Amor, monogamia e BDSM

Olá danadinhos e danadinhas, todos bem?

Hoje vou escrever um tico do meu entendimento sobre um assunto bastante indigesto na comunidade: a MONOGAMIA, ou a falta dela, por assim dizer!

Então, bora lá …

Muito se fala que o BDSM é o mundo dos fetiches e nele não cabe amor, mas será mesmo que não cabe? Ou será que não entendemos o amor?

Vivemos numa sociedade que entende amor como restrição, quando na verdade, amor é libertação! O amor deixa as coisas acontecerem, não pesa, não cobra, não entende exclusividade.

Mas não é esse o amor que nos é ensinado desde pequenininhos, muito pelo contrário. Somos ensinados a amar aprisionando, somos ensinados a amar cerceando liberdades, somos ensinados inclusive, que ciúmes é demonstração de amor, como bem nos lembrou ontem o meu querido Dr Psi em seu texto sobre “Ciúmes x BDSM”

Mas na minha opinião, o pior que nos ensinam é que o amor é o monogâmico!

Vejam bem, não estou aqui fazendo nenhuma apologia à poligamia, embora eu seja adepta da mesma, inclusive nos meus relacionamentos baunilha!

Quando eu questiono a monogamia, eu não questiono você, pessoa física que decidiu conscientemente, ter uma relação estável com somente uma pessoa e está feliz com isso. Eu questiono esse sistema que condiciona de forma bastante equivocada a relação “amor x monogamia”.

Para começo de conversa e melhor contextualização, devemos dar uma passeadinha pela história da humanidade.

Quando a gente volta alguns séculos, vamos descobrindo que as sociedades familiares eram formadas baseadas em dois modelos:

📌 poligamia: onde um homem possui vínculo afetivo e matrimonial com diversas mulheres, todas elas submissas a ele, que era então o “provedor” (lembrando que essa submissão não é a submissão que consideramos saudável e que norteia o BDSM) e,

📌 poliandria, que seria exatamente o mesmo conceito de multiplicidade de indivíduos na relação, porém aqui, a mulher era a que possuía mais vínculos afetivos matrimoniais.

Durante muito tempo, as famílias se organizavam dessa maneira, independente se as configurações polígamas fossem efetivamente mais saudáveis financeiramente dos que as políandras, fato é que, essas configurações eram aceitas e ponto!

O livro “A Origem da Família, do Estado e da Propriedade Privada” de Engels, é a primeira obra, a qual eu tive conhecimento e li, obviamente, que escancara exatamente o motivo da transição da poligamia/poliandria para a monogamia.

E pasmem, o motivo não tem absolutamente nada a ver com amor!

A transição do sistema de constituição familiar para a monogamia, somente aconteceu para que se pudessem explorar a propriedade, bem como gerar riquezas e perpetuá-las através da criação do conceito de “linhagem”.

Esse conceito de preservação da propriedade é tão enraizado na nossa comunidade, que até o Código Civil de 1916 que foi revisto em 2002, se não me falhe a memória da data, não mexeu em absolutamente nada no que diz respeito às constituições familiares.

Agora eu levanto o questionamento para vocês: o que exatamente isso tem a ver com o sentimento do amor?

E mais, como pode uma regulamentação tão tacanha como essa, manter a característica principal do amor que é a liberdade?

Vocês podem estar se perguntando o que isso tem a ver com o BDSM, e nesse momento eu respondo: absolutamente tudo!

O BDSM é, e deve ser sempre, uma forma de expressão de nossas dissidências erótico sexuais liberta e livre de pesos e pressões. Nossas relações, mesmo quando constituímos Ds, não possuem nenhum efeito legal sucessório ou, que possa conversar com o direito de propriedade, por esse motivo não existe nenhum cabimento discursos como “monogamia”. Esses conceitos são puramente civis, e que não cabem no BDSM.

“Ah Sra Storm mas eu não quero um Top com muitas posses”, tudo bem! Coloque isso em negociação e siga em frente até achar um Top que também não esteja interessado em ter diversas posses. Simples!

Somente parem de trazer conceitos, que por si só, já são bastante ruins no baunilha! A comunidade não precisa disso!

O BDSM é a liberdade em sua essência, assim como o amor puro deve ser. Ele é inclusivo, inclusive. Ele nos dá a possibilidade de transitarmos por ele, satisfazendo nossos desejos, emoções e sentimentos em vários níveis até.

Ninguém no BDSM precisa ter uma Ds! Você pode viver tranquilamente de avulsas e playpartners, sem transferências de esferas. Bem como você pode viver uma relação PPE com alta ou baixa transferência de esferas. Ou ainda pode viver uma TPE e transferir todas as esferas. Você escolhe o que melhor lhe convir.

Agora, entenda que dentro da ludicidade de nossos jogos, bottoms são “propriedades” dos Tops e, aos Tops é resguardado o direito de ter quantas “posses” ele quiser então, se você é bottom e não quer servir a somente um Top, não entre numa Ds! Viva lá suas playpartners e está tudo bem! Você não está errado em seus quereres!

“Ah Sra Storm mas isso não é justo, eu sou bottom e quero ter vários Tops” tudo bem! Tente a sorte em achar algum Top que aceite dividir a posse de seu bottom com outro Top e seja feliz! Se conseguir encontrar, não esquece de voltar pra me contar! Porém, tenha sempre em mente também, que o processo de condução e desconstrução que uma Ds pressupõe é intenso, e talvez nem você, bottom guloso, vai conseguir segurar a onda emocional de receber dois comando diferentes, principalmente quando os comandos forem conflitantes. Nunca se esqueça que cachorro que tem muito dono, morre de fome! 😬 mas vai lá … pode tentar! O BDSM te permite ser livre, justamente por isso!

