Nas últimas semanas discutimos, longamente sobre as emoções básicas que temos em nosso repertório básico. A partir dela, assim como fazemos com giz de cera quando criança, conseguimos mesclar e criar cores e novas experiências. Com as emoções, quando misturamos uma emoção com a outra, criamos o que chamamos de emoções secundárias, como é o caso da Saudade. Ao sentirmos saudades, sentimos a dor e a reflexão típica da tristeza, mas o quentinho no coração, mesmo que aperto do amor. Para crianças, gosto de explicar que a saudade é a filha do amor com a tristeza que carregam características dos dois. Afinal, não sentimos saudades de algo que não gostamos/amamos.
Mas também podemos misturar nossas emoções com outras coisas: nossos pensamentos, nossas memórias, nossas experiências passadas. É uma mistura mais complexa, delicada, tão difícil quanto a confeiteira francesa. Quando bem misturada: sucesso! Quando mal misturada: Fracasso total, um horror. Ao resultado dessa mistura, damos o nome de sentimentos.
Para resumir o processo e recapitularmos: emoções são os processos básicos que são inerentes do nosso corpo. Temos, em nossas definições de fábrica: amor, alegria, medo, nojo, tristeza e raiva. Já os sentimentos são, estas mesmas emoções, misturadas com a nossas experiências. Vamos aos exemplos práticos. Eu me debruço sobre a janela, logo, meu cérebro processa o medo e me faz afastar da janela. E quando esse medo tem a ver com situações sociais onde não há nenhum compromisso com o perigo de vida? Quando esse medo é desencadeado por lembranças anteriores e pensamentos? Podemos chamar esse medo agora por outros nomes: Ansiedade, Apreensão, Vergonha, Timidez. Entenderam como funciona?
São infinitas opções de como nosso cérebro pode misturar nossas emoções com memórias anteriores e também com pensamentos que surgem na hora para formar nossos sentimentos. Isso nos torna único. Isso nos remete à nossa capacidade de lembrar de experiências passadas que vivemos com outras pessoas e reagimos de formas que só nos reagimos. É aqui que separamos o shoyo do trigo. É aqui que está o problema!
Por conta da nossa história de vida – e aqui já discutimos longamente sobre a influência da nossa vida, das nossas experiências nos nossos pensamentos anteriores com a nossa vida atualmente – formamos esquemas emocionais únicos. É isso que separa o que o frio na barriga pode ser delicioso para uns e desesperador para outros.
Agora vamos para o nosso querido, amado e doloroso BDSM. Quantas experiências tivemos que foram boas? Quantas tivemos que foram completamente desastrosas? Quantas emoções boas tivemos em uma prática que, não tínhamos nada por esperar? Mas, podemos ter sensações desagradáveis ao experiências novas coisas. Misture tudo isso com seus pensamentos, medos, anseios, sua vida anterior (o papel dos seus pais na sua vida, o que eles disseram, aquela professora da escola, o primeiro namoradinho, aquele seu parente tóxico, sua vó bondosa, a crença que você foi criado). Quão louco é isso?
O BDSM por si só é um convite para desafiarmos tudo isso que escrevi nas linhas acima. Ao entrarmos no submundo do BDSM, temos que nos despir da nossa vida baunilha para entrar em um novo mundo. Por isso o papel da persona é de suma importância. Se eu entro em uma sessão com a cabeça, com os medos e os pensamentos baunilhas com quem eu fui criado a minha vida toda, a chance de ter uma experiência desastrosa é ainda maior. Pensem menos, transem mais.
Mas, para isso acontecer vamos precisar de pensar antes de transar. Precisamos ter confiança nas pessoas que estamos nos envolvendo, para podemos nos entregar por completo e aproveitar tudo o que a experiência tem que nos promover. Pense menos, transe mais. Mas antes de transar, sinta, confie, entre. Mas sinta, confie, entregue baseado em evidências. O que isso quer dizer? Veja o que o ambiente está querendo nos dizer. Algumas vezes, nossos pensamentos estão equivocados, temos que dar o seu devido crédito aos nossos pensamentos e as nossas emoções, porém, com cautela.
Se persistirem os sintomas, procurem o terapeuta mais próximo.
AUTOR:
DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.
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Uma resposta
Infelizmente nem sempre experimentamos somente sensações boas… quem nunca passou por uma experiência que era pra ter sido boa e se tornou um fracasso? Faz parte da nossa vida, e nos ajuda a amadurecer desde que tenhamos sabedoria para lidar com estas sensações, utilizando-as de forma a crescer (e evitá-las), mas não de nos amargurar indefinidamente.