Olá danadinhos e danadinhas! Vocês estão bem?
Andei sumida semana passada pois a vida baunilha falou mais alto, e, todos sabemos que algumas vezes, precisamos colocar um tico de atenção nela para que o lado de cá permaneça em ordem né?
Mas já está tudo bem, e estou de volta!
Hoje vou trazer pra vocês um assunto que muitos de vocês já devem ter ouvido: o GOR. Muita gente com certeza já deve ter esbarrado com algum participante do meio, que se identifica como “goreano” então vamos lá … vamos entender um pouquinho mais sobre o assunto?
Acomodem-se, peguem seus cafés e venham comigo …
O GOR foi baseado nos livros Crônicas da terra de Gor do John Norman, que tomou “vida” através dos jogos de RPG e então, passou-se a considerar como uma “filosofia de vida” sendo essa que essa grandeza de “filosofia” foi até mesmo refutada pelo próprio JNorman que, em algumas entrevistas negou a intenção de fazer dos livros uma filosofia de vida. Era só uma obra literária! Nada mais!
Pois bem, nos livros, existe um viés bastante fora de realidade onde o ser masculino encontrou o respaldo necessário para resolver suas questões existenciais, ou seja, se sobrepor ao ser feminino.
Como bem disse uma pessoa que tenho extrema e absurda admiração e que conversei a respeito, “homens são animais rasos, a sociedade os fez assim, é fácil entender por que uma fantasia rasa como o GOR os atrai tanto”.
O tipo de sociedade que o GOR prega, reduz as pessoas à coisas de forma autoritária e sem nenhuma profundidade.
Existe tanta deturpação dentro do que foi feito com os livros, que o próprio JNorman também já se pronunciou que, em nenhum momento ele prega a supremacia masculina como foi “entendida” pelos adeptos. Isso fez inclusive, que em um dos livros, ele criasse uma personagem mulher tambem guerreira e heroína porque ele tava vendo que tava dando caquinha! Não adiantou nada!
Agora, o paralelo que se faz com o BDSM é por simples conveniência para justificar a servidão, não há qualquer correlação real e verdadeira entre GOR e BDSM ou BDSM e GOR.
O GOR representa uma época medieval, bastante paralela a Era do Metal, onde o patriarcado então surgiu e passou a tomar conta.
As mulheres não tem voz e são tomadas e escravizadas, e aqui, para mim, existe a diferença primordial entre os dois “mundos”.
Na “realidade literária” do mundo de GOR não existe consenso. Lá as mulheres são “tomadas” todas como escravas e se dividem de acordo com suas “funções” na sociedade:
Bond-maid: Uma escrava do norte de Gor, nascida na região territorial de Torvaldsland.
Elas têm nomes diferentes dentro da ficção dele mas são capturadas e tornadas escravas da mesma maneira.
Quase um “contos de Aya”!
Coin Girls: Escravas enviadas para as ruas, com uma caixinha pendurada no pescoço.
Elas são usadas sexualmente em troca de moedas que levam a seus Masters.
Display Girls: São escravas extremamente belas. São expostas, para que sua beleza reflita o poder de seus Masters.
First Girls: Escravas que recebem a função de cuidar e ensinar as outras escravas, mais novas ou menos experientes.
House Slaves: Escravas destinadas principalmente a servir seu Master em casa.
Lucky Girl: Uma espécie de mascote, levada nas viagens para uso do capitão, em geral.
Pleasure Girl: Escrava destinada principalmente para uso sexual.
Scribe Slaves: Escravas que fazem a parte burocrática, pois são poucas as escravas que sabem ler e escrever em Gor.
Tavern Slaves: Garotas que servem nas tavernas.
Servem a todos, inclusive sexualmente, se ordenado.
Se pensarmos no mundo do RPG que teve livros como inspiração, esse fenômeno não é novo, já tivemos algumas outras manifestações desse tipo, como por exemplo The Sims.
The Sims também era um “universo paralelo”, onde as pessoas criavam suas próprias realidades porém, dentro de um conceito de igualdade.
Recentemente tivemos um outro “fenômeno” literário que transpassou as páginas dos livros que se chama “Contos de Aya” (The Handmaid’s Tale).
Pra quem não assistiu, em resumo a sociedade foi tomada por um poder masculino chamado “The Eyes” que deu plenos poderes aos homens e as mulheres foram divididas em 2 grupos: as da sociedade e as parideiras (que eventualmente se transformam também em prostitutas não remuneradas!)
Esse pano de fundo patriarcal é o cenário que sustenta “seguidores” e, por mais bizarro que a realidade de Aya possa parecer, eu já ouvi de homens que aquilo até faria um certo sentido, talvez não nesse nosso tempo, mas em algum momento num lapso temporal abrangente. Vou deixar frisado aqui que o comentário veio da boca de um homem hétero cis, só pra contextualizar mesmo!
Voltando ao GOR, uma das características dentro dessa “comunidade” é que não existem dominadoras pois, mulheres são, em sua totalidade “escravas por natureza”.
Eu nem preciso dizer o quão fora de propósito é isso às vistas do BDSM não é mesmo?
Dentro da ludicidade dos jogos, eu de verdade acredito que cada um constrói seu jogo como quer.
Independente de não concordar com pessoas que decidiram seguir esse caminho, em tese, se eles não “se machucam” de nenhuma forma, isso não é muito um assunto meu, não é mesmo?
Vou chamar de BDSM?
Eu, Sra Storm, não vou! Pois para mim, não há como associar uma filosofia que prega a mulher sendo “tomada” como escrava pois a ela não cabe nenhum outro lugar, ao BDSM.
E depois desse detalhe, eu não consigo entender mais nada como plausível de ser discutido!
Bom, espero que eu tenha esclarecido um pouco a questão!
Sexta feira eu volto!
Hidratem-se
Sra Storm
AUTORA: SRA STORM
Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
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