O DILEMA DA DOMINAÇÃO

Olá povo do fetiche, todos bem?

Vamos conversar um pouquinho?

Hoje eu venho trazer uma reflexão, que sempre existiu, mas que percebo que precisamos sempre reavivá-la em nossas mentes … estou falando da distância, que as vezes pode existir, entre nossas personas no BDSM e nossa pessoa física baunilha.

Surpreendentemente essa semana eu recebi uma série de questionamentos de diversas pessoas que me procuraram com a seguinte dúvida “sou uma pessoa supercontroladora na vida baunilha mas me sinto tão bem na posição de bottom, o que há de errado comigo?”

Aqui meus amigos, eu peço que, primeiramente, vocês parem de se machucar dessa forma! Eu entendo que a dúvida sempre será válida, uma vez que ela está acontecendo aí na cabecinha de vocês, mas, de verdade, será que ela é realmente justificável?

Pensa aqui com a Storm …

O BDSM é uma, das inúmeras formas que podemos manifestar nossa sexualidade de forma “dissidente”, ou seja, de uma forma que não seguirá as “regras” e “padrões” do sexo normativo. Só isso já uma portinha entreaberta para que a gente não cometa o equívoco de ficarmos nos aporrinhando com questões desse tipo.

Assim como tudo na nossa vida, todo o processo começa com a aceitação. A partir do momento que aceitamos nossas dores, nossos sentimentos, nossas emoções, nossos erros e, também, a nossa sexualidade, o processo passa a ficar mais calmo, ou pelo menos, menos difícil de entendimento.

Culpar-se, ou tentar estabelecer um paralelo entre a sexualidade baunilha e a sexualidade dissidente (seja ela qual for), é o primeiro passo para o sofrimento.

Nosso comportamento sexual pode ou não seguir características que trazemos da nossa composição como indivíduos, porém, isso nunca foi, e nunca será uma regra.

Muitas pessoas possuem um mindset voltado para a assertividade, para as resoluções de problemas, para o controle em suas vidas baunilhas, seja porque foram assim constituídas como seres humanos, ou por necessidade mesmo. Isso não quer dizer que essa pessoa não possa descobrir prazer em uma sexualidade mais voltada à submissão.

Venho acompanhando pessoas com esse tipo de questionamento há algum tempo, e por observação, eu posso tranquilamente dizer que, essas pessoas que são supercontroladoras e tal, encontram na submissão na esfera sexual, seu refúgio, seu momento de calmaria e até mesmo, o seu eu mais afetivo.

Se eu entrar na questão social, essa autocobrança ainda tende a ficar muito pior para as pessoas que se entendem como bottoms. Sendo você homem, mulher, cis, trans, qualquer que seja a sua orientação sexual, a posição de submissão erótica ainda não é bem compreendida, e está longe de ser aceita.

Se você está passando por esse processo de se descobrir, de se entender, o meu único, e mais valioso conselho para você é – não coloque uma carga ainda mais pesada do que você já vai ter que lidar para se entender.

Descobrir-se BDSMer não é uma tarefa fácil. Não é que um dia a gente acorda, abre a janela e pensa “que lindo dia para me tornar BDSMer”, o processo é longo, é lento e PRECISA ser afetivo.

Não coloque mais caraminholas onde não existe. Entenda que todos somos seres que performamos diversos, inúmeros papéis sociais, e não necessariamente todos eles se conversam.

Você pode ter uma postura agressiva no trabalho, e ser muito mais complacente com seus familiares, como pode tomar as rédeas da sua família e na sua vida sexual tendenciar para uma postura mais voltada à submissão, e está tudo bem!

E aqui, eu vou um pouco mais além, você também pode se entender como uma pessoa heterossexual no baunilha, e no BDSM se sentir atraído/a/e / compelido/a/e a fazer uma sessão com uma pessoa do mesmo sexo que o seu. Assim como você pode ser um homem gay e ter a intenção e vontade de fazer uma sessão com uma mulher, seja ela hetero, bi, pan, ou qualquer coisa que ela se entenda!

O BDSM é um espaço de diversidade e assim deve ser entendido. O BDSM nasce de uma necessidade de acolhimento de comunidades que estavam espalhadas e precisaram se agrupar para ganhar força.

Devemos acolher todas as expressões que se entendam dentro de espectro kink, arromantico, assexual, SM, Leather e assim por diante, porém, para que possamos acolher essas pessoas e suas subjetividades, não podemos nunca esquecer de nos acolhermos antes!

Então meus queridos fetichistas, respirem aliviados/as/es! Vocês podem sim ser bastante “dominantes” em suas vidas e completamente submissos/as/es em suas sexualidades.

O ser humano é uma caixinha de Pandora! Não deixem suas caixinhas fechadas!

E se precisarem de ajuda, só me procurar!

Hidratem-se
Usem camisinha
Sra Storm

AUTORA

SRA STORM

Terapeuta sexual e praticante de BDSM. Sádica e voyeur assumida, suas práticas preferidas são as de caráter mais psicológico porém, se encanta também por práticas como Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!
Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.

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