A ANGÚSTIA NO PRAZER DA DOR

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Olá Danadinhos, vocês estão bem?
Espero que vocês estejam dispostos a uma viagem junto comigo, porque hoje, eu acordei disposta, e quero falar sobre a Angústia no Prazer que a Dor pode causar em cada um de nós, adeptos do SadoMasoquismo!

Bora lá?

Para começar, precisamos entender que o padrão regente na sociedade, psicologicamente falando, é o das pessoas tenderem a preferir em suas vidas cotidianas, muito mais o prazer, do que a dor.

Pois bem, isso até a página dois não é mesmo Danadinhos? Afinal, nos entendemos BDSMers e fazemos do BDSM, nossas “relações cotidianas”, não é? E, uma das dinâmicas que o acrônimo abarca é justamente o SadMasoquismo, ou seja, a boa e velha obtenção do prazer erótico através da dor.

E é nesse momento que muita gente confunde muita coisa, e o caldo começa a entornar para nós ….

Eu me lembro de uma vez, um bottom me contar que as pessoas achavam que ele gostava de “bater o dedinho na quina da cama” só por causa do masoquismo dele. Quantas e quantas pessoas já não ouviram coisas do tipo “nossa, mas como assim você gosta de ser agredida/o?”, ou então “nossa mas você se sente bem machucando as pessoas?”?

O que o ouvinte leigo não entende, é que ninguém, nenhum praticante de BDSM, que se reconheça como masoquista, gosta de ser agredido, e, principalmente que, esse “gostar de dor” nada tem a ver com as infelicidades, carências ou angústias da vida baunilha.

Entender que o sadomasoquismo do lado de cá é o prazer erótico obtido através da dor, seja ela impondo ou sendo imposto, pode sim, dar um looping na cabecinha de muita gente, inclusive dos próprios BDSMers que, muitas vezes chegam do lado de cá, com dificuldades de entendimento dos seus próprios sentimentos e emoções.

Daí, no meio do caminho, a gente encontra um outro pessoal que acha que a tolerância à dor é um fator de risco, ou até mesmo um indicativo, de problemas psicológicos! A gente só não pode realmente ficar muito bravo porque, vivemos uma época de carência de interpretação de texto, de carência de repertório e, principalmente de excesso de julgamentos. Precisamos sim, ter maturidade suficiente de entender que, algumas pessoas não vão entender a mensagem, mas que, nem por isso, a mensagem deixará de existir, e tentar, sempre que possível, explicar tudo o que acontece do lado de cá, tomando sempre cuidado, para que nossa fala não se torne palanque de militância rasa e vazia!

Agora vamos parar um pouquinho para falarmos de nós mesmos?

O quanto de besteira a gente já não ouviu por gostar da impor ou de receber a dor? O quanto de julgamento já não sofremos? O quanto tudo isso pode tornar o que era para ser prazeroso, extremamente angustiante e triste? Qual o impacto real, dentro da nossa felicidade, essa percepção e aceitação de comportamento desviante do regente? E por fim, com tantos aspectos negativos, qual o limite que faz nossas dissidências ainda serem realmente fontes de prazer?

Se eu jogar todas essas perguntas no colo do meu amigo de redação, meu querido Dr Psi, ele com toda certeza vai responder que eu deveria me agarrar ao conceito de percepção de angústia, mas daí, eu pergunto, como perceber angústia na esfera erótica? Seria a esfera erótica capaz de produzir suas próprias angústias que não perpassem para o indivíduo? Não deveria ser o sexo, e todas as manifestações eróticas, quando consentidos, serem um indicador de bom funcionamento psicológico?

E logo na sequência disso tudo, eventualmente nos deparamos com outros questionamentos, como por exemplo, o da culpa do pós, o da impossibilidade que muitos de nós tem de dizer abertamente aos nossos amigos e familiares sobre as nossas relações, o eventual receio que alguns experenciam de verdadeiramente machucar alguém, e por ai podemos ir ….

Isso sem falar que, uma hora ou outra, o bottom vai com toda certeza desse mundo, se envolver em algo que para ele não seja assim tão gratificante, mas que, por não estar dentro de seu pacote de limites, ele fará em cumprimento de uma ordem!

