Olá povo do fetiche, todos bem?
Não se assustem, hoje não é nem terça nem sexta, hoje é domingo sim, e eu estou invadindo a coluna alheia …
Eu estou desde segunda feira, depois do texto do meu crush Dr Psi, matutando sobre a questão dos estereótipos dentro do BDSM.
E hoje, é sobre isso que eu quero conversar com vocês …
Calma que eu não vou contestar o texto em si, em seu conteúdo, que inclusive está muito bom, se você ainda não leu, sugiro ir lá, ler e depois voltar aqui.
O meu desenvolvimento hoje vem muito mais num questionamento do status quo, do que de outra coisa.
Quem me acompanha sabe que eu tenho um compromisso bastante forte no sentido de “humanizar” as relações do BDSM. Eu não gosto desse discurso do Top perfeito, ou do bottom frágil, simplesmente porque eu acredito que isso traz consigo, inúmeros problemas comportamentais dentro do BDSM.
Por outro lado, temos algumas “características” inerentes a cada uma das posições, isso é inegável.
Sempre falamos que o Top tem que ter o controle de sua vida para, somente assim, intentar controlar a vida de outro ser humano, e aqui, eu quero fazer uma pergunta – o que vem a ser efetivamente esse controle?
Durante essa semana, conversei com vários bottoms na tentativa de entender o que eles esperam que o Top tenha de tão “acertado” assim que, em hipótese contrária, faria com que eles perdessem o interesse. E olhem só, muitos e muitos bottoms me responderam “ah o Top não pode ter medo, não pode ser inseguro, tem que ter uma excelente autoestima” teve uma pessoa que me disse inclusive, “eu tenho que ter certeza que o Top nunca vai errar”. Outro me usou como exemplo e disse “veja a Sra, Sra Storm … a Sra é a mulher mais confiante que eu conheço, eu não consigo imaginar a Sra tendo alguma dúvida de si mesma!”
Choquei!
E depois de rir (de desespero) por mais de 10 minutos eu respondi “pequeno, você está enganado em tantos níveis, eu sou só mais um ser humano, normal, como qualquer outro”
Só que, depois de conversar com esses bottoms eu fiquei pensando … o buraco está muito mais embaixo do que a gente pode imaginar, por que não estamos mais falando de estereótipos não é mesmo? Estamos falando de uma condição irreal que Top nenhum, nunca, poderá atender.
E não poderão atender simplesmente porque não existe absolutamente ninguém, repito, NINGUÉM, que não tenha um dia ruim, que não tenha seus medos, suas inseguranças, suas falhas.
Precisamos parar imediatamente de colocar as relações BDSM apartadas das relações humanas, precisamos urgentemente tratar o BDSM, como ele é – uma forma de expressão da nossa sexualidade!
E percebam que quando eu coloco o pronome possessivo “nosso” eu estou falando de nós, seres humanos, assertivos, mas muitas vezes também falhos.
A linha entre humanizar e abaunilhar o BDSM é muito tênue, eu concordo, mas penso também que “desumanizar” o BDSM, desprezando características que são inerentes a qualquer ser humano, pode perpetuar uma subcultura fria, violenta e até porque não dizer, abusiva!
Bottoms não são flocos de neve indefesos, da mesma forma que Tops não são super-heróis.
Quando se entende a posição de Top como a posição de um “semi deus” coloca-se em nossos ombros, responsabilidades e fardos, muito maiores do que a posição em si já nos impõem. Nós sentimos dores, dissabores, momentos de dúvidas e todos os outros sentimentos que um ser humano tem.
E eu não estou falando também, que um Top tem que chegar e vomitar toda suas mazelas em cima de seu bottom, como se esse tivesse a obrigação de “resolver” tudo, pra isso eu sempre recomendo a terapia, mas você bottom, não entre em uma relação BDSM achando que seu Top nunca terá um problema “normal” assim como você, ou você irá sempre se decepcionar.
Se estereotipar o Top com alegorias externas como o couro, o salto alto, a maquiagem sempre impecável, já é complicado, imaginem juntar toda essa estereotipagem a uma pessoa que não está permitida sentir a vida? Foda né?
E para terminar a coluna de hoje, eu tenho uma pergunta bem sincera para vocês bottoms que me acompanham – vocês estão preparados realmente para ter uma relação com um ser humano na posição de Top? Ou a sua idealização de Top é realmente a de um super herói que você criou no seu imaginário?
Hidratem-se
Sra Storm
AUTORA
SRA STORM
Terapeuta sexual e praticante de BDSM. Sádica e voyeur assumida, suas práticas preferidas são as de caráter mais psicológico porém, se encanta também por práticas como Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!
Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
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Uma resposta
É importante entender e aceitar que pessoas são pessoas… com medos, inseguranças, com toda a bagagem emocional acumulada ao longo da vida. Claro, numa sessão incorpora-se um personagem que não demonstra (ou demonstra de proposito) estes sentimentos. Mas a vida real é construída por pessoas reais. Fugir à realidade é muito bom, libertador! Mas imaginar que aquela persona é a pessoa no dia a dia é ilusão.