Há algumas semanas eu disse que o nojo é uma das emoções mais injustiçadas do nosso repertório emocional Básico. Ninguém reconhece a função do nojo. Mas eu certamente não estava pensando na tristeza. Essa sim é, de longe, a emoção mais invalidante da história. Poderia fazer um verdadeiro Ode à tristeza, mas já fizeram isso em um filme leve e fofo da Pixar: Divertidamente. Obs: Quem assistiu o filme e acha que a tristeza é chata, nós não vamos ser amigos. Se você assistiu o filme e não entendeu, assista de novo. Por vias das dúvidas, assista a história de novo.
Para quem não sabe, o enredo do filme gira em torno da necessidade da tristeza. Ao final do filme, vemos a necessidade e a importância da tristeza no processo de tomada de decisão. Principalmente o seu papel reflexivo. Já dei um spoiler. A REFLEXIVA E NECESSÁRIA TRISTEZA isso nos trás umas das principais características da tristeza: o olhar para dentro, os pensamentos lembrando coisas que nem sempre são positivas ou agradáveis. E o quanto isso é necessário? Muito! Só não damos conta disso ainda.
Somos criados, em uma lógica quase norte americana de que não podemos sentir tristeza, de que não precisamos nos sentir tristes porque somos grandes vencedores. E, quando aparece um aparato biológico básico nos dizemos que aquilo não é o esperado, que não podemos fazer o que fazemos na intensidade que fazemos, que devemos repensar nossas vidas e o nosso comportamento.
Mas é a partir da tristeza que passamos a modificar nosso comportamento. Mas é uma sensação tão incomoda não é mesmo? Há algum tempo escrevi um texto sobre sermos mimados emocionais, onde não admitimos a presença de emoções desagradáveis e cultivamos apenas emoções agradáveis. Até quando? Até quando vamos viver em busca de uma falsa perfeição que não existe? Lutamos tanto para termos os corpos que temos, aceitarmos os nossos corpos, nosso cabelo, nosso gênero, nossa forma de amar. Não deveríamos, antes, aceitar as nossas emoções?
Imagino que, quem invadida as suas emoções, renega algumas de suas emoções, está renegando uma parte do seu corpo. É como se renegasse seu braço, sua perna, seu coração. E diferente de membros fantasmas – o caso de quando perdemos um membro e continuamos sentindo este por um tempo – o nosso cérebro não vai se habituar que aquele membro não está mais lá. Porque ele ainda está. Nossas emoções só somem com AVC’s (Acidente Vascular Cerebral) ou traumatismo, se bem que na área límbica, acredito que é impossível ter um trauma por acidente.
Nossas emoções continuam ali, do dia que nascemos até o dia que deixamos este universo. Não devemos renega-la só porque é uma sensação ruim. Não é nada agradável fazer endoscopia, mas é necessário em alguns casos. Eu odeio a sensação de ter que tirar sangue, mas sei que é obrigatório para minha saúde. Não gosto da sensação de que a tristeza me promove, mas sei que, quando ela aparece, existem bons motivos para isso.
Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.
AUTOR:
DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.
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