Olá povo do fetiche, vocês estão bem?
Hoje eu venho prontinha para conversarmos sobre um dos assuntos mais controversos que existe no BDSM, até porque o povo adora uma polêmica desnecessária não e mesmo?
Então, pegue seu cafezinho e vamos falar sobre Switchers, ou somente SWs, como chamamos por aqui.
Mas antes de começar, eu gostaria de colocar uma frase inicial para que vocês consigam ter um norte de tudo que falarei aqui … “eu estou no BDSM, portanto, eu sigo as regras do BDSM”, essa frase me ajudou muito a pensar e desenvolver meu entendimento sobre esse assunto!
Ou seja, dentro do BDSM nós temos a “posição NO jogo” e “posição DE jogo” sendo que, a diferença entre as duas é quase simples de entender.
A posição NO jogo, diz respeito às duas posições que o jogo do BDSM nos oferece, ou seja, posição hierárquica, “mandante x mandado”, “dominante x dominado”, “acima x abaixo”. Essas são as possibilidades das duas casinhas que existem no tabuleiro do jogo, nada tem a ver com as pessoas que jogam.
Já a posição DE jogo, diz respeito às características dos jogadores dentro do tabuleiro, ou seja, diz respeito aos perfis de cada jogador e os papéis que eles performam no jogo do BDSM.
E aqui, é que entram os SWs uma vez que, nos nossos jogos, existem as pessoas que reconhecem prazer na posição de quem manda, outras reconhecem prazer na posição de quem recebe a ordem, e ainda há quem, sem prejuízo nenhum de suas personas, reconhece, prazer tanto em mandar como em obedecer. E é por isso que eu, Sra Storm, quando vou conversar a respeito desse assunto, sempre digo que, a minha posição DE jogo do BDSM é a de Top, pois eu somente reconheço prazer na posição que está no controle, e requisitando obediência.
Tendo exposto esse meu entendimento, vamos continuar o texto com “no jogo do BDSM encontramos 3 possibilidades de posição no jogo – Top, SW e bottom”.
Em linhas gerais e bem racionais, diferente do que muita gente prega por aí, os SWs não são pessoas confusas, irresponsáveis, ou até mesmo descompromissadas com o BDSM, muito pelo contrário, SWs são pessoas que já se conhecem o suficiente para saber que conseguem encontrar sua satisfação erótica tanto na posição de dominante, como na posição de dominado.
Isso deveria ser simples não é mesmo? Mas sabemos que não é!
A posição de jogo “SW”, é uma das posições que mais sofre estereotipagem e preconceitos dentro do BDSM, e, como já conversamos algumas vezes, tanto o estereótipo como o preconceito, são somente frutos da ignorância e da falta de boa vontade em expandir o conhecimento.
Se uma pessoa diz que consegue ter prazer tanto como Top como bottom, quem somos nós para questionar, ou até mesmo julgar essa pessoa?
Até por que, se a gente for ser bem honesto, concorda que essa pessoa já está a pelo menos um passo à frente de muitas outras? Pensem comigo, todas nossas dissidências foram sendo descobertas ao decorrer de nossas vidas, concordam? Eu não conheço ninguém que um dia tenha acordado e pensado “poxa que legal, eu gosto de apanhar! Uhuuuu!”, ou alguém que tenha um dia, se olhado no espelho e dito “caracas, eu sinto um puta tesão em mijar nas pessoas! Zerei a vida!” nunca é simples assim, então, uma pessoa que conseguiu se permitir experimentar os dois lados do chicote, tem a consciência de que tem prazer nas duas pontas, é sim uma pessoa que está anos luz à frente de muita gente que não tem coragem de se assumir SW!
Agora vamos tentar desconstruir os 04 maiores tabus sobre SWs, com base no que eu, Sra Storm, entendo dessa posição e dos SWs que convivem comigo …
TABU 1 – SW NÃO EXISTE
O que não existe é a sua falta de abrangência cognitiva meu bem!
SWs existem, existem sim! e estão aí para nos provar todos os dias que no cinza, existem muito mais do 50 tons!
TABU 2 – SW NÃO É TOP NEM BOTTOM, OU SEJA, NÃO EXISTE
Pois é, SW não é Top nem bottom mesmo, SW é SW! e se ele vai jogar como Top ou como bottom, isso é uma decisão dele, de acordo com o interesse dele naquela parceira de jogo, ou seja, quem decide que posição de jogo ele ocupará naquela determinada partida, é ninguém menos do que ele! Não sou eu, nem é você, é o SW!
TABU 3 – NINGUÉM PODE DOMINAR E SER DOMINADO AO MESMO TEMPO
Você assovia e chupa cana ao mesmo tempo? Não né? Então por que você acha que a pessoa faria tudo ao mesmo tempo? Ah sim, porque julgar a dinâmica da pessoa sem conhecer é mais fácil né?
