Você já olhou para um praticante de BDSM e o considerou meio estranho, sem traquejo social, sem conseguir conversar ou, quando consegue, não consegue manter uma conversa por um tempo adequado, sempre sendo extremamente direto, invasivo em alguns pontos, impositivo do seu ponto de vista sem consideração pelo ponto de vista de terceiros? Essa descrição poderia ser encontrada fácil em muito aplicativo de relacionamento com Tops. Aos olhos leigos, podemos considerar isso, a primeira vista, normal, pois o Top não quer “perder seu tempo” realizando o que na psicologia chamamos de rapport e enquadre (aquela conversa de elevador para quebrar o gelo e a explicação sobre tudo que será realizado). Mas, a partir de hoje quero que vocês olhem com outros olhos e digam: isso é falta de habilidades sociais.
Pois bem, quem é essa tal de habilidade social? Essas senhoras necessárias podem ser definidas como um conjunto de comportamentos sociais adequados em cada cultura que pode contribuir para o desenvolvimento e a manutenção de relacionamentos sociais (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2017). Cada cultura determina o que chamamos de comportamento socialmente aceito. Só para termos um parâmetro: No Brasil é costume beijarmos e abraçarmos as pessoas quando as cumprimentamos e ao nos despedirmos. Nos Estados Unidos e nos países Europeus esta é uma prática não costumeira. Cada cultura vai determinar o quais são seu conjunto de habilidades sociais.
E agora, vamos parar para pensar um pouquinho: quais são os conjuntos de habilidades sociais no BDSM? Nos preocupamos muito, mas muito mesmo, em definirmos um contrato pré-sessão, mesmo que seja falado. Prezamos pela consensualidade em níveis estrondosos, mais ainda do que na nossa vida baunilha. Falamos bastante sobre sermos abertos, francos, assertivos em certo ponto com nosso Top e nosso Bottom sobre aquilo que está nos incomodando. Se estamos em uma D/s Oh Lord Leather, como isso é discutido (ou pelo menos esperado).
O ponto chave aqui é que, em alguns sentidos, cobramos muito mais um comportamento social adequado quando estamos em nosso contexto BDSM do que quando estamos em nossas relações baunilhas? E por que isso? Simples, porque somos ensinados a cobrar isto, diferente de, quando nosso coleguinha na relação baunilha comete um deslize conosco e nós não falamos nada com medo de machucar os sentimos deles. E ainda, os pseudogoodvibes tem a audácia de chamar isso de responsabilidade emocional. Mas adivinha? Muitas vezes estamos sendo omissos à nossas próprias vontades, nossos próprios direitos e as nossas próprias emoções. Voltem alguns meses atrás e acompanhem minha série sobre emoções básicas e se perguntem, quantas vezes, nessas situações, vocês acabam negligenciando suas emoções?
À vezes, temos que incorporar alguns aspectos do BDSM na nossa vida baunilha. Eu sonho com um contrato de sessão em relações de amigos, com os limites e os desejos de cada um e para que eles tenham os meus também, para que estes não cometam um deslize comigo e eu não pise na bola com eles. Isso sim, pessoas fetichistas, que eu chamo de responsabilidade emocional.
Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.
AUTOR:
DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.
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