SER DISSIDENTE É SER RESISTENTE

Olá danadinhos

Meu texto de hoje, tem um viés diferente, e vocês perceberão isso com o passar dos tempos … mas, não posso me furtar da minha liberdade em me expressar, então, convido a cada um de vocês para prepararem uma bebida e me acompanharem … tudo isso pode fazer sentido zero para cada um de vocês mas, me deem o benefício da dúvida por ter lugar fala!

Quem me conhece sabe que não sou adepta aos reality shows, até porquê, de realities eu acredito que não tem nada, porém, não consegui abrir a internet hoje e não ser bombardeada por notícias de um rapaz negro, que se assumiu bissexual, em rede nacional e, por conta de todo um cenário de pressão psicológica, decide fazer as malas e ir embora, decide de certa forma “voltar ao armário”.

Voltando um pouco no relógio do tempo …

“Todos os jovens, independentemente da sua orientação sexual ou identidade, merecem um ambiente seguro e solidário para que possa atingir todo o seu potencial”. Foi com essa frase que Harvey Bernadine Milk, aka MILK, entrou para a história. O primeiro político gay a ser eleito nos EUA, assassinado em 1978, foi uma das lideranças GLS que conseguiu verdadeira relevância na luta da comunidade gay. Durante toda a sua vida, MILK concentrou seus esforços em combater a restrição da liberdade, violência e preconceitos sofridos pelos gays. Com seu discurso de luta pelo respeito aos direitos civis a todos, Milk conquistou um público que o levou a assumir, em 1977, o posto de vereador na Câmara de São Francisco. Para MILK, “não é preciso nenhum esforço para dar às pessoas seus direitos. Não é necessário nenhum dinheiro para respeitar o próximo. Não existe nenhum acordo político para dar às pessoas, a liberdade. Não é preciso nenhuma pesquisa para acabar com a repressão”.

Voltemos nosso relógio para 07 de Fevereiro de 2021. Rio de Janeiro, BBB número X. Um rapaz negro, aparentemente periférico desiste do jogo, pois num momento de festa se atracou com outro homem, também negro, no programa. Cena inclusive bastante comum nas festinhas do programa!

E desistiu justamente porque ouviu questionamentos sobre sua bissexualidade ter sido usada como “manobra de jogo”, teve sua bissexualidade chamada de “luta egoica”, teve seus sentimentos e emoções, que já vinham sendo humilhados pelos participantes, minimizados.

Ele então desiste!

Desistir dentro de um reality show é fácil! Quero ver desistir na vida real! Quero ver ele abrir mão da dissidência dele aqui, na selva de pedras!

Ah Sra Storm isso não é dissidência!

Danadinhos do meu coração, deixem a ciranderia semântica de lado, e entendam que ser LGBTQI+, é sim ser dissidente. Ser BDSMer, é sim ser dissidente! Somos dissidentes por que nos afastamos dos conceitos pregados como “padrões” implantados não sociedade. Entendam que ser dissidente não é errado!

Quando cada um de nós, começa a refutar a palavra dissidência, estamos automaticamente reforçando o discurso de que ser “diferente” do padrão normativo é errado. E ser diferente não é errado. É somente, ser diferente! E está tudo certo com isso!

Hoje, em 2021, mais do que nunca, ser dissidente é ser resistência!

E por que eu trouxe essa pauta hoje? Porque pelo que eu andei curiando, esse rapaz sofreu “cancelamento” advindo do seu próprio grupo. Esse rapaz sofreu humilhação de pessoas que, em tese, deveriam estar na mesma luta identitária que ele.

Vamos pensar no BDSM?

Vamos pensar no quanto de silenciamento e cancelamento pessoas estão sofrendo no BDSM por pessoas que deveriam, em tese, estar na mesma página?

Se na comunidade LGBTQI+ os gays não apoiam das lésbicas, as lésbicas não apoiam os bis, ninguém apoia os pans, no BDSM, os SMs não apoiam os lúdicos, os lúdicos não apoiam os babys e ninguém apoia os Brats!