Eu sempre vou bater na tecla que, aquele que entende o conceito de amor liberto, entendeu 33% do BDSM e não traz pra cá, conceitos que não cabem em nossos jogos!

Por hoje eu paro por aqui e deixo vocês com a reflexão: seu amor liberta ou aprisiona? E o seu BDSM? Liberta ou aprisiona?

Hidratem-se e até sexta feira!
Abraços
Sra Storm

AUTORA: SRA STORM

Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.

PRIVAÇÃO DE SENTIDOS

PRIVAÇÃO DO ORGASMO

QUIROFILIA

ALTO PROTOCOLO

ODAXELAGNIA

O SADOMASOQUISMO, A INGLATERRA, O CONSENTIMENTO
E COMO ISSO NOS IMPACTA

Ds VIRTUAL

PODOLATRIA

BONDAGE

GATILHOS MENTAIS E EMOCIONAIS

FEEDERISMO

COLEIRAS

HIEROFILIA

TRANSFERÊNCIA DE ESFERAS

GRAVIDEZ NO BDSM

BDSM A 3! OU A 4, NUNCA SE SABE… – SENHOR VIOLINISTA

BDSM A 3! OU 4, NUNCA SE SABE…

BLOOD PLAY

ISTs NO BDSM

O VIÉS DE CONFIRMAÇÃO E O BDSM

AFTERCARE DO TOP

DOM SPACE

DOMINAÇÃO POR BAIXO

SUBMISSÃO SIM, SUSERVIÊNCIA NUNCA!

FEAR PLAY

SER DISSIDENTE É SER RESISTENTE

FLUXO DE PODER

PRIMEIRA SESSÃO

EXPECTATIVAS X REALIDADE

BDSM, PALCO DE EGOS FRÁGEIS

FETICHES & AFINS

BASTINADO

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA NO BDSM

FETICHE DO VOYEURISMO E FETICHE DO EXIBICIONISMO

LIMITES E LIMITAÇÕES

POSTURA E ABORDAGEM

FIRE PLAY

EDGES PLAY

CONVERSAÇÃO, NEGOCIAÇÃO E CONTRATO

DESLIGAMENTO

ABUSOS! PRECISAMOS FALAR SOBRE

BDSM, POR ONDE COMEÇAR?

SUA DINÂMICA, SEU PERFIL!

MASCULINIDADE TÓXICA E BDSM

PADDLING I CANING & CROPPING

SESSÕES AVULSAS

WHIPPING

EMPRÉSTIMO NO BDSM

SÍMBOLOS – LEATHER E BDSMFETICHES, PARAFILIAS & TRANSTORNOS DE PARAFILIAS

SAFEWORD – A CONTÍNUA NUVEM CINZA!

TIPOS DE RELACIONAMENTO

BISSEXUALIDADE E PANSEXUALIDADE X BDSM

POSIÇÕES: TOP, BOTTOM E SWITCHER

OUTUBRO ROSA – ESSE PROBLEMA TAMBÉM TE PERTENCE?

ORIGEM DO BDSM

BDSM, POR ONDE COMEÇAR?

HUMILHAÇÃO ERÓTICA

DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA

FETICHE X CAPITALISMO – ENTENDENDO O DESEJO DE TER!

CASTIDADE

SUB SPACE

CONTRATO BDSM – MODELO EM ANEXO

CONSENTIMENTO NO BDSM

HISTÓRIA DA CULTURA LEATHER

RELAÇÃO BDSM X SEXO

UMA REFEIÇÃO SENSORIAL

24/7

IMAGEM SOCIAL E BDSM

IMPACT PLAY

FETICHE X FANTASIA

AS BASES DO BDSM E AS DIFERENÇAS ENTRE ELAS

RED FLAGS

 

Respostas de 3

  1. Como já diria Rita Lee, “sexo é escolha, amor é sorte”. Levou muitos anos pra que eu e meu marido conseguíssemos separar amor e sexo. Amor é companheirismo, é rir juntos mas também aguentar o mau humor do outro, é querer construir uma história em comum… e nada limita isso a apenas duas pessoas! Já o desejo sexual é amplo, nem sempre os dois gostam das mesmas coisas. Por se tratar de um desejo, é instintivo – ninguém escolhe gostar de determinada prática, seja esta BDSMer ou não. E é injusto conosco reprimir estes impulsos pela vida toda em troca de um falso moralismo. Pra que viver uma vida de frustrações? Contanto que haja honestidade, não existe razão para suprimir seus desejos.

  2. Imagino que o “amor” não caberia no que foi falado, até mesmo as definições do amor foram apenas jogadas. Por exemplo falou em “amor puro” e “amor liberto” o que acaba personalizando um sentimento. Quanto ao resto foi racionalmente instrutivo

  3. Meu amor não aprisiona nem liberta. Amo, mas quero alguém que me priorize igual, então não desejo relacionamentos não monogamicos.
    Achei também muito recalcado esse texto falando “quer mais de um dom? Tente a sorte”. Eu não vejo sentido nenhum em ser dominada e fiel a alguém que não me prioriza. Cada um com seus jogos e praticas. Pra mim é assim 😬 Euu sonhar com alguém ser totalmente apaixonada e a pessoa não… neeeeeeeeeeeeeeeemmmm. E nem é posse nao, é o desequlibrio que isso gera de intensidade, vontade, expectativas.. Pra mim afeto não dá pra separar assim das coisas não.
    Enfim, tudo dependede como se dá né.
    Pra mim o desejo sub/dom é o que manteria uma paixão em um relacionamento, Vanilla, o qual quero. Não tenho interesse em me sentir totalmente caída e obcecada por alguém q não sente também. E se não sente, tudo bem, pode ir 👋

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress