No primeiro momento esta relação pode parecer aceitável, assim como acontece no meio baunilha, mas qualquer pessoa de bom senso sabe que isso é uma das relações mais perigosas que existem.
Drogas são utilizadas desde a antiguidade. Ainda nas aulas de história no colégio ficamos sabendo da guerra do ópio, do uso de vinhos e outras bebidas alcoólicas em diversos momentos da história da humanidade. Como nos rebelamos, quando somos adolescentes? Bebendo, fumando, usando qualquer tipo de droga ilícita. Não vou entrar no mérito de drogas lícitas, pois não é meu objetivo nessa coluna e nem tem uma relação tão perigosa na cena BDSM.
Tá! Mas qual a relação das drogas com a cena BDSM? Já expliquei algumas vezes que o nosso cérebro é um órgão extremamente sensível à tudo quanto é estímulo, seja ele interno ou externo. Interno como nossas emoções, como vemos quando temos medo ou tesão. Nós eventos externos podemos considerar nossa história de vida (como fatores ambientais) e também, uso de drogas. O uso de narcóticos age diretamente no nosso sistema nervoso central. A maioria das drogas que usamos atinge diretamente a nossa circuitaria neural, seja excitando essas vias, aumentando o número ou a intensidade de neurotransmissores, mas também diminuindo a potência destas enzimas. E tudo isso, claro, vai alterar diretamente o nosso processamento emocional, comportamental e consciente (nossa racionalidade)
E aqui passo a ser o tio chato do BDSM que fala a todo momento sobre os conceitos legais das cenas. É impensável um BDSM sério e responsável sem envolvermos o uso de drogas dentro das nossas práticas. Muitos dos entorpecentes mexem com nosso sistema sensorial. Passamos a ser mais ou menos sensíveis. Quem nunca ouviu que transar chapado é uma das melhores experiências que podemos ter? Ou que transar bêbado pode ser horrível. Justamente porque a maconha, o álcool – e aqui podemos incluir qualquer outro tipo de entorpecente – vão alterar, para mais ou para menos o nosso sistema de percepção de nós mesmos, dos outros, do mundo, do que acreditamos, dos nossos próprios limites. E o quanto que escrevemos sobre limites aqui nesse site? O quanto precisamos conhecer a nós mesmos, conhecer sobre nossos limites, sobre as práticas, sobre o nosso corpo!
Em uma prática de spanking por exemplo, podemos ser muito mais sensíveis, sentir muito mais o baque dos tapas quando estamos sobre o efeito de entorpecentes. Assim como pode minimizar essa sensibilidade e, quando vemos, machucamos algum músculo, temos escoriação em nossa pele. Além dos prejuízos físicos, podemos ter também alterações psicológicas. No spanking, podemos lembrar de algum momento regresso e lembranças tomam a nossa consciência rebaixada pela química. Nosso sistema racional, nossa capacidade de inibir impulsos ficam alteradas enquanto funciona a química. Nos tornamos impulsivos, algumas vezes imprudentes, não pesamos as consequências, podemos nos tornar emocionalmente distantes ou emocionalmente sensíveis. E nada disso cabe dentro de uma cena BDSM.
Infelizmente, a relação entre BDSM e uso de drogas é bastante comum. Uma relação que deveria ser levada mais a sério, pois pode trazer graves problemas.
A série americana POSE disponível na Netflix tem uma cena que ilustra de maneira primorosa o perigo dessa prática, quando um bottom realiza o uso de alguma droga que no momento não vou me lembrar e, posteriormente tem uma prática de provação de sentidos e bondage, onde fica preso por algum tempo. O que acontece? Ele tem uma overdose e morre ali mesmo. Ok, e uma série de ficção, mas cá entre nós, para que isso chegue ao grande público, isso deve ser uma prática, no mínimo recorrente em algum momento da história do movimento BDSM.
Portanto, amiguinhos, vamos pensar aqui com o tio: se eu preciso de algum tipo de droga para me engajar em uma sessão BDSM ou para sentir prazer…. Amiguinho eu tenho uma única coisa para te falar:
Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.
AUTOR:
DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.
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Uma resposta
Difícil passar a vida toda sem algum tipo de “aditivo”, seja ele legal – álcool, por exemplo – ou não… mas há momentos mais adequados para uso destes, e devem ser encarados como um “plus” mas jamais como o único modo de se obter prazer. Não sou careta nem tão pouco dependente de nenhuma substância, e não tenho direito a condenar ninguém, mas moderação e bom senso não fazem mal a ninguém.