O título é para chamar atenção mesmo. Que bom que chamou! Agora sente ai para conversamos sobre neurobiologia das emoções. Acredito que eu já conversei com vocês anteriormente, no texto “razão e emoção” que quando as emoções tomam conta do nosso cérebro a nossa parte racional tem sua ativação reduzida. Quando ficamos com medo, em uma crise de ansiedade, é difícil voltarmos para à racionalidade. Por isso, um dos primeiros passos da terapia baseada em evidência é ensinar a fortalecer o racional para, quando a crise acontecer, os dois sistemas se equipararem para, com o tempo, o sistema racional vencer.
Com o tesão não é muito diferente. Já discuti aqui também que o sexo está entre nossas necessidades humanas básicas. É através do sexo que perpetuamos a nossa espécie – até então pelo menos – e, vale lembrar também que os seres humanos é um dos poucos seres vivos que fazem sexo não só para procriação, mas porque eles sentem prazer no ato.
A partir da Idade Média, começaram a ser criados os primeiros protocolos de etiqueta de como deveríamos nos portar em determinadas situações. Estes protocolos envolviam também o processamento das emoções. Muitos desses ensinamentos eram trazidos e reforçados pela igreja. Alguma vez na vida você já ouviu que é feio sentir raiva de pai e de mãe, que é feio sentir nojo de alguma comida etc., etc., etc. Pois bem, muito desses ensinamentos foram trazidos pela igreja e se automatizando em uma coisinha que eu costumo chamar de crenças sociais que regem a nossa vida e que a Psicologia tem um prazer enorme em flexibilizar e quebrar.
O tesão entra neste contexto quando o Estado (e aqui me refiro a qualquer estrutura de poder) começa a impor o que pode ou não pode ser feito em relação ao sexo. Com a revolução sexual, o cenário mudou por completo. Podemos fazer o que quiser com nosso corpo, com nosso tesão, com nosso prazer – mesmo que ainda tenham pessoas que critiquem e queiram limitar essas atividades. Esta liberdade sexual acaba trazendo uma proliferação de tesão e de prazer que, muitas vezes não estamos acostumados a ter. Nosso cérebro é inundado por tesão, por prazer, por esta busca incessante de estímulo sexual. É neste momento que ocorre um rebaixamento das estruturas frontais do nosso cérebro (racional), aumento da impulsividade e da reatividade.
Quem nunca cometeu atos impulsos tomados pelo tesão? Costumo brincar – porém com um fundinho de verdade – que quando relato o que eu faço no BDSM ao longo de uma sessão, sinto um estranhamento completamente diferente de quando eu estou vivenciando aquela experiência. Quando eu conto para alguém sobre uma cena com Piss, troca de fluídos, fistfuck entre outros, o meu sistema racional está presente no momento e tomando conta de toda a situação. Quando estamos vivenciando o ato, nosso sistema racional está em stand-by, preparando para se ativar quando tem algum perigo iminente e tudo o que estamos experienciando é o momento presente.
Por isso defendo que, para participar do BDSM ambas as partes envolvidas no cenário precisam estar regulados emocionalmente. É impensável um Top com descontrole da Raiva e Bottons com uma tríade cognitiva negativa (para mais informações, ler o texto da semana passada). É uma relação fadada ao fracasso.
Podemos colocar as emoções como nossas aliadas ao longo de toda a cena BDSM, não precisamos ser completamente isentos de emoções e de sentimentos quando estamos jogando. Mas, acima de tudo precisamos aprender a regulá-las de formas eficazes para não sermos tomados por ela quando acontece alguma coisa.
Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.
AUTOR:
DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.
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Uma resposta
Quem nunca se deixou levar pelas emoções, não é mesmo? E, com relação ao desejo sexual, este é capaz de nos fazer cometer verdadeiras loucuras… quem não conhece várias histórias de pessoas que se infectaram por não usar preservativo na hora agá? E tantas gestações não programadas… Muito importante treinar a racionalidade para evitar estas armadilhas! E, no BDSM, nada melhor que um bom contrato e sanidade mental em dia para evitar experiências ruins. Gosto de pensar o BDSM como um “plus” na vida, algo que deve ser desfrutado obviamente por quem gosta mas também por pessoas que estão bem resolvidas, e que se permitem darem um passo além das relações baunilha. Entendo que nem sempre é assim, mas penso que deveria…