Já falamos de medo e sua função de proteção da vida. Já falamos de nojo e a capacidade de nos protegermos física e socialmente contra intoxicações, assim como pessoas e comportamentos tóxicos. Agora, vamos mudar um pouco nosso foco de intervenção e falar de emoções agradáveis de sentir, como o amor.
E já começamos com polêmicas. O livro clássico que fala de emoções básicas, o livro Emotions Revealed do Americano Paul Ekman (em português, “A linguagem das Emoções”, indisponível no Brasil, mas encontrada facilmente online. Neste livro, Ekman define cinco emoções básicas (Alegria, Medo, Nojo, Raiva e Tristeza), as mesmas cinco emoções que aparecem no filme Divertidamente – o meu preferido – da Disney Pixar. Curiosidade: Ekman foi umas fontes principais para a produção do filme. Pois bem. Já, outros autores, como os Brasileiros, Renato Caminha e Marina Gusmão, apontam que o amor é a mais básica de todas as emoções, pois ela permite que perpetuemos a nossa espécie e nossos laços sociais. Somos indivíduos sociáveis, precisamos de pessoas em nossas vidas.
Mas, vamos falar sobre amor. Sem aquela visão romântica e melosa dos livros do Nicholas Sparks e Danielle Stell. Vamos falar de amor, e de aspectos sociais para tal. De acordo com a biologia das emoções, o amor está entre as emoções que causam sensações agradáveis no nosso corpo e em nossa mente. Quando aparece, via de base, este quer nos dizer que nos sentimos acolhidos, pertencentes, amados, adorados, queremos ficar próximos daquelas pessoas. Em suas variações, encontramos sentimentos como Apego, e, no caso do BDSM podemos incluir uma outra sensação: a adoração.
No dicionário, a adoração vem do ato adorar, venerar, se formos olhar no sentido religioso. E se olharmos de perto, sem todo o tesão que o BDSM nos envolve, isso não seria exatamente que os Tops exigem dos Bottons? Adoração! Ficar aos pés, adorar, beijar os pés, assim como beijaram os pés de Jesus em alguns momentos da Bíblia. É impossível pensarmos em adoração sem pensarmos no sentido religioso da palavra: o amor incondicional.
Já falamos aqui diversas vezes o como os extremos dentro do BDSM é perigoso. E tem algo mais extremo do que a palavra incondicional? O Bottom entregue incondicionalmente para o Top, o chamado “sub de alma” – leia com ironia. O como que, o amor, a devoção, a adoração dentro do contexto BDSM pode ser perigoso para pessoas que podem usar estas emoções para manipular o terceiro e conseguir o que desejam.
O amor é bem-vindo na cena BDSM, porém desde que usado com parcimônia. Na verdade, todas as emoções têm que ser usadas e sentidas com parcimônia. Podemos entender a regulação emocional, não como uma extinção de emoções, mas em um sentido de homeostase. Imagino as emoções como um painel de mixagem, aonde os botões vão de polos positivos à polos negativos rapidamente, em um tocar de dedos. Ao longo de toda mixagem de músicas, as emoções sobem e descem, mas, ao final da música, todas elas chegam à uma homestoase: ao zero. Esse é o papel das emoções, é como devemos exercer em nosso processo de regulação emocional.
Amor é bom, trás sensações boas, trás um senso de pertencimento, de acolhimento. Mas é como chocolate, com ponderação, sentimos todas as sensações boas que precisamos no nosso dia-a-dia, mas, em excesso, pode causar dependência.
Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.
AUTOR:
DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.
APRESENTAÇÃO DA SÉRIE EMOÇÕES E BDSM
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ALIENAÇÃO CONSCIENTE: ACEITANDO O QUE NÃO PODEMOS CONTROLAR
FARDAS: POR QUE DESSE FETICHE?
CONCILIANDO A VIDA BAUNILHA E A FETICHISTA
AFTERCARE, UMA NECESSIDADE PSICOLÓGICA
PUNIÇÃO E RECOMPENSAS NO CONTEXTO BDSM
PUNIÇÃO E CASTIGO: COMO UTILIZAR
VERGONHA EM PRÁTICAS NÃO TRADICIONAIS
AGE PLAY: LIBERTANDO A NOSSA CRIANÇA INTERIOR
EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 2: EXPERIENCIAS SEXUAIS
EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 1: O PAPEL DAS CRENÇAS
PORNOGRAFIA VERSUS MUNDO REAL – PARTE 2
PORNOGRAFIA VERSUS MUNDO REAL – PARTE 1
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CRENÇAS SOCIAIS E O SEU PAPEL NO BDSM
BDSM E LIMITES – UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL
FETICHE MUITO ALÉM DAS PARAFILIAS
Uma resposta
Correndo o risco de plagiar vários autores, mas vamos lá… o amor próprio é o mais importante de tudo! Leonardo Da Vinci já citou que não se pode amar a coisa alguma antes de amar a si mesmo, e esse sentimento deve nortear nossas vidas. Dessa forma, o alvo do nosso amor externo é um complemento, mas não se transforma no principal motivo de nossa felicidade. Até porque pessoas são pessoas, e podem nos decepcionar em algum momento. Não é saudável depositar a responsabilidade por suas sensações nas mãos de qualquer pessoa além de si mesmo.