Primeiramente eu gostaria de frisar que eu, Sra Storm, acredito que toda relação de dominância pressupõem dominação psicológica, caso contrário, teríamos 2 atores performando que existe a troca de poder, logo, eu não entendo a Dominação Psicológica como uma “prática” mas sim, como o comportamento natural de qualquer relação vertical.
E nesse comportamento, todo cuidado é pouco pois, a dominação psicológica cria, o que eu chamo de “amarras invisíveis” pois, à medida que eu vou dominando psicologicamente o bottom, mais eu o tenho agarrado a mim, gerando assim, um elo muito maior do que, às vezes, pode-se tornar não muito saudável.
A dominação psicológica, se apresenta dividida em:
Dominação Condigna
Impõe-se um estimulo desagradável ou doloroso pelo não cumprimento de um ordenamento ou pela má execução do que foi designado. É o poder gerado por recompensa negativa advinda da não execução satisfatória do que se é esperado.
Exemplo: o bottom deixou de cumprir uma regra, o Top o pune dolosamente causando um estimulo negativo através da dor para que o ato não se repita.
Dominação Compensatória
Estimula-se positivamente o indivíduo toda vez que este cumprir um ordenamento ou responder satisfatoriamente a um estímulo. É o poder inerente da expectativa do indivíduo de receber uma recompensa pelo cumprimento do ordenado.
Exemplo: bottom passa a agir de forma “correta” pois sabe intuitivamente que será recompensado por isso.
Dominação Condicionante
Consegue-se uma resposta automática do indivíduo submetido para cada tipo de estímulo ou ordenamento. É o poder inerente do condicionamento de reflexos, alcançado através da repetição e da assimilação de uma reação automática para o estímulo.
Exemplo: O bottom já sabe o que deve fazer seguindo os rituais para a sessão, para ele o cenário “se for assim, eu faço assim” já é lugar comum em seu comportamento.
Dominação Afetiva
Consegue-se que o indivíduo submetido execute os ordenamentos através de laços de afetividade. Estimulado por sentimento como amor, paixão, amizade, o sujeito executa o que lhe é designado na busca pelo estreitamento desses sentimentos.
Exemplo: por amor incondicional e vontade de agradar ao Dono o(a) sub atende prontamente as ordens e comandos. Essa é, na minha opinião, uma das formas mais perigosas de dominação pois vincula o ato a um segundo sentimento não tão fácil de se desvencilhar.
Dominação Depreciativa
Estimula-se depreciativamente o indivíduo que está sendo submetido pelo não cumprimento de um ordenamento, pela má execução do que foi designado ou para diminuição da estima. É um poder resultante do esforço desse indivíduo em reverter os fatores depreciativos da estima ou humilhantes.
Exemplo: bottom foi designado para limpeza dos instrumentos e não o fez a contento, o Top usa da depreciação/humilhação verbal para que ele se sinta inferior e isso não se repita.
Dominação Privativa
Priva-se o indivíduo submetido dos seus objetos de desejo. Criando assim um poder inerente da expectativa do indivíduo de receber como recompensa o seu objeto de desejo pelo cumprimento do ordenado.
Exemplo: o bottom deixou de cumprir o que foi acordado e por isso não encontrará nem ou falará com o Top por um período acordado previamente.
O Top querer dominar certas partes da vida do bottom, inclusive a psicológica, é normal, é divertido e é até mesmo saudável para o contexto. Porém, transpor o saudável para manipular pessoas é errado, muito errado. E no BDSM isso é considerado abuso.
E é exatamente nesse momento, quando se torna abusivo. que o divertido se torna perigoso, se torna baixo, se torna mau caratismo.
A dominância psicológica que vira manipulação traz consigo a chantagem, e todos nós sabemos, o que é uma pessoa chantagista!
A Dominação Psicológica saudável desperta desejos e interesses escondidos no bottom e revela habilidades, também muitas vezes escondidas, nos Tops. Quando usada com parcimônia e sensatez, todo mundo ganha nesse jogo!
A Dominação Psicológica, também precisa ser analisada com base no seu estímulo de consensualidade. Uma mente que é dominada psicologicamente de forma saudável, ela é positiva, ela responde ao estímulo da dominação não por estar com medo de algo mas sim, por que ela quer, mesmo que inconscientemente, ser dominada.
Se eu eventualmente digo ao meu bottom, numa conversa despretensiosa, que eu gosto de camisa rosa por exemplo e ele, quando for me encontrar decide colocar uma camisa rosa, tenham certeza que a sutileza da dominação já está ali plantada afinal, ele “se veste para me agradar”.
Muita gente não entende o quão sútil e agradável a Dominação Psicológica pode ser, mas, como uma pessoa que gosta de jogar jogos mentais, eu posso seguramente afirmar que a elegância do BDSM mora na Dominação Psicológica saudável.
“A cabeça do alheio é terra que se pisa com cuidado, mas com os passos certos, terras são desbravadas de forma muito prazeroso!”
AUTORA: SRA STORM
Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
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