Olá danadinhos e danadinhas, vocês estão bem?
Quero antes de qualquer coisa, pedir desculpas para vocês pois me ausentei semana passada. Tive alguns contratempos e precisei me ausentar, mas já estou de volta, firme e forte! Afinal, eu não sou uma garoinha né? 😬
Pois bem, vamos lá ….
No final de 2020 eu coloquei uma caixinha de perguntas no perfil do Instagram do DarkRoom, pedindo para as pessoas darem sugestões e várias pessoas me pediram para escrever sobre Blood Play.
Essa não é a primeira vez e, surpreendentemente, dessa vez, foram muitas pessoas mesmo então, aqui está … vamos falar de SANGUE!
Acomodem-se e aproveitem!
O Blood Play, ou Jogos de Sangue, são todos os jogos que tem por intenção a obtenção do fluído corporal conhecido como sangue! Em linhas gerais, se a intenção da prática, for a obtenção da prática for tirar sangue do bottom, estamos diante de um jogo de sangue! Entre elas temos o Cutting, o Needle, o Spanking Hard entre outros.
“Quando falamos de Blood Play estamos falando de uma das práticas com maior apelo visual do BDSM. Tirar sangue, fazer sangrar, respingar sangue, tudo isso e mais um pouco, faz parte de um fetiche tão flexível quanto o próprio Spanking. Flexível porque há diversas formas de fazer, diversas formas de aproveitar e diversas formas de dar errado.”[1]
Nem preciso lembrar aqui que, todo Jogo de Sangue é necessariamente uma Edge Play não é mesmo? Afinal, brincar com sangue requer não somente muita confiança, como também prática e PRINCIPALMENTE higiene e segurança.
O que todo mundo precisa ter em mente é que, quando se decide jogar esse tipo de jogo, os principais riscos são:
📌 transmissão de ISTs
📌 machucar de forma séria e grave
📌 infecções decorrente de contágio com objetos não esterilizados e sujos
📌 danificar alguma veia ou artéria
📌 cicatriz na pele
“Existem dois riscos maiores, um, é silencioso e o outro, explícito. O explícito é o risco de causar uma hemorragia, algo que não vai acontecer pela rutura de veias mas sim de artérias as quais possuem pressão suficiente para jorrar sangue mais rápido do que ele possa coagular e estancar. Então, neste risco o mais importante é estudar e conhecer a localização das grandes artérias. Adiciono ainda que é interessante estudar o apalpamento de artérias, assim é possível encontrar a posição específica em cada bottom e se planejar melhor para as práticas minimizando riscos. Você quer tirar sangue apenas de capilares, estude e concentre seu jogo neles.
O segundo grande risco é silencioso, e vai pegar de surpresa quem acha que dá pra usar qualquer coisa para arrancar sangue. A infeção. É muito, mas muito importante que o material, o ambiente e o botton estejam devidamente preparados para a sessão. Uma dica é aceitar que alguns acessórios não podem ser limpos, eles devem ser descartados após uso em Blood Play, e não estou falando de coisas óbvias como agulhas e bisturis, estou falando de escarificadores improvisados com pregos e grampos comuns, acessórios de madeira porosa que não podem ser completamente limpos, anzóis, raladores de latão e por aí vai. Improvisou? Joga fora! Se existe resquício de matéria orgânica no acessório, então ele se tornou uma possível cultura de bactérias que comem aquela matéria orgânica, aquela matéria orgânica no caso é a mesma do bottom, entao, joga fora! Eu sei que ficou lindo aquele novo moedor de bottom improvisado estilo MacGyver! Mas usou? Joga fora!”[2]
Por todos esses motivos, quando eu falo em segurança, não estou falando somente da parte que envolve objetos, esterilização etc. A segurança num Jogo de Sangue começa entre os próprios parceiros e suas saúdes. Portanto, é MANDATÓRIO que sejam exigidos exames que abrangem desde tipo sanguíneo, ISTs, Hepatites até HIV. Fora isso também exames que demonstrem se o bottom é ou não diabético e, se for, sua contagem de glicose também! Pessoas diabéticas com contagem de glicose alta possuem dificuldade de cicatrização, o que pode desencadear uma série de outros problemas.
“Alem do exames citados é também importante conhecer a cicatrização do bottom, se ele tem algum problema de pele, algum histórico de queloide ou algum problema de coagulação.”[3]
Outra coisa importante para quem for se engajar nesses jogos, é manter um “kit de segurança que contenha, no mínimo, no mínimo, band-aids, bandagem de algodão (gaze) e spray anti-séptico.
Dica da Tia Storm pra vida, nunca limpem machucados com algodão comum, os fiozinhos que o algodão solta podem causar infecções. Deixem o algodão para tirar esmalte, limpar a pele e para as crianças plantarem feijão!
Voltando ao foco …. o kit é de extrema importância até mesmo para o aftercare afinal, depois de toda a lambança sanguínea, além de um bom banho com sabonete antisséptico, fazer um curativo muitas vezes, pode ser necessário!
