Sinceramente acho que o Role-play, ou seja, a técnica de interpretação de papéis é a prática mais aplicada no contexto das sessões BDSM. Querendo ou não querendo você constrói uma personagem, tanto a de Dominador como a de submisso (cheguei a discutir um pouco sobre isso no post da semana anterior) que é sustentado durante a sessão. E é justamente nessa representação de papéis em que a nossa imaginação rola solta e podemos nos descobrir e nos reinventar da melhor maneira possível.
É nesse contexto que acontece uma das melhores e as mais comuns relações do BDSM: a relação pai e filho. Longe de análises psicanalíticas carregadas de culpa sobre o Édipo não soluto (isso pode ser discutido em outro post), o role-play pode nos tirar de quem somos, das nossas vidas tradicionais e “civis” e nos inserir em novos contextos, como se fossemos atores em frente a um teatro a dois, ou até mesmo em um teatro individual, um teatro tomado pelo tesão.
É neste teatro em que podemos liberar todas nossas pulsões psicológicas, positivas e negativas. Podemos nos dar o luxo de baixar as nossas funções críticas (que nos fazem pensar sobre o que é certo e o que é errado) suspender nossos pensamentos e nos permitirmos agir como queremos. E é nesse contexto em que o tesão comanda nossos comportamentos. E, na minha humilde opinião, o mais legal disso tudo é saber os diferentes desejos que as pessoas têm e não podem realizar através das convenções sociais tradicionais (já discutimos sobre isso nos posts anteriores também) e descobrem que através das práticas de role-play podemos ter essas práticas e assim temos, como uma das mais frequentes de todas, a relação pai e filho, quando o Daddy, aquele homem mais velho experiente, pega o mais novo no colo e o guia, o pune, o beneficia, o ensina com seus conselhos de vida e até mesmo outras práticas sexuais.
O incesto por si só e um tabu gigantesco que assola gerações e gerações que já foi aceito, normatizado, crucificado ao longo da humanidade, mas quando colocamos essa relação em uma representação de papeis, podemos descobrir muito mais do que a nossa mente pode pensar. Podemos descobrir que gostamos de chamar o homem mais velho de Daddy e delira de tesão quando ele te chama de filhão, podemos descobrir um desejo adormecido quando fazemos alguma cena entre tio e o sobrinho, que sentimos tesão em colocar uma roupa de mulher (crossdresser) e ser chamada de “filha” ou “esposa”. Podemos descobrir inclusive que servir alguém assumindo o papel de um mordomo ou um empregado doméstico pode ser tão excitante, no sentido sexual, mais as vezes do que o próprio sexo. E é nesse ponto que voltamos ao primeiro post dos fetiches, dessa permissão que nos damos para soltar o que há guardado dentro de nós mesmos, liberando aquele tesão que muitas vezes nos relaxa e nos satisfaz por muito mais tempo do que o sexo baunilha.
Podemos ficar com algumas marquinhas leves no corpo ou algumas dores no dia seguinte, após uma sessão BDSM, após passarmos um breve período representando papéis, estimulando nosso tesão de maneiras não sexuais (porque sim, podemos ter prazer sexual sem ser pelo nosso pau ou nosso cu, temos zonas erógenas por todo o corpo) e alguns comportamentos que fazemos vão ativar algumas áreas do nosso cérebro ligada ao prazer. Infelizmente a ciência e a tecnologia não se interessa em ver o que acontece no cérebro nesses momentos, mas pela experiencia que tenho, acredito que há uma descarga intensa de neurotransmissores responsáveis pelo prazer. Nosso cérebro fica inundado de ligações químicas boas mesmo quando estamos sentindo dor (e acho que aqui podemos, ao menos tentar, explicar o princípio do prazer no sadomadoquismo.
AUTOR: DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas
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