ORGULHO E AUTOESTIMA

Vamos falar hoje sobre duas coisinhas que estão em falta na sociedade contemporânea: Orgulho e Autoestima. É quase impossível falarmos de autoestima e orgulho e não esbarrarmos em uma coisa quase patológica. Nos últimos tempos, é comum pensarmos que, termos autoestima, nos sentirmos orgulhosos se nossos próprios feitos é uma falta. No último ano então, com tudo isso que está acontecendo, você é rechaçado se posta em alguma rede social alguma conquista, seja ela grande ou pequena. Cadê seu senso de sociedade? Tantas pessoas morrendo por dia e você aí postando que está feliz porque passou em uma Universidade ou comprou o carro que tanto queria.

Pois é, amigos. O problema do auto sacrifício é que ele é amplamente aceito pela sociedade. Há meses eu escrevo sobre emoções e regulação emocional nesse site. Acabo, muitas vezes, destoando do tema original que até mesmo o próprio site se propões (Perdão Barbudo), mas acho que, antes de tudo, antes de entrarmos em uma cultura que vai nos fazer rever tudo aquilo que acreditamos ser correto e real, precisamos muito bem nos conhecer, conhecer nossas emoções, como funcionamentos e, principalmente quais são nossas limitações tanto quanto pessoas físicas, quanto personas.

Agora, voltando para autoestima. O título do tema é de propósito. Muitos confundem a autoestima com o orgulho. Tenho que me orgulhar e esfregar na cara da outra pessoa o que eu consegui com o meu esforço, afinal, se eu consegui aquilo é porque eu merecei (leia com ironia). E muitas vezes a autoestima é entendida como orgulho. E não, orgulho e autoestima são complementares, porém diferentes.

Costumo dizer que a autoestima é uma coisa extremamente pessoal que dificilmente é exibida como tal. Na visão da Terapia Cognitiva, a autoestima tem a ver com a tríade cognitiva. Ou seja, tem a ver com a forma que eu me vejo, vejo as outras pessoas e o futuro. Quando tenho uma tríade cognitiva negativa, automaticamente eu vou me ver de forma depreciativa, vou ver os outros de uma forma superior e o futuro como ameaçador. Por outro lado, se eu tenho uma tríade cognitiva positiva (ou seja, autoestima) eu vou me ver de uma forma positiva, porém funcional, vou ver os outros como humanos com suas falhas e suas potencialidades e o futuro como milhares de páginas em branco cheias de oportunidades.

O orgulho já monta um cenário completamente diferente. Pode envolver também a tríade cognitiva, mas de forma distorcida. Distorcida não para baixo, mas sim para cima. Ou seja, eu tenho uma visão de mim mesmo como a melhor pessoa (a última bolacha do pacote), a visão dos outros como subalternos que têm que me servir ao meu bel prazer ou até mesmo como pessoas menores que eu que não merecem a sua devida atenção e o futuro como uma potencialidade para eu mostrar as minhas qualidades. Notou alguma semelhança com certas pessoas que vemos, aos baldes, dentro do BDSM?

Esta tríade cognitiva do orgulho muitas vezes é a marca registrada de muitos tops, porém elas podem ser aceitáveis dentro das sessões e, exclusivamente dentro das sessões. Fora delas, junto com as roupas de couro e acessórios em punho, o que tem que prevalecer é uma tríade funcional. Saber descer do pedestal quando necessário é o que faz o Top humano. Dentro da sessão pode acontecer tudo, inclusive nada, como diz Sra. Storm, mas fora da sessão o que tem que prevalecer é a autoestima. De ambas as partes.

Não consigo conceber um bottom com uma baixa autoestima no seu dia-a-dia, pois vamos pensar aqui com o Tio Psi: uma vez que eu tenho uma visão negativa de mim, quando eu chego em um cenário onde é esperado que eu me rebaixe, que eu seja subjugado. O meu cérebro vai entender que, tudo aquilo que eu penso no meu dia a dia é verdadeiro. Vou reforçar tudo aquilo que eu penso, confirmar todas as minhas crenças. Adoro ver estas histórias da vida real em que o bottom tem um alto cargo executivo e se submete aos prazeres de um mestre consciente para “nivelar seu senso de poder”. Dentro do site do Mestre Barbudo há várias histórias desta ordem.

Por fim, principalmente neste mês em que bradamos o orgulho da nossa sexualidade nós temos que pensar que, além do orgulho, o quanto isto nos estima. O quanto nós podemos trazer esse orgulho de uma maneira consciente na nossa vida, no nosso dia-a-dia? Se apenas bradamos orgulho em redes sociais, mas não acreditamos naquilo que estamos escrevendo ou repostamos é melhor pararmos e repensarmos.

Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.

AUTOR:

DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.

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Uma resposta

  1. Sempre entendi a auto estima como algo positivo, e o orgulho como uma potencial cilada… e o texto do Dr. Psi me fez entender que é por aí mesmo, pelo menos no meu caso. Excesso de orgulho atrapalha por distorcer a visão da realidade, porém a falta de auto estima também é perigosa, no sentido oposto.
    O meu mantra na vida é o equilíbrio. Se eu me considero o melhor de todos, com certeza irei quebrar a cara em algum momento. Porém, se me considero o pior ser humano que já existiu, também vou deixar passar momentos e oportunidades na vida.
    As redes sociais inflamaram demais as pessoas e fizeram com que a imagem que se vende seja mais importante do que quem realmente somos. É preciso muita maturidade para não se vangloriar de tudo, e também para não se deixar afetar pelos outros. Haja divã!

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