Olá povo do fetiche!
Como vocês estão?
Faz tempo que não apareço por aqui, não é mesmo? Mas, como eu sempre falo, as demandas baunilhas, muitas vezes nos cobram mais tempo e dedicação e, nesse momento eu precisei parar um pouco para me reenergizar e estar pronta para 2022, que deve ser um ano bastante movimentado por aqui, mas, vamos que vamos …. estou de volta aqui e vamos recomeçar falando de um assunto bastante específico – a incapacidade de dizer “não” e o quanto isso pode prejudicar o seu jogo, ou como eu prefiro dizer, como isso pode foder o teu rolê dentro do BDSM.
Pois então, façam aquele cafezinho, se acomodem e venham comigo …
Quem me acompanha com assiduidade sabe o quanto eu prego a necessidade de impormos limites em todas as nossas relações, sejam elas de quaisquer ordens, e para quê isso? Simplesmente para podermos manter a nossa sanidade mental!
Quando falamos de BDSM, estamos falando basicamente de um jogo de limites, onde aproveitamos da nossa esfera erótica para tirarmos prazer, mas no final do dia, é tudo a respeito do limite.
Agora vamos falar um pouquinho sobre como impor limites na nossa vida baunilha? Respondendo de forma bem simples e direta, eu devo lhes informar que, a única maneira de colocarmos limites, em quaisquer relações que nutrimos, é dizendo NÃO!
Muita gente acredita que, dizer não, é ser antipático, egoísta ou qualquer coisa desse tipo, mas fiquem tranquilos, que não é nada disso! Dizer não aumenta a autoestima, afinal, dizer não é a capacidade que temos de nos cuidar, de nos resguardar e não nos colocarmos em situações que irão deliberadamente nos prejudicar.
Muitas vezes, as pessoas têm dificuldade de dizer não, porque acreditam que as outros “deixarão de gostar” delas, o medo da rejeição está intimamente ligado à incapacidade de dizer não, e, para se defender daquele sentimento ruim de rejeição, as pessoas acabam dizendo sim para absolutamente tudo e todos.
O grande xis da questão aqui é que, todas as vezes que a gente deixa de dizer não “para querer agradar”, “para não decepcionar”, para o outro “continuar gostando da gente”, nós estamos automaticamente nos anulando! E a gente sabe muito bem o que o caminho da anulação pode fazer com as nossas vidas, não é mesmo? Agora potencializa isso, num jogo erótico de poder e veja bem qual o caminho que possivelmente será trilhado por uma pessoa que se anula no BDSM?
E por favor, nem comecem com o lesco lesco do discurso da tal da “entrega” … esse discurso já não funciona desde 1943! Na vida, e principalmente no BDSM!
Vocês bottoms podem, e mais que isso, DEVEM estabelecer relações dentro do BDSM que sejam capazes de preservar suas individualidades. Se vocês ainda não entenderam que o BDSM é um jogo erótico, e que para o jogo ser legal, as singularidades precisam ser preservadas e respeitadas, eu vou convidar vocês a voltarem 12 casinhas e começarem a estudar novamente!
Essa “idealização” exacerbada das relações BDSM, como se elas fossem a grande tábua de salvação da vida é que faz, cada dia mais, com que o BDSM se torne um ambiente inóspito e muito violento.
BDSM é sobre satisfação erótica, é sobre descobrir novas formas de sentir desejo, tesão, prazer e gozo, mas antes de qualquer coisa, é sobre limites!
A grande problemática aqui acontece, quando a incapacidade de ‘dizer não’ na vida, já é por si só, um processo traumático. Dizer não, é o exercício vivo da capacidade de imposição de limites, de autoconhecimento e principalmente de autocuidado, logo, se você tem dificuldade em dizer não na vida, e vir para o BDSM com essa dificuldade, se estiver na posição de bottom, consequentemente você também não vai conseguir impor limites e, encontrará muita dificuldade em colocar em uso, o ÚNICO e mais importante mecanismo de segurança que você tem em mãos – a safeword.
E agora, nesse momento, a galera do discurso torto vai aparecer com os mais descabidos argumentos para tentar justificar o injustificável – o não uso da safeword!
Vai ter Top dizendo que “conhece o bottom”, vai ter bottom dizendo que “confia no Top”, vai ter bottom dizendo que “não quer decepcionar o Top”, vai ter Top usando o “uso da safe” como meio de manipulação e assim eu poderia ficar horas e horas aqui dando exemplos, mas a verdade é uma só – bottom somente deve abrir mão da safeword se jogarem em RACK e tiverem muito culhão para dividir a responsabilidade pelo que pode vir a dar errado em uma sessão.
