QUAL O LIMITE DO FETICHE?

Essa semana recebi uma mensagem sobre um colega de profissão que me perguntou se eu tinha alguma dica sobre um paciente que tem uma queixa bastante específica: ele não fica excitado e não consegue ter relações sexuais sem ter um determinado comportamento, mas claro que, por motivos éticos, não vou descrever.

Isso me levou a pensar em uma questão: até onde podemos entender os fetiches dentro da clínica psicológica? Confesso que, entre os meus anos de profissão algumas cenas bem pontuais apareceram para mim, mas nunca em um sentido de sofrimento psíquico.

Já discutimos, ao longo dos últimos meses, sobre a origem dos fetiches, como eles funcionam em nosso cérebro e moldam o nosso comportamento, mas até quando podemos entender o fetiche como algo normal ou quando temos que olhar as práticas sexuais não-normativas com outros olhos?

Dentro da clínica psicológica eu costumo usar muito um marcador de qualidade de vida para “medir” o bem-estar do paciente e planejar os próximos passos do tratamento que é o medidor de qualidade de vida. Se o paciente/cliente estiver com problemas, mas ele retomou a sua qualidade de vida uma boa capacidade de saúde mental que permite o indivíduo “amar e trabalhar” como já dizia Freud, eu começo a repensar, junto com ele, claro, qual a real necessidade de acompanhamento terapêutico. O mesmo eu posso dizer sobre as práticas que, digamos, fogem de uma regra padrão.

Se um paciente/cliente traz um conteúdo que você pode achar tranquilo, mas aquilo traz um grande sofrimento psíquico, é meu dever como profissional ajudá-lo a amenizar esse sofrimento e melhorar sua qualidade de vida. O sofrimento mental, por menor que seja, ainda sim é um sofrimento e isso tem que ser visto com cuidado. No caso do paciente em questão que descrevi a pouco, se olharmos o conteúdo do fetiche, do desejo sexual que ele tem, não íamos achar uma grande coisa, mas isto estava começando a trazer dificuldades em seu dia a dia e nos seus relacionamentos interpessoais. Logo, por mais que achássemos um fetiche “normal” ou, para alguns “indispensáveis” para o sexo, para esta pessoa em específico, apesar de prazeroso estava começando a ter problemas em sua vida.

Podemos dizer o mesmo no caso de pessoas que possuem fetiches que não trazem prejuízos para o indivíduo diretamente, mas traz para o ambiente em que ele está inserido. Podemos citar aqui os exibicionistas que andam pelados por ai e provocam confusão na vizinhança ou os podolatras que vivem tirando fotos de pés alheios em transportes públicos para se masturbar depois.

Em resumo: um fetiche é saudável quando este é exercido de forma assertiva dentro de determinados contextos e com consentimento (já discutimos um bocado sobre limites por aqui também) e desde que isso não limite a vida daquele indivíduo de nenhuma forma. Ele tem que ser capaz de trabalhar, se relacionar com outras pessoas, viver em sociedade, estudar etc. etc. etc. Por outro lado, temos que olhar com mais cuidado para os fetiches quando estes trazem um prejuízo no comportamento funcional do indivíduo. Posso ser viciado em me masturbar e fazer isso todos os dias, desde que isto não atrapalhe o meu funcionamento geral.

Para finalizar, uma atividade prática para vocês: olhem seus fetiches e seu funcionamento de maneira geral. Os seus desejos te impossibilitam de alguma forma? Se não, uma boa vida para vocês, se sim, seria útil procurar uma ajuda profissional.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas

 

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