Tudo isso pode ser considerado angustiante?

Vocês acham tudo isso pequeno? Que não deveríamos parar para pensar a respeito? Pois saibam que em 2010, foi publicado um estudo, chamado “Depathologizing Consensual Sexual Sadism, Sexual Masochism, Transvestic Fetichism and Fetichism” onde a Dra Susan Wright claramente escreve “separating sexual behaviors from menthal disorders is the first step in depathologizing consensual alternative sex. The second step is defining what exactly constitutes clinacally significant distress”(1)

Ou seja, há pelo menos 1 década, pessoas vem se preocupando com essa angústia que o masoquismo e o sadismo podem vir a gerar em nós, jogadores de BDSM.

E eu, particularmente também acho que deveríamos nos preocupar sim, com essa questão!

Ainda em sua pesquisa para o estudo, a Dra Wright concluiu que 37,5%, mais ou menos 1140 pessoas, que se identificaram como BDSMers, já sofreram algum tipo de preconceito por suas dissidências e mais, desse grupo, 60% ainda sofre a angustia de viver “enrustido”.

Existe um autor que eu gosto muito que se chama Roy Baumeister (inclusive quem me acompanha verá que eu citarei ele mais de uma vez esse mês!) que compara o sadomasoquismo com exercícios físicos intensos. Para ele o sadomasoquismo “é essencialmente uma forma consciente de se escapar de si mesmo, com altos níveis de consciência” A única diferença seria que, no caso do sadomasoquismo sexual, o prazer estaria ligado diretamente com a dor. Ele ainda complementa, que as pessoas tendem, frequentemente, a escapar do “fardo da individualidade”, em busca de prazer, e nesse momento, não importa muito como esse prazer é alcançado.

Agora eu convido todos vocês a voltarem dessa viagem comigo e pararmos um pouco para pensar em como todos nós estamos digerindo nossas dissidências, e se todos nós nos angustiamos, mais ou menos, por precisarmos viver numa realidade quase que paralela …

Viver em SSC, não diz respeito somente às práticas, ou ao que precisamos fazer para cuidar dos outros que jogam com a gente. Viver em SSC quer dizer, também, cuidarmos para que todas as nossas gavetinhas estejam em ordem e que, não corramos nunca, o risco de nos angustiarmos por termos prazer com a dor!

Estudos já comprovaram que BDSMers, em comparação de controle, são muito menos neuróticos e sensíveis à rejeições (temos casca dura!), são muito mais extrovertidos, abertos às novas experiências e também muito mais conscienciosos (os sérios, obvio!), logo, está tudo lindo do lado de cá! Só precisamos mesmo, controlar o quanto o julgamento, da audiência leiga, pode nos afetar!

E por hoje eu fico por aqui!
Espero que vocês tenham aproveitado a viagem …

Até terça e não se esqueçam, se hidratem! Muito!

Abraços,
Sra Storm

“A grande arte da vida é a sensação de sentir que existimos, mesmo na dor” – Lord Byron

(1) Despatologizando Sadismo Sexual Consensual, Masoquismo Sexual, Fetichismo Transvéstico e Fetichismo” onde a Dra. Susan Wright diz que “separar comportamentos sexuais de distúrbios mentais é o primeiro passo para despatologizar o sexo alternativo consensual. A segunda etapa é definir o que exatamente constitui angústia clinicamente significativo”

AUTORA: SRA STORM

Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.

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BDSM, POR ONDE COMEÇAR?

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AS BASES DO BDSM E AS DIFERENÇAS ENTRE ELAS

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1 comment

  1. morroi 5 março, 2021 at 23:13 Reply

    Cada um sabe seus limites e o que dá prazer! Pra isso existe o contrato do BDSM. Estando dentro do SSC, o que pode ser impraticável para uns é o que gera prazer em outros. O moralismo e o julgamento dos outros é algo que só atrapalha, porém é infelizmente jamais conseguiremos acabar com essas chagas da humanidade. Cabe a cada um de nós se fortalecer e impedir que opiniões alheias nos impeçam de alcançar o prazer e a felicidade.

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