O nojo, na minha opinião é uma das emoções mais desvalidadas no mundo atual. É comum associarmos o nojo com uma noção de vulnerabilidade/fraqueza. Nojo de comida? Pecado! Nojo de cheiros? Frescura! Nojo de situações sociais? Antipático(a)! Minha função aqui hoje é trazer um pouco mais de justiça à essa emoção injustiçada – e fazer uma pequena crítica à situação fetichista atual que estamos vivendo.
Bom, para princípio de conversa, o nojo está na baia das emoções desagradáveis de sentir junto com o medo que conversamos na semana passada. E assim como o medo que tem a função de nos proteger de eventuais ameaças, mas, desta vez, voltada para intoxicação, proteção contra envenenamentos e outras situações que podem tirar nossa vida. Por isso temos nojo de texturas, cheiros, sabores.
Mas, além de um sentido de proteção da vida, o nojo tem uma função social importantíssima: o sentido de perpetuação da cultura. Não temos nojo somente de coisas, mas também de pessoas e atitudes. Se eu não concordo com o comportamento de determinada pessoa e eu tenho vontade de ficar longe, eu posso considerar que eu estou com nojo desse comportamento. Na verdade, eu tenho antipatia dessa pessoa, dessa atitude. Não cabe falarmos disso nesse texto, mas em determinado ponto, a Xenofobia, ou seja, o preconceito contra outras culturas, é uma variação – errada, acredito – do nojo com o objetivo de proteção de sua própria cultura. Pensemos isso dentro da nossa própria comunidade BDSM com as comunidades Leather, Latex, Puppy que, às vezes, possuem segregações entre si mesmo. A questão com drogas está igualmente relacionada com a questão do nojo.
Bom, mas o que o nojo está relacionado com as práticas dentro do BDSM? Acredito que as práticas PIG (e aqui incluímos suor, piss, scat, pés sujos etc. etc. etc.) estão relacionadas à uma desregulação – para menos, óbvio – do nojo. Quem me conhece sabe que essas práticas passam longe do meu hall de práticas fetichistas justamente por conta desta desregulação do nojo. Sejamos francos, as práticas PIG estão diretamente relacionadas a problemas de higiene. É comum, dentro do nosso meio, encontrarmos pessoas que gostam de sebo, sujeira, falta de banho, scat, beber urina. O quão perigoso é isso para nossa saúde? Não sou nenhum médico e posso me informar mais sobre isto, mas, pela lógica, o que nosso corpo excreta, não pode ser ingerido novamente, principalmente com outra pessoa que pode ter um sistema imunológico completamente divergente do nosso. Algumas vezes temos confiança na pessoa que estamos no relacionando, temos um tempo de prática, uma certa intimidade. Mas, em outras vezes – e acredito que na grande maioria das vezes – não temos muito conhecimento das condições de saúde, de higiene e, principalmente de noção moral coletiva dessas pessoas.
Na minha opinião, devemos ascender uma grande bandeira vermelha em relação as práticas PIG. Não precisamos sair por ai pesquisando sobre o histórico de saúde da pessoa, pedindo exame de sangue dos últimos três meses para entrar em uma relação que envolvam práticas PIG, mas é bom termos confiança nessa pessoa. Já disse algumas vezes que o tesão “nos deixa burro” temporariamente, e, se agirmos unicamente pelo tesão, acabamos entrando em uma relação com pessoas com gostos duvidosos de saúde que pode nos trazer prejuízos permanentes. Tudo no BDSM é feito através de uma aliança sólida e colaborativa e, para enfrentarmos alguns fetiches, esta aliança tem que ser um pouco mais sólida do que uma relação pautada por relações químicas de prazer, ou melhor, a busca deste.
Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.
AUTOR:
DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.
APRESENTAÇÃO DA SÉRIE EMOÇÕES E BDSM
TRANCADOS PARA FORA DO ARMÁRIO
POR QUE O TESÃO TE DEIXA “BURRO”?
ALIENAÇÃO CONSCIENTE: ACEITANDO O QUE NÃO PODEMOS CONTROLAR
FARDAS: POR QUE DESSE FETICHE?
CONCILIANDO A VIDA BAUNILHA E A FETICHISTA
AFTERCARE, UMA NECESSIDADE PSICOLÓGICA
PUNIÇÃO E RECOMPENSAS NO CONTEXTO BDSM
PUNIÇÃO E CASTIGO: COMO UTILIZAR
VERGONHA EM PRÁTICAS NÃO TRADICIONAIS
AGE PLAY: LIBERTANDO A NOSSA CRIANÇA INTERIOR
EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 2: EXPERIENCIAS SEXUAIS
EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 1: O PAPEL DAS CRENÇAS
PORNOGRAFIA VERSUS MUNDO REAL – PARTE 2
PORNOGRAFIA VERSUS MUNDO REAL – PARTE 1
DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA: GUIA PRÁTICO
CRENÇAS SOCIAIS E O SEU PAPEL NO BDSM
BDSM E LIMITES – UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL
FETICHE MUITO ALÉM DAS PARAFILIAS
Uma resposta
Não sou adepto de práticas PIG, mas fetiche é como orientação sexual, ninguém escolhe o que vai excitar a si mesmo. De qualquer forma, a ingestão de excrementos não tem nenhuma comprovação científica de que faça bem, apesar de haver relatos de antigas civilizações ingerirem urina em rituais há milênios.
Em condições normais de saúde a urina é estéril, porém a ingestão de grandes quantidades pode sobrecarregar os rins com uma quantidade elevada de ureia. E, caso quem está ingerindo não esteja em boas condições de saúde ou a ingestão seja muito frequente, pode sim acarretar danos.
Deixando este aspecto de saúde de lado e voltando ao fetiche, existem outras formas de se divertir sem que haja necessidade de ingerir nada “não habitual”… Cheiros, por exemplo, podem ser extremamente excitantes. Há quem prefira perfumes, mas o cheiro natural de cada um é, pra mim, o melhor deles. Um pouquinho de cheiro de suor me excita, mas tudo em excesso acaba sendo ruim – mais uma vez, na minha opinião.