Hoje vamos falar sobre um estado emocional muito difundido, mas pouco trabalhado de maneira efetiva, principalmente no BDSM: A gratidão! Mas antes disso, vamos saudar o sol, que nos ilumina e nos aquece todos os dias (leia com ironia).

Bom, vamos lá. Afinal, o que é graditão? O dicionário traz duas definições: 1) Qualidade de quem é grato; 2) Sentimento experimentado por uma pessoa em relação a alguém que lhe concedeu algum favor, um auxílio ou benefício qualquer; agradecimento, reconhecimento. Podemos entender a compaixão como um sentimento – ou seja, um processamento racional de uma emoção básica agradável como alegria e amor – que traduz a sensação de agradecimento à alguma coisa ou para alguém. Ouvimos e lemos falar muito sobre gratidão, mas convenhamos? Praticamos essas lindas frases motivacionais que postamos nos status do whatsapp, nas mensagens de bom dia ou nas legendas de fotos do instagram? Certamente não.

A gratidão que praticamos, ou pelo menos achamos que praticamos para com os outros já foi entendida e interiorizada pela grande maioria de nós. Somos gratos pelo que as outras pessoas fazem, somos gratos à Deus (seja ele de qualquer religião), aos céus, aos cosmos; somos gratos aos nossos pais, ao nosso parceiro(a), etc. Mas quando passamos a ter uma autogratidão? Quando passamos a agradecer a nós mesmos e aceitando e nos reforçando pelo que nós somos?

No BDSM em exclusivo, tendemos a agradecer, se gratos ao TOP pela prática realizada, tiramos de nós o nosso papel na participação da cena. Uma cena, uma relação, acontece a partir do momento que temos duas pessoas. Por que só uma leva o crédito? Internamente, temos que agradecer e ser gratos ao que fizemos, ao que resistimos, ao que nos abrimos para novas experiências. Quantas vezes falamos isso? Quantas vezes somos gratos e agradecidos por coisa que nós fazemos.

O que mais consigo ver dentro da cena BDSM são TOPs de egos inflados 24/7 e Bottons que são subjulgados 24 horas por dia, sem autoestima, sem estima, sem autoreforços. Estes, se utilizam do BDSM para reforçar suas crenças negativas sobre si mesmo e os outros. Por exemplo, se eu não tenho estima, logo sou um lixo. Se sou um lixo, logo o meu lugar é sendo subjulgado por alguém que tem mais estima do que eu. Se eu estou sendo subjulgado por alguém com mais estima do que eu, ele é superior. Se ele é superior, eu tenho que ser grato à esta pessoa. Voilá, ciclo completo!

Já escrevi algumas vezes sobre reforços e modos de reforçar a si mesmo e as outras pessoas. Vamos começar a colocar isso em prática?

Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.

AUTOR:

DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.

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Uma resposta

  1. Estou tendo mais contato com o BDSM na prática mais recentemente, a pandemia adiou meus planos. Mas entendo perfeitamente que o comportamento do Top de ego inflado e do bottom subjugado é prática corriqueira. Cabe a todos os BDSMers mudar esta realidade… como sub eu nunca me identifiquei com isso, acredito que os anos de análise – além, é claro, da minha personalidade e amor próprio – me ajudaram nisso. Sim, gosto de ser tratado nas sessões com menosprezo, como se alguém inferior ao Top, me entrego ao meu papel porque me dá prazer. Mas acabada a sessão, volto a ser o meu eu “baunilha, social”. E jamais permitiria ser mal tratado fora de uma sessão – aliás, nem dentro de uma sessão, uma vez que aquilo que me é imposto é previamente combinado.

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