AFTERCARE E DROP

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Aftercare e Drop: a importância do cuidado físico e mental após uma sessão BDSM

Agora que você já leu aqui e se informou sobre os elementos que devem estar presentes em uma negociação BDSM, é hora de seguirmos em frente e entendermos um pouco mais do que compõe esse universo. Então, você se deparou com o SubMundo e ao mesmo tempo em que está descobrindo novas possibilidades de chegar ao ápice do seu prazer, também começou a ouvir termos em inglês que não são muito familiares, como é o caso de aftercare e drop. Mas calma que vamos conversar um pouquinho sobre a importância do aftercare e explicar nos mínimos detalhes o que isso quer dizer.

A tradução da palavra aftercare seria o “cuidado após” e essa palavra se aplica a diversos contextos como é o caso de quando uma pessoa retorna para casa após uma internação hospitalar e precisa de repouso e cuidados após esse período no hospital. Porém, como estamos falando do SubMundo dos prazeres, aqui esse termo refere-se aos cuidados necessários após uma sessão BDSM.

Em uma sessão BDSM pode acontecer uma infinidade de práticas e possibilidades (que devem ter sido combinadas entre os praticantes previamente), o que traz à tona uma carga de emoções muito grande. Você pode entrar em contato com traumas do passado, pode entrar em um transe profundo, pode submeter seu corpo a um nível grande de estresse, pode sentir culpa e repulsa após vivenciar tudo aquilo, enfim uma série de gatilhos podem ser disparados quando nos permitimos embarcar de cabeça nesse flow (estado mental em que a pessoa está entregue, imersa, concentrada e em estado de atenção plena em determinada atividade).

Mas e quando a sessão acaba, o que acontece? Nós contamos para você! Quando os praticantes encerram uma sessão, é hora do aftercare. Durante a negociação é bom que os praticantes estabeleçam algum sinal, alguma frase ou uma ação em que o dominante informe ao submisso que a sessão acabou. Aqui o dominante pode acender a luz, diminuir o som ou desligá-lo, podem sentar-se ou mudar de ambiente, enfim, ações que indiquem que a cena está sendo desfeita aos poucos.

É nesse momento que a parte que se submete e a parte que domina, cuidam do estado físico e mental um do outro. É o momento de respirar fundo, perceber que a cena acabou, despir-se daqueles personagens e entender que o que foi vivenciado durante a cena não corresponde à realidade; é hora de cuidar das possíveis lesões físicas com pomadas, antissépticos, compressas de gelo, etc; é também a hora de perceber (principalmente para quem está chegando) o que funciona melhor para você voltar para a realidade: se é ficar quietinho, calado, se é verbalizar as emoções para o parceire, se é ter um momento abraçado, se é chorar, se é comer, tomar um banho quentinho ou se é tudo isso junto. Mas isso você vai precisar descobrir na prática, porque cada pessoa funciona de um jeito único.

O importante é que assim que vocês voltarem do flow, tanto o submisso quanto o dominador se acompanhem mutuamente, checando se estão bem, se alguma coisa feita ou falada durante a sessão gerou algum incômodo. E isso não se restringe apenas aos minutos que se seguem após a sessão, é bom que vocês mantenham contato frequente por alguns dias, porque às vezes não processamos nossas emoções imediatamente.

Esse feedback entre os parceires é de fundamental importância para o desenvolvimento de uma relação sadia. Comunique ao seu parceire o que você não gostou ou elogie o que você gostou e gostaria de repetir. Por exemplo, se você percebeu que o spanking em determinada área não foi bom para você ou que determinado instrumento você não curtiu, verbalize isso! De repente você não chegou no seu limite a ponto de evocar a palavra de segurança (safeword), mas também não quer dizer que você tenha gostado de tudo.

Uma outra situação possível é que durante a prática tudo flua muito bem, mas alguns dias depois você comece a fazer associações da prática com algo da realidade e isso leve você a sentir-se culpado por ter vivenciado aquilo. Por exemplo, em uma encenação de estupro (rape play), em que vocês façam a simulação e sintam muito prazer na hora, mas depois você associe a lembranças de um trauma que você ou alguém próximo sofreu, ou ainda você vê notícias de alguém que sofreu um estupro real na mídia e você fica deprimido.

