Vamos conversar um pouquinho sobre sadismo? Não vou me aprofundar sobre a parte técnica do BDSM sobre o sadismo, pois aqui no site já tem uma extensa literatura sobre o tema. Ao longo dessa última semana me perguntaram sobre a origem do sadismo. O que me fez pensar um pouco e, em segundos, o tema de hoje estava pronto na minha cabeça.

Pois bem, para entendermos o sadismo nós temos que parar com essa crença de que somos uma raça superior. Nós somos animais! Assim como todos os outros, somos apenas uma raça diferente que se comporta de maneira diferente da grande maioria dos outros. Para termos uma ideia, o cérebro de um rato (um camundongo daqueles de laboratório do tipo pink e cérebro) tem cerca de 90% de compatibilidade com um cérebro humano. Ainda nas aulas de faculdade aprendemos que o diferencia o cérebro humano de um cérebro de um rato é a nossa capacidade de prospectar o futuro. Por isso, na área de neurologia, neuropsiquiatra, psicobiologia etc fazem-se muitos estudos com animais, principalmente ratos.

Por isso, temos que considerar que temos instintos. Somos animais, somos instintivos.

A filosofia nós últimos séculos tem discutido sobre se nascemos bons ou se a sociedade nos corrompe, etc etc etc. não cabe também discutirmos sobre isso. O que podemos constar é que, se não somos socializados, não vamos, por um insight perceber o que ele pode e não pode fazer. Claro, algumas informações pegamos no ambiente, como a linguagem, que, em casos normais, apenas sendo exposto aquela língua, aprendemos aquele idioma. Mas agora, regras de convívio social nós aprendemos quando são nós ensinado. Para vermos isso de uma forma mais lúdica, podemos ver filmes como Mogli, o menino lobo e o clássico da Disney, Tarzan.

Com o desenvolvimento da agricultura e a formação das primeiras civilizações que, junto.com as primeiras vias foram criadas, mesmo que paralelamente as regras sociais. Algumas delas seguimos até os dias de hoje. Na idade média a coisa ficou ainda mais forte. Nesse ponto a moral e os bons costumes começaram a gritar, foram criados então os primeiros protocolos de conduta de como deveríamos nos portar em determinadas situações, como uma maneira de controlarmos nossos instintos mais bestiais, animalescos, etc.

Mas isso não quer dizer naturalmente que nossos instintos primitivos tenham sido suprimidos e eliminados ao logo da evolução da espécie. Vão mais algumas gerações para nós fazer chegar a um ponto que nossos instintos primitivos sejam completamente suprimidos pela evolução. O medo é um exemplo clássico de como os instintos de proteção a vida continuam os mesmos desde as épocas das cavernas. Precisávamos de medo, de estruturas rudimentares para fugir de possíveis ameaças quando morávamos nas savanas, quando podíamos a qualquer momento ser atacados por tigres ou leões. Hoje não temos mais isso, mas toda vez que nos sentimos ameaçados, a nossa amigdala dispara da mesma forma quando dispara quando nos separamos com um leão em uma savana africana.

Pois bem, onde entra o sadismo em cena? Aquela história de que todos os seres humanos são sádicos é certo em até certo ponto. Quando liberamos nossos instintos mais primitivos, somos liberados a isso, quando nos livramos das convenções sociais baunilhas e entramos dentro do submundo do BDSM onde os sádicos podem brincar com o sentido de alerta do bottom, que conseguimos aplicar tudo aquilo que é instintivo em nós mesmos.

Isso nos autoriza a sermos animais irracionais dentro da cena? De maneira alguma. Há quase um ano eu venho batendo na tecla de uma racionalidade mesmo em uma situação completamente emocional. Temos que ter sempre em mente que o que o BDSM não quer, é sentimentalismo, ou seja, justificação emocional dentro da cena que nos afasta do real. Emoções vão acontecer, são inatas e também são nossos guias para a interpretação do nosso estado e também do estado mental do outro.

Sim, estou falando de empatia. Por mais sádico que o top seja, e necessário um background de empatia, para ver, em sinais não verbais de como o bottom está se sentindo ao longo da cena.

Sem termos estas capacidades básicas, de empatia, de cognição social, de teoria da mente, ouso dizer que o BDSM passa de uma cena saudável para uma relação abusiva. Mais, uma relação não precisa necessariamente envolver amor – aquele amor romântico que vemos em filmes da Disney -, para uma relação se desenvolver, ela precisa de, no mínimo empatia. E relações BDSM não se encontram isentas dessas necessidades. Relação sem empatia, e tóxico, sadismo em empatia é abusivo, BDSM sem empatia é melhor correr para o outro lado.

Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.

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Uma resposta

  1. A capacidade de nos colocar no lugar do outro é o que diferencia as pessoas boas das más. Temos vivido num mundo em que a empatia é cada vez mais rara, e o resultado está aí para quem quiser ver.
    Se não achamos correto que isso ocorra em escala global, por que deveríamos permitir que isso acontecesse em nossas relações, sejam elas baunilha ou fetichista? Não acredito que a maioria de nós quer se tornar um mártir, queremos apenas nos sentir plenos e realizados.

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