Olá danadinhos! Como vocês estão?
Não sei se vocês perceberam mas, semana passada, nós da Redação do Site Dom Barbudo trabalhamos três vieses diferentes do Ego e o BDSM.
Dr Psi nos entregou lucidez e clareza quando falou sobre Ego e Arrogo, eu falei sobre a Fragilidade dos Egos e o Mestre Sadic sobre a necessidade egoíca de validação no meio.
Pois bem, essa semana, mais uma vez a tríade vem com um assunto, três diferentes abordagens, e essa semana estamos falando de PODER!
Para quem não leu sobre o Poder na visão do Dr Psi, sugiro voltar lá na postagem de segunda feira, leia e volte aqui! Assimile o texto de hoje e amanhã finalize o raciocínio sobre o tema!
Poder não é uma coisa fácil de se falar, ele é etéreo e se faz presente, ou não, na vida de todos. E, para falar sobre Fluxo de Poder no BDSM, infelizmente vou ter que assumir uma fala um pouco mais “pedagógica” e sacar da minha OAB e explicar antes de qualquer coisa, fluxo de poder no Estado Democrático de Direito. Prometo que serei breve trazendo somente o que é pertinente ao nosso desenvolvimento de raciocínio!
Para uma organização social que se rege pelo Estado Democrático de Direito, todo poder emana do povo. Isso é claro e evidente no parágrafo único do artigo 1º da nossa Constituição que versa “Todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos dessa Constituição”
O Estado Democrático de Direito pressupõem que todos nós, enquanto cidadãos, temos nosso direito autônomo de participação política e de gerência da organização da nossa vida em sociedade. É justamente por esse motivo que falas como “o Estado ter carta branca” ou, atitudes como o “Estado executando cidadãos” não são aceitas num Estado saudável de Democracia.
Esse direito autônomo que o cidadão tem de se auto gerir, nada mais é do que a nossa própria capacidade e competência para elaboras as normas e condutas da nossa vida particular que não firam a organização da sociedade como um todo.
Quando reconhecemos a autonomia do poder individual, dentro de uma organização Democrática, usamos expedientes jurídicos e políticos para nomear pessoas que entendemos ter capacidade política de organizar a sociedade de tal forma que nossos direitos, mesmo que estando limitados, não nos torne limitantes em exercício.
Ou seja, a partir do momento que escolhemos representantes para cuidar de nossos interesses, transferimos a eles o direito de nos regular a existência, deixamos de ser auto reguladores e passamos a ser regulados por um ordenamento, desde que, o Estado não use de sua força para impor as condições previamente aceitas no pacto social.
Isso meus queridos danadinhos, se chama HIERARQUIA! E essa hierarquia que vivemos em sociedade é uma HIERARQUIA VERTICAL! Ou seja, o Estado manda, a gente obedece, e em caso de desobediência, o Estado corrige, mas não violenta.
Agora que já entendemos mais ou menos como funciona a hierarquia vertical em seu exemplo mais macro, vamos trazer para o detalhe e pensar no micro.
Dentro de uma relação baunilha padrão, não existe hierarquia vertical, mas sim igualdade entre os participantes. Um casal baunilha pode até ter aquele que toma mais a frente das decisões mas isso, muitas vezes “vem com o tempo”, com as características pessoais das partes. Não existe um acordo entre as partes onde um é nomeado como “quem manda”. O poder em uma relação baunilha corre na horizontal e isso é o maior diferencial de uma relação baunilha para uma relação de BDSM.
Enquanto numa relação baunilha “os dois são iguais”, fazendo assim, os dois o papel de auto reguladores, em uma relação BDSM existe a verticalidade, ou seja, uma das partes foi num primeiro momento aceito como Dominante e está então, no topo da hierarquia, enquanto o outro, que consentiu com esse configuração, estará na parte debaixo da relação hierárquica. E, assim como no Estado de Direito, quem está acima manda, quem está embaixo obedece, e quem está em cima não pode exceder seu direito transferido de uso de poder para machucar quem está embaixo.
A confiança, o respeito, o compromisso e a seriedade, são coisas que, tanto no baunilha como no BDSM não sofrem fluxo, ou seja, devem sempre existir de forma igualitária a ambos. Porém, o que realmente difere os relacionamentos baunilha dos BDSMers é o que, do lado de cá, chamamos de Hierarquia que é consolidada pelo Fluxo de Poder existente em acordo prévio (Negociação).
Esse poder flui de quem se submete para quem dominará, ou seja, o fluxo de poder sempre se dá de baixo para cima, de bottom para Top.
Um Top, somente passa a ser “Dono” de um bottom quando esse já fluiu o seu poder para ele, antes disso, não existe relação Dono x posse.
Quando dizemos que bottoms não precisam ter pressa e que, as negociações devem ser muito bem feitas, é exatamente por esse motivo.
O poder abrilhanta os olhos, envaidece, inebria mas, principalmente, também pode vir a corromper.
Quantas e quantas histórias não vemos todos os dias de Top que abusam do poder? Às vezes de um poder que ele nem tem! Quantas e quantas pessoas não conhecemos que já encontraram Tops que “mandaram” ser chamados de Sr. porque na cabecinha deles, esse poder lhes pertence de forma inerente somente pela posição de jogo? Pois então …
Outro ponto muito importante que quero ressaltar e trazer o pensamento aqui para vocês, é a questão da violência.
Vocês perceberam que eu deixei bastante explícito que, dentro da consensualidade do Estado Democrático de Direito, o Estado que é o detentor da posse do exercício do Poder, não pode agir de forma violenta com aqueles que o cederam o poder, correto?
Exatamente a mesma coisa no BDSM!
Eu, particularmente, não entendo o motivo de algumas pessoas vincularem o BDSM somente à violência. Entendo que muitos de nossos jogos possuem impacto corporal grande sim, sem dúvida, mas BDSM sadio não é BDSM violento!
Tops que agem de forma violenta e desrespeitosa com seus bottoms, deveriam ser interditados e suas licenças de Tops sofridas impeachment!
BDSM fala sobre consensualidade, sobre abstração, sobre condução, sobre treinamento, sobre o saciar nossas nossas dissidências eróticas e sexuais.
Tops não devem ser violentos. Não devem castigar aleatoriamente, não devem punir sem explicar ao bottom o motivo dele estar sendo punido. Punições devem ter hora pra acabar. Deve haver diálogo posterior para saber se a lição foi entendida. Tudo isso é o que o RESPEITO no BDSM trata. Não estou afrouxando nenhuma relação. Só estou dizendo que deve existir o respeito!
Então, aos bottoms de plantão, o conselho que fica é: analisem muito bem para quem vocês estão fluindo seus poderes pois, uma vez que o poder é transferido, o controle passa para as mãos do Top e esse, precisa se manter no eixo para não perder a mão no uso desse poder que lhe foi transferido.
E caso você perceba que ele não está conseguindo lidar com a condução dessa transferência, lembre-se que você transferiu o exercício desse poder, mas o direito do poder continua sendo seu. Ao menor sinal de abuso, fuja para as montanhas!
E antes que algum Top venha me questionar dizendo que em seu Castelo não há Democracia, e quem manda é ele que é o Rei, eu tenho só um lembrete: BDSM é jogo de abstração! Você pode até ser bastante verdadeiro na sua forma de viver o BDSM trazendo pra ela, bastante realidade, mas no frigir dos ovos, eu e você sabemos que você não tem sangue real! Então, não passe vergonha!
No mais, respeitem o fluxo de poder e hidratem-se!
Sra Storm
AUTORA: SRA STORM
Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
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