ALIENAÇÃO CONSCIENTE

Oi amiguinhos do BDSM. Como estão sobrevivendo a está quarentena? Se é que vocês estão seguindo a quarentena. Este texto de hoje vai envolver BDSM, mas um pouco menos do que eu gostaria. Na verdade, quero fazer uma súplica a vocês. Este texto é quase um ode à saúde mental em tempos de crise.

Mas últimas semanas tenho falado muito com os meus pacientes sobre uma coisinha que eu chamo com muito carinho de alienação consciente. O que e isso, menino? Você que defende tanto a educação, a liberdade de expressão, o conhecimento e a autonomia falando de alienação. Calma, não é bem este tipo de alienação. Por alienação consciente eu digo sobre aquele estado em que a gente escolhe, através da nossa incrível capacidade de escolha autêntica – já falamos sobre isso – nos afastar de algumas situações ou notícias que nos fazem mal e literalmente focar em coisas que nos fazem bem. Ter um momento de autocuidado, entender e praticar que as vezes eu assistir um filme bobo estilo sessão da tarde ou maratonar aquela série que eu adorava quando era adolescente vai me fazer bem.

As vezes precisamos nos desligar do nosso mundo real. E o entretenimento, a cultura, o BDSM está aí para exatamente isso. Quando estou suspenso sobre cortas em uma cena de shibari, eu não estou pensando em boletos, que a pia da minha casa está descolando e eu preciso ligar pro marido de aluguel. Eu só estou vivendo aquele momento. Minha persona está entregue aquela situação pensando só aquilo. Nossa cabeça, graças a evolução das espécies tem a incrível capacidade de identificar e gerar hipóteses. Pensamos sobre tudo, absolutamente tudo. Estamos aqui agora e pensando no que temos que fazer mais tarde, ou o que temos que fazer amanhã ou tendo uma perspectiva de um futuro que muitas vezes é incerto. E qual o resultado disso? Claro! Ansiedade.

Costumo dizer que se 2020 me ensinou uma coisa foi que eu não tenho controle de absolutamente nada a não ser meus comportamentos, meus pensamentos e meus sentimentos – note aqui que eu não disse emoções, porque elas são um processo biológico automático. Eu não sou responsável pela morre de x números de pessoas por dia, mas eu sou responsável se eu fico ou não em casa. Eu não sou culpado pelo desemprego no mundo, mas eu não posso me sentir culpado por ter um trabalho que tem uma participação de lucros boa no fim do ano. Não posso me exibir, mas também não preciso me sentir culpado. Eu não sou culpado da televisão estar passando várias desgraças a cada segundo, mas sim eu sou responsável em escolher o que eu vou assistir, o que eu vou consumir de informação.

Em um momento de auto revelação, vou expor pra vocês o que eu fiz pra me manter estável durante todo esse último ano caótico – e sim acho que eu estou estável durante este tempo todo -. No começo, quando a televisão só falava sobre notícias ruins e eu estava integralmente em casa eu escolhi adequar minha jornada de trabalho para o período da tarde e noite, dormir até mais tarde – um mimo que eu me dei – e durante os momentos livres fazia alguns cursos que estavam atrasados ou maratonava séries que eu tinha começado. Depois comecei a pegar os livros que eu tinha já minha estante e comecei a colocá-los em dia também, consegui finalmente ler lucros incríveis que eu tinha comprado há anos e não tive a oportunidade de ler. Voltei a ver novelas antigas que eu sempre gostei – podem me julgar, este é meu guilty pleasure. Enfim, eu escolhi, através da minha capacidade de escolha autêntica me afastar de eventos emocionalmente desgastantes para fazer coisas que eu gosto de fazer que eu me sinto bem, que vai preservar meus lindos neurônios que eu cuido e hidrato com tanto carinho.

Ao escrever isso eu penso em duas possíveis reações de você, leitor e, como sempre, são bem dicotômicas na minha cabeça. a primeira onde você concorda com tudo isso que eu estou escrevendo ao mesmo tempo em que está pensando em formas de se autocuidar. E a segunda que tem pensamentos de quase-furia pensando que “eu tenho que..” , “eu devo…” Ou “eu gostaria mas eu não consigo”. Amigos, sinto lhe informar mas isso são pensamentos automáticos disfuncionais. Seus cérebros estão trabalhando por meio de distorções que te deixem focados no que ele já está acostumado, não no que necessariamente é bom.

Distorcemos nossos pensamentos ou nossa realidade para confirmar uma ideia que pensamos que não necessariamente é real. Estamos sempre buscando tratamentos baseados em evidências, sempre buscando alternativas válidas e científicas para a nossa vida, mas porque não buscarmos isso para a nossa forma de pensar? Porque não parar um único segundo para pensar de aquilo que estamos pensando ou agindo tem algum fundamento lógico.

Ok! Desculpa, sei que foi muita informação para um dia só e que vocês podem não estar preparados para saber isso.

Respirem fundo, tomem uma água, desliguem a televisão e, se persistirem os sintomas, procure um terapeuta mais próximo.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.


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Uma resposta

  1. Manter a sanidade mental após mais de um ano de pandemia, isolamento e confinamento não é algo fácil. E, com o bombardeio diário de notícias ruins, há que se buscar uma forma de extravasar em alguns momentos, de fugir um pouco da realidade, sonhar… não existe uma fórmula única pra isso. Alguns cozinham, outros leem, há os que assistam filmes e séries, e há quem opte por se transformar em outra pessoa, pelo menos por algumas horas. E, se a pessoa for adepta do BDSM, esta conta está fechada! Se, em situações muito menos estressantes que uma pandemia, o BDSM já ajuda a suportar a realidade, imaginem neste contexto!

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