DE REPENTE CORNA: COMO ME TORNEI CUCKQUEAN

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Toda moeda tem duas faces que se complementam, assim como quase tudo na vida tem dois lados. Essa dualidade é extremamente importante para nossa percepção do mundo. Para que tenhamos noção do que é quente, precisamos conhecer o frio. E ao mesmo tempo em que eles se opõem, eles também se complementam, uma vez que a existência de um está condicionada à existência do outro.
Tomando por base essa analogia, hoje eu venho dividir com vocês a minha descoberta pelo prazer na prática do cuckquean.

O termo cuckquean é o feminino do termo cuckold que quer dizer corno. Nesse caso, refere-se à corna, a mulher que sente prazer em ver seu parceiro com outras mulheres. Se esses termos são novos para você, sugerimos que assista o episódio do Café Fetichista sobre Nomenclaturas do BDSM”.

Lembro da primeira vez que Ele falou a palavra cuckquean e eu, muito sem graça, disse que nunca tinha ouvido falar e não fazia ideia do que se tratava. Foi durante o nosso processo de negociação em que Ele perguntou sobre meus gostos e preferências para saber se éramos sexualmente compatíveis. Ele me explicou e perguntou se eu curtia. Fui muito sincera e disse que não poderia responder sobre isso, mas que eu gostaria de saber mais. Claro que eu saí da conversa e passei a pesquisar tudo sobre o assunto! Entrei em grupos do fetlife, adicionei perfis do instagram, mas quase nada consegui saber, pois ainda se trata de um fetiche pouco conversado.

Até que um dia uma das aulas online do TES (The Eulenspigel Society) foi exatamente sobre isso e eu fiquei muito animada para participar. No dia da aula estava eu com fone, caderno e caneta na mão pronta para sugar toda informação que eu pudesse, afinal de contas esse era um prazerzinho que meu Mestre amava e eu, como boa submissa que se deleita com o prazer do seu dono, queria dar o meu melhor.
A aula foi ótima para que eu me familiarizasse com termos e expressões próprios desse fetiche, mas eu ainda estava longe de entender as sensações que isso poderia causar.

Eu “entrei” para a vida fetichista pronta a me permitir viver tudo que esse mundinho poderia me proporcionar. Eu estava aberta a experimentar as mais insanas fantasias.
No entanto, conforme minha relação com meu Mestre evoluía e nossa conexão aumentava, um velho companheiro meu começou a dar as caras: o ciúmes! Quando eu percebi isso, eu tratei de bloquear qualquer possibilidade de experimentar o cuckquean. Naquele momento, eu tinha certeza que essa era uma barreira que eu não conseguiria ultrapassar.

Embora eu estivesse bem com meu acordo não-monogâmico e soubesse que meu Mestre possuía outras posses, valia aquele antigo ditado “o que os olhos não veem, o coração não sente”. E com essa convicção eu permaneci durante um bom tempo até o dia em que conheci uma de suas posses que viria a se tornar a minha irmã de coleira. Com meu Mestre e minha irmã tive minha primeira experiência sexual a três, o que era uma grande fantasia minha e realizá-la só me fez querer mais.

Já há algum tempo eu levava essas experiências para a terapia, lia bastante conteúdo sobre a não-monogamia e conversava com meu Mestre a cada sinal de incômodo que eu sentia. E essa foi a forma que eu encontrei de trabalhar o ciúmes na minha relação até que ele não fosse um impedimento para eu me lançar nas práticas que eu gostaria de experimentar. E, assim, o interesse pelo cuckquean voltou pra minha vida. Também não é como se o ciúmes e a insegurança sumissem pra nunca mais voltar. Na verdade, ele ainda aparecia, mas agora eu estava aprendendo a lidar com ele e não deixar ele virar um monstro.

Vez ou outra eu conversava com o Mestre sobre meu desejo de ter novas experiências, novas sessões com outras submissas, com outras posses Dele e, em uma dessas conversas, surgiu uma oportunidade e eu pedi pra ver um vídeo dele com outra pessoa. Para minha surpresa, ver o meu Mestre se apossando de outra vadia mexeu muito comigo de uma forma que eu nunca havia imaginado. O tesão de assistir aquela cena tomou conta do meu corpo de uma forma diferente, mas eu ainda estava em uma situação controlada, afinal de contas era o meu dono transando com outra pessoa e isso não me envolvia. Mas de alguma forma eu acredito que ficou claro pra nós dois que eu estava pronta para dar o próximo passo.

Um dia, eu estava na rua voltando pra casa e recebo uma mensagem do Mestre. Quando subiu a notificação no celular eu identifiquei a imagem do quarto vermelho, mas nem passava pela minha cabeça o que estava por vir.
Ao abrir a mensagem, dei play no vídeo e fui acometida por um misto de sentimentos e sensações… primeiro o susto e a surpresa, aqueles milésimos de segundo que você ainda não sabe o que está acontecendo. Eis que, de repente, identifico meu Mestre fudendo outra vadia e uma quentura toma conta de todo meu corpo. Imagino que qualquer pessoa mais atenta na rua possa ter percebido meu rosto corar. De certo que essas linhas não vão dar conta de tudo que senti, porque as emoções iam e vinham, subiam e desciam como num eletrocardiograma. Meu coração estava acelerado, senti as pernas tremerem, tive ciúmes, tive medo, senti doer, o peito deu uma apertada forte… Ele ordenou que ela me dissesse o que Ele estava fazendo com ela e me chamasse de corna. Ela repetia rindo “Sua corna! Olha Ele me fudendo”, e eu vi a satisfação nos olhos dele.

Ao mesmo tempo em que lembro que tudo foi muito rápido, também lembro da sensação de sentir o mundo parar. Eu só conseguia ver aquela figura gigante e sentia o quão incomensurável era o seu poder em me fazer submissa ao seu prazer. Foi, então, que todos aqueles sentimentos e sensações se misturaram e a masoquista que habita em mim sentiu tesão naquela dor, naquela humilhação. Eu assistia o Mestre se satisfazer duplamente: ao se apossar daquela vadia e ao me humilhar ordenando ela desferir frases degradantes.

Assisti aquele vídeo em looping por bastante tempo e perdi as contas de quantas vezes gozei escutando “sua corna mansa”, alternando meu olhar entre o riso sarcástico da cuckcake (a amante; feminino de bull, o comedor) e a expressão sádica do meu Dono. Eu estava, então, pronta para ser a corna do meu Mestre, pronta para dar e sentir prazer naquela prática!

Dessa forma, como opostos que se complementam e são faces de uma mesma moeda, a minha persona cuckquean se materializou na dualidade do ciúmes e do prazer da masoquista que já habitava em mim.

AUTORA

Quem nos conduz nessa jornada pelo SubMundo é Belarina.

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