VERGONHA EM PRÁTICAS NÃO TRADICIONAIS

Aqui no site dombarbudo.com tem quase 500 submissos cadastrados e fora as sessões que foram repetidas com mais de uma pessoa e tudo mais. Mas quantas pessoas conhecemos que realmente “dão a cara a tapa” e falam que participaram de sessões de BDSM sejam elas de qualquer ordem?

Com um pequeno relato meu para ilustrar o que vamos discutir. Ano passado o Mestre Barbudo havia me chamado para desfilar junto com ele em uma ala leather na parada gay, mas declinei o convite, sem saber direito o porquê. Só consegui entender quando, no dia da festa, olhei de fora quando estes passavam e vi os comentários dos meus amigos e colegas e até das outras pessoas em volta.

A cultua BDSM é, de certo ponto extravagante. Ao longo das décadas nos acostumamos e fomos inseridos a cultura drag e toda a sua exuberância, mas a cultura BDSM é relativamente nova a nossos olhos. Mas porque tanto sigilo falar que fizemos uma sessão BDSM ou participamos de festas e eventos desse tipo?

Acredito que o que predomina mais é a vergonha, o medo do julgamento. Evolutivamente falando, a vergonha e uma emoção secundária advinda do medo e olhando de forma prática e funcional o medo tem a função de nós protegermos de eventuais perigos e predadores, Darwin já escreveu sobre isso no século XIX (A Expressão das emoções dos homens e dos animais, companhia das letras 1872). Não temos predadores naturais, ao contrário, nós somos os predadores. As únicas pessoas que podem nos caçar e acabar conosco em uma perspectiva biológica somos nós mesmos- os seres humanos.

A vergonha entra nesse contexto de que o medo do julgamento social surge como uma seleção natural da nossa espécie. E a globalização e a tecnologia atual onde temos que mostrarmo-nos sempre felizes e funcionais, dentro de regras “em nome da moral e dos bons costumes”. Tudo aquilo que foge à regra é olhado com indiferença, é julgado e taxado ( já conversamos sobre isso no texto sobre as crenças sociais).

Não é culpa nossa e também nem uma culpa social. Todos temos uma parcela dessa torta de culpa. Mas cabe a nós, praticantes e aspirantes dessa cultura expô-la mais, assim como a comunidade tem feito nos últimos anos com o @jantarleather, Leather na Rua, os desfiles na parada do orgulho LGBTQIA+ . Porém uma ressalva, temos que fazer isso de maneira paulatina e sistemática para que os “civis” ou os baunilhas se acostumem com essa nossa cultura, pois se formos de modo abrupto, ela pode se assustar e repelir.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas

 

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