Esse momento de culpa, de depressão e de baixa hormonal chamamos de drop. Esse termo do inglês significa uma baixa, uma queda. O drop pode ser vivenciado tanto pelo bottom (quem recebeu a ação) como pelo Top (quem praticou a ação) e é para lidar e evitar o drop que o aftercare é tão necessário. Se após uma prática de rape play (ou qualquer outra), submisso e dominante verbalizam um ao outro que estão bem, agradecem um ao outro por aquele momento de prazer compartilhado, tiram um momento para juntos deixarem seus corpos e mentes voltarem para a realidade e perceberem que o rape play não foi real, foi apenas uma encenação previamente acordada entre eles com o único objetivo de se darem prazer, a chance de um drop acontecer diminui bastante.

A experiência de uma sessão aumenta nosso nível hormonal e gera uma grande euforia, porém, é possível que nos dias que se seguem, essa descarga de hormônios despenque e você sinta falta, abstinência daquelas práticas que você vivenciou e isso te leve a uma sensação de vazio. Isso é comum porque leva um tempo para os homônimos voltarem ao estado de equilíbrio e é nessa hora que manter a comunicação com o parceire é essencial.

Talvez você escute ou leia em algum lugar que nem sempre o aftercare é necessário, como em sessões avulsas (quando não há uma relação fixa entre parceires), em práticas consideradas ‘leves’ ou ainda que Top não precisa de aftercare.

NÃO ESCUTE NADA DISSO!!!

Aftercare é parte integrante de uma sessão BDSM!

Aí você pode pensar assim: mas por que eu devo escutar o SubMundo e não o outro conteúdo que diz que não precisa de aftercare? Primeiro, porque como dissemos acima, o aftercare é parte indissociável do conceito de BDSM e segundo, porque se não fizer bem, mal também não irá fazer! Você não tem nada a perder dando e recebendo feedbacks, mantendo um diálogo aberto com seu parceire, checando se ele está bem e falando como você está se sentindo, dividindo uma refeição juntos e compartilhando um abraço. Afinal, vocês passaram por um processo de negociação, descobriram afinidades e interesses em comum, dividiram um momento de profunda intimidade, proporcionaram prazer um ao outro, então, é hora de colocar em prática uma das premissas do BDSM: a ética e a responsabilidade com o outro.

Por último, gostaríamos de destacar que muitos têm uma visão equivocada acerca da figura do Top, criando a ilusão de que trata-se de um herói inabalável e esquecendo o aspecto de sua humanidade. Já ouvimos pessoas dizerem que “Dominador que é dominador de verdade não tem depressão”, “se disser que teve drop não serve para me dominar”, “que não entrega seu corpo para alguém que sente culpa”. Não estamos falando aqui de alguém que tem um diagnóstico pré-existente que precisa de cuidados médicos e sempre é bom estar acordado entre as partes que ambos estejam com a terapia em dia. Então, se a negociação foi bem feita, se os acordos foram bem-ajustados, se estão fazendo terapia, isso não quer dizer que estamos blindados contra qualquer emoção. Nem o bottom e nem o Top são super-heróis!

Portanto, tenha isso em mente cuidando para que todos os elementos que citamos acima recebam a devida atenção. E nunca deixem de lado o aftercare, pois só assim os riscos de drops serão minimizados e você vai poder aproveitar melhor todas as delícias que uma relação saudável pode nos proporcionar.

Com carinho,

Bela.

AUTORA

Quem nos conduz nessa jornada pelo SubMundo é Belarina.

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1 comment

  1. morroi 29 junho, 2021 at 17:29 Reply

    As práticas BDSM são muito intensas. Mesmo que fisicamente sejam leves, grande parte das sessões envolve muito esforço mental e, como bem disse a Bela, memórias não tão agradáveis podem surgir do role play. Caso isso não seja trabalhado no after care, é possível que a liberdade conquistada pela entrega ao BDSM transforme-se em uma fonte de traumas ou desconforto. Aí é um passo pra tudo desandar…

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