“Você tem que ir onde o seu desejo está – Francisco Bosco, 2020”
Olá povo do fetiche, como vocês estão? Espero que todos muito bem!
O texto de hoje foge do senso comum de falar do ‘aqui’ e vem trazer os meus pensamentos sobre o ‘ir além’.
Uma puta viagem minha, Sra Storm? Até pode ser! mas eu te convido para me dar a mão e viajar comigo, e no final do texto, você me diz se fez algum sentido para você! 😉
Muitas vezes, quando eu ainda pensava sobre esse tema em particular, eu me perguntava de onde vem esse desejo? Ou ainda, para onde esse desejo me levaria? E a resposta nem sempre foi simples.
Quantas vezes cada um de vocês que está aqui lendo agora esse texto, já se perguntou, “por que BDSM?”, “por que eu gosto de bater nas pessoas?”, ou e até mesmo, aos submissos masoquistas, o bom e velho questionamento “por que eu gosto de apanhar?”, “como eu posso gozar apanhando?” … e por aí, os questionamentos certamente aconteceram.
E essas, meus amigos, são perguntas que podem parecer fáceis, mas me acreditem, não são!
Reduzir o BDSM somente ao estudo das práticas, ou pensar somente no BDSM na esfera erótica, é pouco e é raso! Porém, levar o BDSM à alma, é ir longe demais!
Viver em BDSM não exclui estudar a vivência em si! Mas onde então, está o equilíbrio?
O equilíbrio está no desejo! Desejo esse, que de Platão à Freud, sempre foi objeto de estudo.
Eu gosto de entender o desejo como o meio do caminho entre onde estamos e onde queremos chegar, sendo esse, uma eterna caminhada sem fim.
Alguns estudiosos conceituam o desejo como a busca de algo que falta. Eu particularmente não concordo com essa fala.
Na minha opinião, o desejo não vem de fora, mas sim de uma força motriz interna e, por esse motivo, o melhor lugar para nos colocarmos, é onde o nosso desejo está.
Queremos sempre mais, queremos sentir mais, viver mais, experienciar mais, e não necessariamente, precisamos ter um lugar a se chegar, simplesmente porque não precisamos ter uma linha de chegada! Isso não é a “Desires Race”!
Aqui, a questão que remanesce porém é, o quanto você se anula/ou se manifesta para fazer com que seu desejo exista?
Quantas vezes você se cala para caber numa sociedade que você acredita que representa o seu desejo?
Quais os papéis que você performa para estar inserido nessa “sociedade representativa” do teu desejo?
Se reconhecer BDSMer, é antes de qualquer coisa, reconhecer o SEU desejo. E para isso, é necessário ser sempre fiel às suas motivações e crenças.
Se você acredita que pode fazer parte de algo, nadando na beiradinha do mar, tudo bem! Procure pessoas com níveis de expectativas iguais e seja feliz!
Se você acredita que precisa de mais, que precisa ir até mar aberto, associe-se à pessoas que podem te dar esse nado até lá.
Se você acha que para uma sessão ser perfeita você precisa de roupas e acessórios caros, invista seu dinheiro!
Se você acha que com pouca roupa (ou nenhuma), um lenço, um cinto, uma vela e um strap on, o seu desejo será alimentado, procure quem lhe ofereça essa refeição.
Não existe regra, não existe receita, não existe bula que vá te ensinar a ser um bom participante!
Mas existe sim, o RESPEITO! Respeito pelos seus desejos e por suas opiniões.
Qualquer pessoa que tente calar os seus desejos ou a sua voz, não é uma boa pessoa para se estar por perto! Lembre-se sempre disso!
É muito importante lembrar também que, o desejo do outro, nem sempre será igual ao teu, e isso, merece respeito também, nunca se esqueça que o seu direito vai até onde começa o do outro.
O mais importante dessa viagem, é parar, respirar, você se entender, entender essa força de desejo que existe dentro de você, entender o que você precisa para chegar até onde o seu desejo será satisfeito.
E somente assim, você poderá ser feliz!
Agora eu largo a sua mão e te peço para refletir se esse texto lhe fez sentido, e principalmente, para você, que me acompanhou até aqui, passar os olhos pelo seus desejos e verificar se você está realmente os vivendo, ou se você está adequando os seus desejos, aos desejos de outras pessoas!
Um excelente final de semana, e até semana que vem!
“Quando você não sabe onde o seu desejo mora, você já perdeu o contato com ele – Emicida, 2020”
Hidratem-se
Sra Storm
AUTORA
SRA STORM
Terapeuta sexual e praticante de BDSM. Sádica e voyeur assumida, suas práticas preferidas são as de caráter mais psicológico porém, se encanta também por práticas como Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!
Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
CONSENTIMENTO – QUANDO O COMBINADO NECESSARIAMENTE CUSTA CARO!
O PRINCÍPIO DA ISONOMIA DO DIREITO E AS NEGOCIAÇÕES DO BDSM
O SADOMASOQUISMO, A INGLATERRA, O CONSENTIMENTO
E COMO ISSO NOS IMPACTA
BDSM A 3! OU A 4, NUNCA SE SABE… – SENHOR VIOLINISTA
BDSM A 3! OU 4, NUNCA SE SABE…
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SUBMISSÃO SIM, SUSERVIÊNCIA NUNCA!
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COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA NO BDSM
FETICHE DO VOYEURISMO E FETICHE DO EXIBICIONISMO
CONVERSAÇÃO, NEGOCIAÇÃO E CONTRATO
ABUSOS! PRECISAMOS FALAR SOBRE
SÍMBOLOS – LEATHER E BDSMFETICHES, PARAFILIAS & TRANSTORNOS DE PARAFILIAS
SAFEWORD – A CONTÍNUA NUVEM CINZA!
BISSEXUALIDADE E PANSEXUALIDADE X BDSM
POSIÇÕES: TOP, BOTTOM E SWITCHER
OUTUBRO ROSA – ESSE PROBLEMA TAMBÉM TE PERTENCE?
FETICHE X CAPITALISMO – ENTENDENDO O DESEJO DE TER!
CASTIDADE
SUB SPACE
CONTRATO BDSM – MODELO EM ANEXO
AS BASES DO BDSM E AS DIFERENÇAS ENTRE ELAS
Uma resposta
Viajei no texto! Me trouxe à tona muitas sessões de análise em que eu tentava – durante minha trajetória até conseguir assumir meus desejos para mim e depois para as pessoas em quem eu realmente confio – entender de onde vinha este desejo. E, honestamente, cheguei à conclusão de que essa foi a minha construção, não há uma resposta única pra isso. Mas consegui perceber que meus desejos estão comigo desde a infância… sempre que brincava de polícia e ladrão, eu queria ser o bandido, não pela marginalização apenas, mas porque esse sempre era preso e algemado. Enfim, o mais importante é saber se satisfazer dentro do limite do bom senso, daquilo que faz sentido pra mim. E que é diferente daquilo que faz sentido pra Sra. Storm, pro Dom Barbudo e pra tantos outros.
Seria mais fácil não gostar de BDSM ou me ver como Dom? Talvez. Mas eu sou assim e não vou me anular nem viver infeliz por algo que eu não escolhi (assim como não escolhi ser gay e também estou muito bem hoje com minha orientação sexual).