Não existe nada, do ponto de vista de dinâmicas, que impossibilite o SW de estabelecer uma relação com uma pessoa na posição de bottom, e com outra pessoa na posição de Top. São duas pessoas diferentes, são dois tabuleiros diferentes, duas dinâmicas diferentes, simples! Se todos os jogadores estão devidamente negociados e acordados com os termos, acho bastante desnecessária a validação externa.
TABU 4 – TODO MUNDO É SW!
Se você pensa assim, você também deve achar que todo mundo é pansexual não é mesmo?
Consegue perceber que não tem nada a ver? As pessoas se descobrem durante suas caminhadas, algumas delas provam porque querem saber como é, e não tem absolutamente nada de errado nisso! Dessa prova, umas pessoas se reconhecem, outras não, e está absolutamente tudo bem, tudo como realmente deveria estar!
O processo de autoconhecimento, é um processo que se faz sentado, porque de pé ele cansa, então, se a pessoa foi lá, provou, refletiu, internalizou que reconhece prazer nas duas posições no tabuleiro do jogo, não há mais nada o que se questionar!
O SW é sim, a pessoa que gosta de transitar dentro do tabuleiro, e não tem absolutamente nada de errado com isso, absolutamente nada!
“Ah Sra Storm, o SW precisa necessariamente se identificar numa posição preponderante?” De verdade? Precisar ele não precisa, afinal, ninguém precisa de nada, porém, minha caminhada vem me mostrando que com o passar do tempo, o SW costuma se acomodar sim em uma das posições, e é essa que ele tem certa preferência para se posicionar “perante a comunidade”, sendo que, esse posicionamento de uma posição, não prejudica em absolutamente nada a segunda persona, ela continua lá, sentadinha, esperando a hora dela brilhar!
Outra coisa que sempre me perguntam é qual a dificuldade em se assumir SW e pronto. E aqui meus queridos, é uma opinião 700% minha, ok? Não estou dizendo que essa seja a verdade! Porém, eu consigo sim entender que o peso de uma sociedade machista e patriarcal, e por consequência um BDSM com as mesmas características, dificulte um pouco ao indivíduo a se reconhecer como SW, principalmente os homens Tops.
Nós vivemos em uma sociedade que ainda acha que o homem fazer sexo anal é sinônimo de o homem ser gay … agora pega esse pensamento pequeno, machista e homofóbico e transporta para o BDSM – um ambiente inóspito e levemente bélico – vocês acham mesmo que um homem hetero cis, que já ocupa uma “posição dominante”, vai reconhecer e se reconhecer facilmente na posição de também ser saciado na posição de dominado de forma clara e tranquila?
Obvio que não né? Tanto que vocês podem reparar, a predominância de SW no BDSM, são mulheres.
Mas eu aposto todo o meu reinado com cada um de vocês, que tem muito, mas muito homem que também tem prazer em ser dominado, em ser conduzido, em simplesmente se deixar levar!
Eu particularmente acho afrodisíaco demais um ser humano que tem capacidade de reconhecer seus fetiches e está de boas com ele, de verdade, isso me dá um tesão absurdo! Mas isso sou eu né? Uma Top sádica que já experimentou o outro lado do chicote, e não se reconheceu ali! e está tudo bem, afinal, eu me permiti! E antes que alguém venha com um comentariozinho machista escroto, lembre-se, eu sou pansexual! Se tem uma coisa que eu sei reconhecer bem, é o que me dá e o que não me dá tesão!
Se você chegou até esse momento do texto e acha que aí dentro tem alguma coisinha que você gostaria de experimentar dentro do BDSM, mesmo que essa coisinha não siga efetivamente o “padrão” estereotipado da sua posição no jogo, meu conselho é – SE PERMITA!
Tenham um excelente final de semana!
Hidratem-se
Sra Storm
AUTORA
SRA STORM
Terapeuta sexual e praticante de BDSM. Sádica e voyeur assumida, suas práticas preferidas são as de caráter mais psicológico porém, se encanta também por práticas como Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!
Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
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Uma resposta
Muito interessante o texto! Eu penso que o SW é um sortudo, pois consegue ter prazer aproveitando ao máximo o jogo, tal qual um gay versátil – já que é pra descer pro play, por que não brincar com tudo, não é mesmo?
Mas, cada um sabe o que causa prazer e excitação. Eu, por exemplo, não tenho prazer em dar ordens, só me identifico como sub. E, no meu caso e depois de muita análise, entendo que é por estar numa posição totalmente antagônica à que exerço no meu dia a dia “civil”. Mas o que serve pra mim não precisa servir para os outros.
O maior recado é mesmo o que encerra o texto: permita-se! Se experimentar e não gostar, não precisa fazer novamente. Mas não se privem de tentar, vai que a prática desperte uma sensação boa…