Agora vamos falar um pouco sobre o que usar … os jogos de sangue possuem uma pequena gama de possibilidades, aqui vamos desde um ralador até uma faca. O mais importante aqui, é que TODOS os materiais utilizados estejam devidamente esterilizados e se mantenham dessa forma até o momento do uso! Outras duas coisas que devem ser utilizados também estéreis são luvas e máscaras. O uso de luvas e máscaras é recomendado por que estamos falando de sangue né meu povo? Para uma contaminação acontecer, é literalmente, um respiro!
Existe uma máxima que diz que, “estéril só toca em estéril” o que isso quer dizer? Por exemplo, colocou as luvas, vai manusear agulhas? Que elas também sejam estéreis, ou seja não estejam comprometidas com sujidades. Uma vez que você colocar as luvas, tudo deve estar esterilizado a partir daí e, não pode usar essa luva para pegar em objetos não estéreis e voltar para os estéreis, isso dá na mesma que não usar luvas.
Com relação a ambientação da cena, a minha sugestão é que o local seja:
📌 limpo, longe de tapetes, carpetes, cortinas, almofadas, etc
📌 tenha uma boa iluminação
📌 seja de fácil limpeza
📌 possua lugar disponível para limpeza e esterilização dos objetos que são passíveis de limpeza, e local para descarte de materiais descartáveis.
A segunda imagem desse post mostra o mapa de veias e artérias do corpo humano. Há que se ter uma certa habilidade no conhecimento da anatomia humana para não correr o risco de fazer caquinhas aqui. Lugares como coxas, pulsos, braços e pescoço não são lugares recomendados para Jogos de Sangue por serem lugares com grande concentração de veias e um serviço de irrigação sanguínea bastante farto. Os lugares mais indicados são os que possuem menos irrigação sanguínea e maior concentração de tecido gorduroso (bundinhas por exemplo!)
É bom sempre lembrar que cortes e escoriações superficiais tendem a cicatrizar com mais facilidade e deixarem marcas menores na pele!
Embora, na minha opinião seja chover no molhado, dizer que uma boa negociação e um excelente estudo da prática são mais do que obrigatórios mas, como aprendi que não podemos pressupor nada nessa vida, fica aqui a minha ressalva: negociação, exames médicos e estudo são OBRIGATÓRIOS nos Jogos de Sangue! Essas coisas não são negociáveis!
Ok! Negociou muito bem, confia no parceiro, fez todos os exames, está tudo bem, arrumou o espaço correto, os equipamentos de interesse e foi pra sessão …
Tenha sempre um telefone por perto! De novo, estamos falando de cortes, de sangue. Minimizar os riscos é nossa obrigação mas infelizmente, não conseguimos ter 100% de certeza que algo pode acontecer. E, nesse caso, de algo acontecer, um atendimento médico precisa ser acionado.
Se deu tudo certo, terminaram a sessão lindos e plenos, hora do Aftercare! A higiene e limpeza da área afetada são primordiais e devem ser feitas no bottom, assim que a sessão terminar. Como estamos falando de perda sanguínea, estamos falando também de queda de pressão, por isso, ter uma cobertinha caso o bottom sinta frio também é de bom tom!
Enfim, espero ter dado um norte para aqueles que se interessam por práticas que possam ser entendidas como “geradoras de sangue”!
E, como último conselho do Sr Violinista: “Outro pronto muito importante é saber quando parar. Você quer tirar sangue do bottom mas não quer sangrar o bottom, o jogo tem intenção de causar impacto visual e não físico.”
Gostou? Tem alguma dúvida? Algum comentário? Manda bala! Vamos conversar!
Um grande abraço e continuem se hidratando
Sra Storm
[1], [2] e [3] Sr Violinista
AUTORA: SRA STORM
Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
O VIÉS DE CONFIRMAÇÃO E O BDSM
SUBMISSÃO SIM, SUSERVIÊNCIA NUNCA!
SER DISSIDENTE É SER RESISTENTE
COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA NO BDSM
FETICHE DO VOYEURISMO E FETICHE DO EXIBICIONISMO
CONVERSAÇÃO, NEGOCIAÇÃO E CONTRATO
ABUSOS! PRECISAMOS FALAR SOBRE
SÍMBOLOS – LEATHER E BDSMFETICHES, PARAFILIAS & TRANSTORNOS DE PARAFILIAS
SAFEWORD – A CONTÍNUA NUVEM CINZA!
BISSEXUALIDADE E PANSEXUALIDADE X BDSM
POSIÇÕES: TOP, BOTTOM E SWITCHER
OUTUBRO ROSA – ESSE PROBLEMA TAMBÉM TE PERTENCE?
FETICHE X CAPITALISMO – ENTENDENDO O DESEJO DE TER!
CASTIDADE
SUB SPACE
CONTRATO BDSM – MODELO EM ANEXO
Uma resposta
Bastante completo e bem embasado o texto da Sra. Storm! Penso que é uma prática polêmica, pois é necessário que todos os cuidados que foram descritos sejam seguidos com muito rigor, porém quando falamos de pessoas há quem se preocupe de verdade e quem se deixe levar pela emoção do momento. Acredito que do ponto de vista de saúde física é a atividade de maior risco dentro do BDSM.