Vamos todos, LGBTQI+ e BDSMers nos segregando de nós mesmos, nos matando entre nós mesmos e, cada vez mais enfraquecendo qualquer movimento de reconhecimento e fortalecimento que poderíamos ter.

Se dentro da nossa própria comunidade olhamos com olhos de julgamentos para, por exemplo, praticantes de scat, como podemos pensar que um dia seremos respeitados?

Ser dissidente é ser resistência!

Ser dissidente é um ato político!

Ser LGBTQI+ é um ato político!

Ser BDSMers é um ato político!

E aqui não estou falando sobre lados políticos, não estou falando de direita ou de esquerda. Estou falando de política como ciência social. Estou falando de política como forma coordenada de vida. Estou falando no sentido mais amplo de política que Aristoteles nos traz, quando diz que “política tem por finalidade assegurar a felicidade dos indivíduos”.

Estamos todos, LGBTQI+ e também BDSMers entendendo tudo errado! Não é sobre com quem trepamos ou deixamos de trepar! É sobre como nos respeitamos e como queremos ser respeitados!

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é virar opressor”

E por agora, encerro esse pensamento deixando essa reflexão de Paulo Freire, para que cada um de vocês que chegou até aqui, pare e pense, se passear pelo BDSM tem sido uma luta identitária de reconhecimento de respeito de direitos, ou somente mais uma forma que cada um de nós está utilizando para deixar de ser oprimido e passar a ser opressor.

Agora eu vou me hidratar, espero que todos vocês também o façam.

Um abraço
Sra Storm

AUTORA: SRA STORM

Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.

FLUXO DE PODER

PRIMEIRA SESSÃO

EXPECTATIVAS X REALIDADE

BDSM, PALCO DE EGOS FRÁGEIS

FETICHES & AFINS

BASTINADO

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA NO BDSM

FETICHE DO VOYEURISMO E FETICHE DO EXIBICIONISMO

LIMITES E LIMITAÇÕES

POSTURA E ABORDAGEM

FIRE PLAY

EDGES PLAY

CONVERSAÇÃO, NEGOCIAÇÃO E CONTRATO

DESLIGAMENTO

ABUSOS! PRECISAMOS FALAR SOBRE

BDSM, POR ONDE COMEÇAR?

SUA DINÂMICA, SEU PERFIL!

MASCULINIDADE TÓXICA E BDSM

PADDLING I CANING & CROPPING

SESSÕES AVULSAS

WHIPPING

EMPRÉSTIMO NO BDSM

SÍMBOLOS – LEATHER E BDSMFETICHES, PARAFILIAS & TRANSTORNOS DE PARAFILIAS

SAFEWORD – A CONTÍNUA NUVEM CINZA!

TIPOS DE RELACIONAMENTO

BISSEXUALIDADE E PANSEXUALIDADE X BDSM

POSIÇÕES: TOP, BOTTOM E SWITCHER

OUTUBRO ROSA – ESSE PROBLEMA TAMBÉM TE PERTENCE?

ORIGEM DO BDSM

BDSM, POR ONDE COMEÇAR?

HUMILHAÇÃO ERÓTICA

DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA

FETICHE X CAPITALISMO – ENTENDENDO O DESEJO DE TER!

CASTIDADE

SUB SPACE

CONTRATO BDSM – MODELO EM ANEXO

CONSENTIMENTO NO BDSM

HISTÓRIA DA CULTURA LEATHER

RELAÇÃO BDSM X SEXO

UMA REFEIÇÃO SENSORIAL

24/7

IMAGEM SOCIAL E BDSM

IMPACT PLAY

FETICHE X FANTASIA

AS BASES DO BDSM E AS DIFERENÇAS ENTRE ELAS

RED FLAGS

Uma resposta

  1. Excelente reflexão da Sra. Storm hoje! Muito perspicaz traçar um paralelo entre o que acontece num reality show hoje com o que aconteceu na década de 1970 em São Francisco com o Milk. E ela ainda acrescentou uma das mais importantes citações de Paulo Freire! Maravilhoso!

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