Na semana passada começamos com a extensa discussão acerca da pornografia. Até semana passada chegamos aos seguintes achados: sexo é bom, é ótimo, é base da nossa pirâmide de necessidade humanas e a única diferença entre um filme pornô e a novela das 9 da Globo é que a novela passa em “horário nobre” e, se um peitinho mostrado na televisão causa comoção (lembrem da cena da Gabriella subindo no telhado para pegar a pipa no final dos anos 1980), imagina se passasse na televisão o que estes mesmos comovidos tem em seus celulares particulares.
Consumir pornografia é natural no nosso mundo. Uma das empresas mais ricas do mundo é a Playboy, acredito que uma das primeiras divulgadoras de conteúdo sexual. 50 tons de cinza não faria tanto sucesso se mostrasse uma visão real do sexo (e, principalmente do BDSM), pois foi construído de certa forma para romantizar aquilo tudo para estimular nossa imaginação para o Cristian Gray, se bem que depois que conheci o BDSM real passei a ver o Cristian Gray como um rapazinho inseguro que gosta de bater – o que realmente é, leiam o livro que irão entender; Pois bem, consumir pornografia e natural e aceitável em nossa sociedade. É onde começamos a conhecer sobre sexo, de alguma forma, quando somos adolescentes – e é aí que mora o perigo (mas entrar neste tema obrigatoriamente vamos ter que falar sobre educação sexual, que é outra coisa polêmica e nossa temática e outra).
Não podemos nos esquecer nunca de que, ao consumirmos pornografia, temos que estar atento que aquilo nada mais é do que uma encenação, como dissemos na semana passada. Temos que olhar a pornografia do mesmo jeito que olhamos a novela das 9, como vemos um filme: como uma coisa minimamente construída para elevar nossa imaginação e nos fazer entrar em um outro mundo, que não é o nosso.
E é exatamente ai que mora o problema: ao consumir muita pornografia, estabelecemos como normativo um sexo não real, relações sexuais não normais onde o homem deve demorar 40 minutos comendo alguém em uma mesma posição sem gozar e sem brochar, que a mulher tem que se manter estimulada e gozar após ou junto do homem, que gemidos são compassados e de certa forma até melódicos, de que o corpo do homem não sua, o cabelo da mulher fica sempre bem feito durante o sexo, etc, etc, etc. Quando saímos do maravilhoso mundo da pornografia idealizada e nos deparamos com o real, o que existe no mundo, o pau meia bomba no nude que você recebe no whatsapp, os pelos encravados, espinhas em lugares estranhos que são naturais, etc, etc. tendemos a nos frustrar, pois, como consumimos muita pornografia e idealizamos o sexo, montamos em nossa cabeça um padrão de ação que nunca vai existir, de coisas que não correspondem ao mundo real, ao sexo, real, nós nos frustramos.
Quando tentamos reproduzir aquilo que vemos nos filmes, percebemos finalmente o quão ridículo aquilo é: aquela posição sexual não dá prazer, dá câimbras horrorosas, aquela determinada roupa pinica ou incomoda, tentamos ficar muito tempo sem gozar e perdemos totalmente o tesão (lembrando que o ato do gozo, da ejaculação não é fraqueza, mas sim o nosso pico de tesão, é onde estamos sentindo tanto prazer que não conseguimos “guarda-lo” dentro de nós), entre outras diversas coisas.
Para fechar este pensamento aberto desde semana passada, temos que ter sempre em mente que pornografia, seja ela qual for: da revista, nos vídeos, dos nudes (porque nudes entram nesse âmbito também, temos um ângulo para torar nossas fotos que nos valorizam mais e que muita vezes não condiz o que realmente somos), seja aonde for, temos que ter em mente que a pornografia é um ato de entretenimento, assim como jornal, o teatro, o cinema, as séries e, por mais real que aquele mundo que você esteja vendo pareça, quando a câmera desliga e as luzes apagam, aquela pessoa que, há minutos atrás era tão viril, tão poderosa, não passa de uma pessoa comum, como nós, que também sente frio, dor, tem contas para pagar, etc, etc. etc.
Logo, respondendo a pergunta que fizeram há algumas semanas: os impactos psicológicos do consumo excessivo de pornografia é basicamente os efeitos de qualquer consumo excessivo, uma tentativa de sair da nossa realidade inserindo alguma outra coisa que na verdade, por melhor que nos faça por alguns segundos, vai nos deixar mal, instantes depois que seu ápice passar, pois quanto mais nos afastamos do mundo real, quando voltamos para ele, mal “chato” e “cruel” ele se torna. E no caso da pornografia em específico, atos sexuais reais, por mais defeituosos que sejam, nos causam um prazer muito mais prolongado do que uma simples punheta antes de dormir vendo um musculoso comendo um passivo todo liso que geme manhoso.
AUTOR: DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas
FARDAS: POR QUE DESSE FETICHE?
CONCILIANDO A VIDA BAUNILHA E A FETICHISTA
AFTERCARE, UMA NECESSIDADE PSICOLÓGICA
PUNIÇÃO E RECOMPENSAS NO CONTEXTO BDSM
PUNIÇÃO E CASTIGO: COMO UTILIZAR
VERGONHA EM PRÁTICAS NÃO TRADICIONAIS
AGE PLAY: LIBERTANDO A NOSSA CRIANÇA INTERIOR
EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 2: EXPERIENCIAS SEXUAIS
EXPERIÊNCIAS INFANTIS, FETICHES ADULTOS – PARTE 1: O PAPEL DAS CRENÇAS
PORNOGRAFIA VERSUS MUNDO REAL – PARTE 2
PORNOGRAFIA VERSUS MUNDO REAL – PARTE 1
DOMINAÇÃO PSICOLÓGICA: GUIA PRÁTICO
CRENÇAS SOCIAIS E O SEU PAPEL NO BDSM
BDSM E LIMITES – UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL
FETICHE MUITO ALÉM DAS PARAFILIAS