Olá danadinhos e danadinhas, vocês estão bem?
Hoje eu vou propor o desenvolvimento de um pensamento junto com vocês, no sentido de esclarecermos o(s) motivo(s) das negociações dentro do BDSM, se desenvolverem de forma horizontal.
Então, cafezinho na mão e bora lá?
Para começar a desenhar esse raciocínio, eu quero frisar que eu, Sra Storm, entendo que o BDSM é uma manifestação/exercício de um fetiche de troca de poder, ou seja, uma pessoa que detém o poder (no caso, o bottom), transfere esse poder para outrem (no caso, o Top), desenhando assim, um cenário de jogo onde o Top passa a ter a liberdade de tomada de decisão no que tange aquele poder transferido. Isso faz com que uma parte domine o poder, e outra parte se submeta a essa dominação, criou-se então, uma relação vertical de poder.
De novo, isso é o que eu entendo como BDSM!
Continuando …
Para dar continuidade no raciocínio, eu vou puxar aqui na narrativa, uma característica do Direito, muito presente dentro do Direito Trabalhista, uma vez que, o Direito Trabalhista, é o que mais evidencia uma relação de poder explícita.
Dentro do Direito Trabalhista, quando a gente pensa no empregador, a gente automaticamente visualiza uma pessoa que está numa posição hierárquica acima do empregado. Até mesmo porquê, o empregado está ali “vendendo” sua mão de obra.
Enfim, Marxicismos à parte, a relação trabalhista, por ser uma relação de hierarquia vertical, não é por si só, uma relação de forças iguais.
Para equilibrar essa diferença de forças, no Direito temos um expediente chamado “princípio da isonomia” que nada mais é do que o princípio da igualdade sendo equalizado.
Para o Direito “todos os seres humanos são iguais perante a lei”, o princípio da igualdade reconhece que os seres humanos não são todos iguais devido à diversos fatores e que, à medida que precisamos tratar todos com igualdade, ou seja, provendo os mesmos recursos de direito à todos, precisamos tratar iguais com igualdade, e desiguais com desigualdade, dando portanto, aos desiguais ferramentas para se tornarem iguais.
Do ponto de vista funcional, isso nada mais é do que aplicar sistemas de equidade que possam resultar na igualdade.
Vocês podem estar se perguntando o que isso tem a ver com o BDSM, não é mesmo?
Pois bem, considerando que o BDSM é um “jogo de poder” onde existe uma hierarquia claramente vertical, o personagem de jogo Top, quando detentor do poder, já está em um patamar superior de alguns privilégios, quando comparamos aos personagens de jogo bottoms, que são os personagens que estão na posição de submissão.
Veja, isso não é um discurso de Red Flag, isso é a constatação de uma das características do jogo!
Enquanto seres humanos, somos todos iguais. Enquanto seres performando seus papéis dentro do jogo BDSM, não somos. E está tudo bem!
O BDSM também é um jogo de consentimento, isso quer dizer que, ninguém é obrigado a estar engajado nele! Porém, quem se engaja, precisa saber das regras que o compõem.
Quando você jogador da posição bottom, está numa interação BDSM, seja ela uma avulsa ou até mesmo um regime de escravidão, você não está em pé de igualdade com o jogador da posição Top, aqui, nesse momento, “você é o empregado vendendo sua força trabalho para o empregador”
Existe um momento porém, dentro de toda essa interação, onde você jogador da posição bottom PRECISA estar nas mesmas condições de força do jogador da posição Top. E esse momento é a negociação!
E é também, por esse motivo, que a gente insiste tanto no discurso de que a negociação deve ser feita sem que haja nenhum viés de dominância, ou seja, a negociação deve ser feita entre as pessoas físicas, e não entre as personagens criados para o jogo do BDSM.
E vou além, esse princípio da isonomia DEVE ser aplicado durante toda a sua vida dentro do BDSM!
Você personagem na posição bottom, NÃO TEM OBRIGAÇÃO de chamar nenhum personagem Top de Sr ou Sra, se não se sentir à vontade pra isso! Nenhum personagem Top “manda” em nenhum personagem bottom, sem que exista antes, um acordo firmado.
Ah Sra Storm, mas se é assim? Qual o motivo da Sra ter focado no momento da negociação?
Simples, porque quando uma negociação se inicia, o comportamento mais comum que presenciamos no dia a dia, é o personagem Top já achar que tem “direitos” sobre o personagem bottom e começar com “pequenas” ordens, como monitoramento de DM de insta, monitoramento de caixa de mensagem, monitoramento de conversas, e algumas outras coisinhas.
Isso não existe! Simples assim!
Até o momento que o acordo foi firmado, e que você, personagem bottom do jogo não tenha deixado tudinho às claras, não existe relação de poder!
Agora a pergunta de um milhão de dólares: qual o motivo de se manter a isonomia entre as partes, em todos os momentos, mas principalmente durante a negociação?
Para que vocês, que irão jogar na posição de bottom, não se sintam de forma nenhuma ameaçados a consentir em algo que vocês não tenham realmente interesse, por medo ou até mesmo “pressões” advindas da posição que está do outro lado.
Quando são duas pessoas físicas conversando, fica mais fácil de reconhecer algumas manipulações, sem que haja o questionamento se aquele comportamento é ou não, característica da posição!
Espero que esse raciocínio tenha ficado claro e, se vocês quiserem ponderar, ou tiverem interesse em discutir sobre o assunto, estou à disposição.
Um abraço
Hidratem-se
Sra Storm
AUTORA
SRA STORM
Terapeuta sexual e praticante de BDSM. Sádica e voyeur assumida, suas práticas preferidas são as de caráter mais psicológico porém, se encanta também por práticas como Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!
Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
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