conseguimos fazer isso com maestria.

Da próxima vez que pensar em persona, pense em todos os atores e atrizes que gostamos que representam papéis complemente diferentes de si mesmos. Olhem a verdade que eles passam. Olhem os heterônimos do escritor português Fernando Pessoa que, ao escrever, mantinha várias pequenas personalidades para conseguir abarcar a sua arte. Se eles conseguem, porque você não pode ao menos tentar?

Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.

SOLIDÃO, SEXO E PANDEMIA

MIMADOS EMOCIONAIS

AUTOESTIMA

DECEPÇÕES CAUSADAS PELO BDSM

RAZÃO X EMOÇÃO

BDSM X PODER

EGO, ARROGO E BDSM

CUCKOLD: O PRAZER DA TRAIÇÃO

FARDAS: POR QUE DESSE FETICHE?

ANO NOVO. NOVAS PRÁTICAS?

EMPATIA NA CENA BDSM

MONEY SLAVE

CONCILIANDO A VIDA BAUNILHA E A FETICHISTA

AFTERCARE, UMA NECESSIDADE PSICOLÓGICA

PUNIÇÃO E RECOMPENSAS NO CONTEXTO BDSM

PUNIÇÃO E CASTIGO: COMO UTILIZAR

VERGONHA EM PRÁTICAS NÃO TRADICIONAIS

AUTOESTIMA E BDSM

AGE PLAY: LIBERTANDO A NOSSA CRIANÇA INTERIOR

QUAL O LIMITE DO FETICHE?

A ORIGEM DOS FETICHES

EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 2: EXPERIENCIAS SEXUAIS

EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 1: O PAPEL DAS CRENÇAS

PORNOGRAFIA VERSUS MUNDO REAL – PARTE 2

PORNOGRAFIA VERSUS MUNDO REAL – PARTE 1

DADDY, PORQUE AMAMOS?

DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA: GUIA PRÁTICO

CRENÇAS SOCIAIS E O SEU PAPEL NO BDSM

DOR X PRAZER

HUMILHAÇÃO

ROLE PLAY

BDSM E LIMITES – UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL

FETICHE MUITO ALÉM DAS PARAFILIAS

Share:

2 comments

  1. morroi 5 abril, 2021 at 09:05 Reply

    Muito bom começar a semana com uma leitura tão relevante! Penso que esse é um dos pilares fundamentais do BDSM, a base do role play. Em uma sessão quem está presente é um personagem, diferente da pessoa “civil” como o Dr. Psi bem explica.
    E essa é a grande beleza por trás da prática do BDSM. Nem todos podemos ser atores e apresentar uma persona diferente na vida baunilha, mas no BDSM podemos ser quem quisermos e nos libertar, exprimir nossos desejos mais íntimos dando vida a uma outra personalidade e nos permitindo uma vida mais plena e completa, sem frustrações (ou pelo menos com um menor número destas)…
    Acredito, porém, que nem todos conseguem ter a clareza de não misturar a persona fetichista com a personalidade real, baunilha. E é fundamental entender que há uma separação. O apoio psicológico nestes casos ajuda é muito…
    A minha pessoa física frequentou o consultório de um analista por muitos anos, e foi muito benéfico, posso garantir! Ou alguém acredita que meu nome real é morroi?…

Leave a reply

Você tem mais de 18 anos? Todo o conteúdo deste site é destinado ao publico adulto (+18 anos).