Olá povo do fetiche, como vocês estão? Espero que todos muito bem e com as cabecinhas no lugar!
Hoje vou trazer um assunto pouco abordado nas nossas rodas de conversas: o custo inerente à prática da nossa dissidência sexual.
Então, já sabem né? Cafezinhos nas mãos e acomodem-se …
Quando a gente fala de BDSM automaticamente vem uma imagem na nossa cabeça. Sem o juízo de valor de se a imagem é correta ou não, podemos sempre colocar nessa imagem, roupas de couro, látex, floggers, chicotes, sapatos de salto alto para nós Dommes, maquiagem foda, cabelo impecável, algemas, acessórios e mais acessórios e por aí vai … quanto mais repertório a gente tiver a respeito do assunto, maior detalhamento vem na nossa imaginação!
Até aqui, tudo bem! OK!
A pergunta que eu faço agora é: e quem paga a conta de tudo isso?
Desde o café que a gente precisa marcar para conhecer a pessoa com quem temos intenção de jogar, até o último detalhe do aftercare, tudo no BDSM existe um custo! Quando falamos de jogos entre pessoas que são de localidades diferentes então … vai colocando cifrão nesse recibo aí …
Houve um tempo, que existia um “entendimento” de que, Tops que jogavam com bottoms de outros estados (ou cidades) deveriam arcar com os custos das despesas de locomoção e hospedagem desse bottom.
Eu não sei vocês, mas eu sinto um cheirinho de patriarcado nesse discurso … daqueles cheirinhos que atacam até a minha rinite!
Mas por um outro lado, olhem só … esse discurso reforça muito aquela idealização do “Top protetor” não é mesmo?
Voilá! Por isso ele ainda existe!
Sejamos racionais?
Estamos falando de duas pessoas adultas, que possuem compromissos financeiros, que passam perrengues e que, via de regra, moram no Brasil de 2022!
Achar que vai encontrar o Top Christian por aí perdido nesse mundão de meu Deus, é muito provavelmente se frustrar!
Está todo mundo pelo seus corres, então, que tal utilizar o momento da negociação para trazer o assunto à tona?
Não entendo o motivo de algumas pessoas ainda acharem que na negociação se fala somente sobre práticas, limites e Aftercare! Negociação é para falarmos de tudo! Absolutamente tudo!
Se você conheceu um Top pelas redes sociais, houve a aproximação e há o interesse de jogo, já no começo da conversa marcam um café para se conhecerem, deixe claro que as custas desse café não é encargo somente do Top! Top não é caixa forte de banco! Assim como bottom, não é ser em estado de necessidade e vulnerabilidade!
Precisamos perder a vergonha de falar sobre dinheiro!
Até mesmo porquê, depois desse café, vem o dia do jogo, vem o custo do motel, vem os acessórios usados no jogo, vem o custo do aftercare e por aí vai …
O Top não é obrigado a ter todos os brinquedos do mundo, assim como o bottom também não é desobrigado de ter os seus!
Se existe um brinquedo específico que o bottom goste, compre! Tenha! Leve, brinque e volte pra casa com ele!
“ah Sra Storm mas eu quero dar um presente para o Top” TUDO BEM! Desde que você não se endivide para agradar o outro! Nada de fazer um carnê das Casas Bahia com 48 parcelas, só porque o Top viu um chicote com tiras de couro de lhamas albinas trançadas pelos monges tibetanos! Pára de loucura!
Quer agradar? Todo mundo pode ter esse desejo, tanto o Top, quanto o bottom! Mas entendam que esse agradar, precisa necessariamente caber no seu orçamento!
Mesma coisa com o motel …
Vocês irão a motel para jogar? Acertem antes de entrar, como será feito o pagamento desse custo! E se eventualmente for um lugar que esteja muito além de suas possibilidades financeiras, fale! Seja sincero/a/e! Se você estiver jogando com uma pessoa decente, eu aposto todo meu reinado com você, que isso não será um problema!
BDSM é sim uma dissidência erótica que precisa de investimento, seja ele em maior ou menor grau. Vejam, eu não estou aqui dizendo que se você não tiver rios de dinheiro você não joga, não é isso! As pessoas não precisam realmente ter brinquedos caros, basta uma ida a uma loja grande de departamento que as nossas cabecinhas sujas conseguem ir longe … e mesmo assim, a não ser que você faça a Winona Rider, você não vai colocar uma colher de pau na bolsa e sair sonsamente da loja, não é mesmo?
A questão não é se você gasta 30,00 ou 3.000,00 para bancar o seu jogo, a questão aqui é que, BDSM envolve sim dinheiro! E quando envolve dinheiro de mais de uma pessoa, a gente não pode simplesmente manter o assunto na caixinha dos tabus!
Mapeiem todos os gastos, vejam o que vocês entendem ser como gastos estritamente pessoais (como manicure, depilação, roupas etc), entendam os valores dos brinquedos que se intentam comprar, verifiquem valores de preservativos, óleos, velas, motéis, traslado, hospedagem, tudo tudo tudo, coloquem na ponta do lápis e na hora da negociação, vejam qual será o share de cada um!
De novo, ninguém precisa se endividar para jogar BDSM, mas também não pode vir pra cá achando que todas as custas partem de somente um lado do jogo!
E para alinhavar meu raciocínio de hoje, vou deixar aqui dois recados:
📌 Para as moçoilas que acham que “não deixar o homem pagar a conta” é exercício de feminismo, meu recado é: estudem! Ser feminista não está em não aceitar ser paparicada vez ou outra! Você merece ser paparicada, inclusive! Agora, se você está pagando algo e se endividando por causa disso, saiba que você está fazendo exatamente o que patriarcado quer: tirando sua potência!
📌 Para os moçoilos que ficam todos ofendidinhos quando uma mulher lhes presenteia por achar que elas estão “lhes comprando”, saibam que esse pensamento é somente reflexo de como você encara a situação! Se você acha que uma mulher te presentear é te comprar, é porque de duas uma, ou você a presenteia com essa intenção, ou você reproduz discurso patriarcal que acredita que a mulheres não podem nunca serem provedoras! Vocês escolhem!
Ah … e para não esquecer: tudo isso que acabei de falar não cabe em negociações de money slavery e de negociações com Prós, hein? Esse é um outro universo apartado! 😉
Um excelente final de semana!
Hidratem-se
Masturbem-se
Sra Storm
AUTORA
SRA STORM
Terapeuta sexual e praticante de BDSM. Sádica e voyeur assumida, suas práticas preferidas são as de caráter mais psicológico porém, se encanta também por práticas como Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!
Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
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