ALIENAÇÃO CONSCIENTE: ACEITANDO O QUE NÃO PODEMOS CONTROLAR

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Há duas semanas eu escrevi sobre o processo quase obrigatório de alienação consciente, ou seja, a capacidade de tirarmos um tempo para nós mesmo. Um momento de autocuidado, de autopercepção, de encontro conosco mesmo, que não precisa ser um momento de terapia, mas também serve como um instrumento terapêutico.

Estamos vivendo em tempos sombrios, já disse o Ministro da Magia em alguns dos livros do Harry Potter – acredito que no do Enigma do Príncipe – que resulta exatamente o que estamos vivendo no momento. Não temos como negar, muito menos controlar. Mas uma coisa podemos controlar: o que vamos fazer com aquele montante de informação que recebemos quase automaticamente.

Hoje quero promover uma pequena reflexão que eu comecei a fazer na minha última postagem. Quando estamos em uma sessão BDSM não nos preocupamos se o nosso cabelo está bom, quantas pessoas estão morrendo com o surto de Ebola no leste da África e nem passa pela nossa cabeça o quanto temos que pagar daquela fatura do cartão de crédito. E por que isso acontece? Porque temos uma relação de entrega, de foco no momento presente. E é esta reflexão que eu quero trazer para vocês.

Há muito tem se falado sobre uma postura Mindfulness, de atenção plena no presente, no momento em que estamos vivendo. É nessa hora que você me pergunta: mas eu não vou poder viver no futuro? Eu tenho que viver sem perspectiva do que vou fazer? E a resposta é NÃO. Você vai poder planejar o futuro, mas vivendo o hoje! Temos a tendência de confabular um futuro próximo (e até mesmo distante), controlar coisas que não estão ao nosso alcance. Eu trabalho pensando em chegar em casa e descansar, mas quando chego em casa eu não consigo parar de pensar no trabalho que eu tenho acumulado para o dia seguinte. Resultado, eu não consigo dormir, acordo cansado e vou para o trabalho pensando na hora que eu chego em casa e entro em um looping infinito no qual é difícil sair.

Em uma das aulas da faculdade me disseram uma vez que a única coisa que diferenciava nosso cérebro de cérebros de ratos é que nós temos a capacidade de projetar e planejar o futuro. Mas vamos combinar que isso as vezes é um verdadeiro pé no saco! A ansiedade reside exatamente aí, em planejar uma ação que não vai acontecer ou tentar controlar uma atitude no qual nós não estamos preparados.

Aquele ditado “Aceita que dói menos” cabe bem nesse cenário. Precisamos aceitar e entender aquela nossa realidade e nos comprometer a mudar o que nós podemos mudar. E é nesse momento em que entramos no contexto da alienação consciente. Eu sei que está um caos lá fora, sei que a vida dos outros não dependem de mim, provavelmente o que eu fiz em relação à atitude dos outros eu já fiz. Eu não posso pegar a pessoa e colocar em uma redoma de vidro para controlar cada passo que ela dá porque eu acho que eu deveria fazer isso. O que eu posso fazer é aceitar que o que eu fiz eu fiz e o resto não depende de mim. E não adianta eu me martirizar para fazer aquilo acontecer sendo que ele não depende de mim. Por fim, você pergunta “Ah, mas eu sou empático demais, eu me compadeço pelos outros” e eu respondo “Não, isso não é empatia, isso é Altruísmo”.

Precisamos entender as esferas que estão envolvidas quando somos empáticos, quando temos compaixão e quando temos altruísmo. Empatia, todos conhecemos e já cansamos de ouvir falar, é a capacidade de sentirmos o que o está sentindo; Compaixão é quando eu sinto esta dor do outro e faço alguma coisa para mudar aquela realidade; por fim, no altruísmo eu sinto aquela dor, faço algo para mudar aquela realidade, porém eu posso comprometer o meu bem-estar em função disto. Complicado? Um pouco! Mas vamos colocar na prática: eu vejo um morador em situação de rua em um dia frio pedindo dinheiro e sinto pena (empatia), se eu compro algo para ele comer ou dou dinheiro eu estou tendo um ato de compaixão, porém se eu levo ele para minha casa para tomar um banho, por exemplo, já é um ato de altruísmo, ou seja, eu já estou comprometendo o meu bem-estar em função da sensação do outro, só porque eu acho que devo.

Sejam conscientes, aceitem o que vocês não podem controlar e controlem o que vocês podem – e devem.

Se persistirem os sintomas, procurem o terapeuta mais próximo.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.

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1 comment

  1. morroi 26 abril, 2021 at 11:16 Reply

    Mais uma excelente reflexão do Dr. Psi! Atualmente a avalanche de informações a que somos submetidos nos causa grande ansiedade, não com o presente, mas com imaginar e tentar planejar o futuro. É óbvio que é necessário ter uma perspectiva a médio e longo prazo do que se quer fazer ou onde chegar, mas com isso deixamos de lado o presente. Há algum tempo tento me equilibrar pensando da seguinte maneira: eu posso sofrer um acidente amanhã e não estar mais aqui; mas nem por isso vou deixar de (tentar) ter uma reserva financeira para poder fazer uma viagem ou comprar algo que quero. E, sejamos honestos, quantas vezes projetamos uma situação futura e ela ocorreu exatamente da forma como havíamos imaginado? No meu caso acho que nunca…

    E, com relação às esferas das relações humanas, empatia e compaixão considero fundamentais, nos torna humanizados e reduz a chance de cometermos erros ou sermos indiferentes. Porém o conceito de altruísmo só se aplica a casos específicos, temos que fazer a nossa parte mas cada um tem que fazer a sua. É fundamental aceitar que nenhum de nós sozinho conseguirá mudar o mundo, e ainda corremos o risco de anular nossa própria felicidade e bem estar nesta busca por algo utópico.

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