SOLIDÃO, SEXO E PANDEMIA

Estamos há um ano em isolamento social. Bom, aqui já podemos colocar um parêntese considerável, então é melhor eu reformular. Estamos há um ano com uma parte da população em isolamento social. O restante está com as atividades de prazer restringidas. E como estamos com tudo isso?

Algumas pessoas certamente estão surtando, como psicólogo eu consigo ver isso dentro do consultório e até mesmo fora dele. Outras pessoas de alguma forma já se adequaram a essa nova rotina. É legal observar que pessoas mais introvertidas, com um perfil de personalidade com menos extroversão já estão bem mais adequados a essa realidade, enquanto pessoas extrovertidas, com um perfil de extroversão mais alto devem estar surtando dentro de casa querendo sair, querendo voltar a situação normal a qual todos estados acostumados.

Nós, seres humanos somos seres sociais. Somos seres biologicamente destinado a sermos sociais. Crianças com dias de nascimento tendem a fixar a atenção e virar o rosto para estímulos que estão relacionados a situações pro sociais (rostos por exemplo), preferem vozes humanas, desenvolvem apego com figuras de referências e diversos outros marcos do desenvolvimento que corroboram o fato de que somos seres sociais. Isso não podemos negar. Tem algumas pessoas que, embora possuam essa preferência social acabam, por condicionamento, preferindo ficar sozinhas. Pessoas inseguras, tímidas, que embora necessitem não possuem tanto traquejo social vão preferir ficar sozinhas. E isso não necessariamente é bom, pois existe algo comportamental que está barrando uma preferência biológica.

E como fica o sexo e o BDSM no meio de tudo isso? Tanto o sexo normativo (baunilha) quanto o BDSM são jogos de representações sociais, precisamos de uma outra pessoa para que aquilo ocorra. Em partes, podemos satisfazer nosso desejo sexual sozinhos com masturbação, brinquedos eróticos encontrados em sex shops, etc. Mas nunca podemos fazer sexo sozinhos. A relação sexual, justamente por ser uma relação vai envolver, no mínimo mais uma pessoa – as vezes mais duas ou três para os mais sedentos haha.

Já discuti aí longo dessas postagens semanais, quando eu consigo, que podemos sentir tesão em diversas formas. As vezes um flerte e muito mais sexy, da muito mais tesão do que uma relação sexual completa com a penetração. A cantada, a preliminar, o olhar, o jantar, o gesto muitas vezes vão ser mais sexy do que o ato sexual. A penetração as vezes vai ser apenas para consumar aquele fato de tesão que foi iniciado em uma conversa no WhatsApp tempos antes.

E é exatamente nessa relação que o BDSM entra. Dentro de uma relação BDSM (olha o termo relação aqui de novo. Não podemos fazer BDSM sozinhos, vamos precisar de, no mínimo, mais uma pessoa) vamos brincar com tudo que muitas vezes pode passar desapercebida em uma relação baunilha. Muitas vezes o BDSM está nos detalhes, no olhar, no ato, no gesto, no peso da mão – ou na falta de – no uso de brinquedos que normalmente fogem a norma padrão, ou uma atenção maior aos detalhes do uso daqueles acessórios que fogem aí padrão. E tudo isso pode ser ainda mais sexual do que a própria relação sexual. Já disse diversas vezes aqui que o BDSM pode ou não envolver sexo, vai depender do contrato e o que foi conversado. E para ter conversa, precisamos, obviamente de um autor e de um receptor (já aprendemos isso na aula de língua portuguesa no ensino fundamental).

Sortudo(a)s são aqueles que possuem alguém do lado para enfrentar esse ano de provações que fogem do âmbito da saúde e, infelizmente, político, pois não deveria ser. Mas se torna uma coisa social. Ficamos cadentes, porque precisamos de contato social. Ficamos com tesão porque a masturbação o consolo, o flashjack não vai satisfazer nossa vontade sexual completamente. Precisamos do contato, precisamos da pele na pele, precisamos olhar nos olhos, sentir cheiros, sentir texturas. Precisamos de outras pessoas. O Brasil é um dos países mais “calorosos” e “sociais” que existem, o que nos leva a precisar desses contatos sociais ainda mais. De uma forma que outros países necessariamente não precisam, o que torna esse processo de isolamento social ainda mais difícil.

Infelizmente esse isolamento prolongado, porém necessário, vai aumentar o nosso nível de cortizol, aumentando o estresse e dificultando ainda mais nossas relações sociais. Estamos aprendendo a nós virar sozinho, a depender cada vez mais de máquinas do que de pessoas. O que é péssimo!

Para finalizar deixo aqui uma reflexão. Quando isso passar e isso VAI passar, o quanto vamos ter que nos esforçar para estabelecer e manter laços sociais que foram dizimados por esse excesso de olhar interior, de reflexão – ou pelo menos tentativa – de reflexão sobre nossos próprios atos?

Se persistirem os sintomas, procure o terapeuta mais próximo.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas.

MIMADOS EMOCIONAIS

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DECEPÇÕES CAUSADAS PELO BDSM

RAZÃO X EMOÇÃO

BDSM X PODER

EGO, ARROGO E BDSM

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CONCILIANDO A VIDA BAUNILHA E A FETICHISTA

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EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 2: EXPERIENCIAS SEXUAIS

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Uma resposta

  1. Tenho certeza de que esta pandemia irá afetar seriamente as relações humanas. Embora eu abomine o termo “novo normal”, não há como se iludir e acreditar que tudo voltará a ser exatamente como era antes… teremos que trabalhar nosso saudosismo e reaprender a nos relacionar, numa sociedade com certeza mais temerosa e menos saudável do ponto de vista psicológico. Gostaria de acreditar que iremos evoluir com isso, mas tenho cá minhas dúvidas… mas somos seres sociáveis e que precisamos da relação com os outros, passaremos por um grande período de readaptação.

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