Fora isso, para o meu entendimento de um BDSM saudável, bottom que mal conhece o Top que se engaja num jogo sem a possibilidade de uso da safe, ou bottom que se coloca num lugar tão pequeno a ponto de confiar toda a sua segurança física nas mãos de uma outra pessoa, está sim se engajando naquelas brincadeiras de roleta russa, conhecem? Aquele mesmo onde a gente coloca uma bala no revólver e aperta o gatilho na cabeça aleatoriamente!
Agora falando um pouquinho com os meus pares Tops … companheiros, não sejam essas pessoas! Não usem desse artifício tão perigoso, para manipular suas parcerias de jogo! Por mais que você conheça sua parceria de jogo, o ser humano tem reações e reações e, de repente, aquilo que sempre deu tão certo, naquele dia não vai dar, e você perdeu a “percepção”. Joguem pelo lado seguro da coisa, e tenham certeza de que, pelo menos a boa fama de vocês, nesse quesito, continuará preservada, afinal, cá entre nós, eu e você sabemos que esse discursinho de “na minha Casa não existe safe”, é discursinho red flag não é mesmo? Ah, e outra, não adianta “permitir” que o bottom use a safe mas não construir um ambiente acolhedor que garanta ao bottom a tranquilidade do uso do dispositivo de segurança. Ameaças veladas, comparações desnecessárias, também não são salutares nas nossas relações! Então, me poupe, se poupem e poupem a comunidade desse tipo de coisa!
E para terminar, nunca se esqueçam que a safeword é o principal expediente de segurança dos nossos jogos, o não uso da mesma, faz com que nossos jogos saiam da consensualidade e virem, nada além de relacionamentos abusivos!
Um grande abraço
É bom estar de volta!
Hidratem-se
Sra Storm
AUTORA
SRA STORM
Terapeuta sexual e praticante de BDSM. Sádica e voyeur assumida, suas práticas preferidas são as de caráter mais psicológico porém, se encanta também por práticas como Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!
Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
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Respostas de 3
Já faz uns dois anos que eu escolhi com muito carinho uma safe que uso desde então nas minhas relações BDSM, e sempre que eu passo essa safe pras bottoms que vou jogar eu explico o motivo deu ter escolhido ela. A safe que eu uso é “cuida de mim” .
Antes de usar essa safe, muitas vezes eu sentia que era um peso pra bottom usar a safe por conta da carga de culpa de estar quebrando o clima da sessão, do medo de me desapontar e por aí vai… Quando comecei a usar ela explicando que o significado dela pra mim, eu senti que essa carga “negativa” da safe deixou de existir.
Eu vejo o momento do uso da safe como um momento em que, muito provavelmente, a pessoa está chegando num ponto de vulnerabilidade muito grande, onde é preciso mudar a chave da troca do que estava acontecendo para algo mais acolhedor. Eu pensei, porque não usar a própria safe como um chamado para essa mudança de intenção, por isso escolhi a safe “cuida de mim”.
Olá Quíron, espero que esteja bem .
Fiquei extasiado com sua safeword. São nesses momentos que vemos a arte por trás do BDSM, nesses pequenos detalhes, nas nuances e nos pequenos momentos. Confesso que cheguei, até , a sentir vontade de lhe colocar nos braços e cuidar de você.
Continue com essa essência.
Parabéns
Abraços Doloridos
J
Olá Sra Storm,
Primeiramente quero lhe agradecer pelo texto. É incrível o quanto falamos sobre limites dentro do BDSM e esse assunto nunca se esgota e nunca deixa de ser atual. Gostaria de humildemente corroborar com seu posicionamento contanto um causo que , não uma e nem duas vezes, aconteceu comigo.
Uma das primeiras coisas que alguns vem me dizer, em alguns aplicativos, nem mesmo é um “oi” mas sim : “ E ai, curte sem frescura?”. Um dia quando um usuário do aplicativo me disse isso e eu respondi com uma pergunta : “Você gosta de apanhar com fivela de ferro do cinto ?”. Ele não entendeu muito bem e respondeu que provavelmente doeria muito e, então, complementei : “ Bem, então veja que toda relação precisa de um limite e isso não é frescura.”.
Nesse momento que devemos entender a importância de uma comunidade, ou seja, como a comunidade BDSM. Precisamos urgentemente, assim como este blog por meio da Sra Storm e outros escritores, promulgar e divulgar a importância de se falar sobre limites, SSC, responsabilidades de um dominador e outros mais assuntos. E digo mais, se ter limites é frescura, apoio a #FrescuraSim .
Obrigado pelo conteúdo e estou acompanhando de perto.
Abraços Doloridos
J