FETICHE MUITO ALÉM DAS PARAFILIAS

Apresentamos a coluna do DR PSI, psicólogo atuante na área clínica, que compartilha conosco seus ensinamentos, para que assim tenhamos ferramentas para entendermos melhor nossos desejos, fetiches e fantasias, com mais propriedade e, para muitos, com menos culpa.

E nosso primeiro assunto desta série será FETICHES,

Desde a liberdade sexual, somos livres para expressar a nossa sexualidade de maneira aberta e sem se preocupar com as convenções sexuais e isso inclui, também, os fetiches. Mas afinal, o que é considerado o fetiche ou as práticas sexuais fetichistas. Tudo aquilo que foge do “normal” em relação ao sexo pode ser considerado um fetiche. O mais comum que conhecemos é o fetiche por pés, seguindo por acessórios relacionados a pés (meias, sapatos, botas, entre outros). O mundo dos fetiches envolve uma ampla gama de comportamentos que vão dos mais comuns aos mais inusitados. É até estranho falar de “normalidade” quando estamos falando em sexualidade, pois atualmente é mais que comprovado que sexualidade é uma fluída como água, sem uma forma ou norma, sem um padrão de normalidade. Pois acredite, que este é um grande debate na área psicológica.

Tá, ok, mas o que um psicólogo está fazendo aqui falando sobre coisas que já estamos cansados de saber? Vamos aos fatores psicológicos relacionados à sexualidade e ao fetiche. Em primeiro lugar que, se formos procurar sobre Fetiches na área da psicologia/psiquiatria encontramos no DSM-5 (a “bíblia” dos transtornos mentais que contém todos os transtornos mentais descritos até atualmente), vamos encontrar uma seção inteira sobre transtornos sexuais e as chamadas Parafilias. Basta lermos para nos “encontrar” com voyerismo, exibicionismo, interesse sexual destinado à objetos dos mais variados. Porém, antes de sairmos nos diagnosticando com alguma coisa temos que levar em consideração a nossa relação com aquele fetiche/prática. Um fetiche, como já foi dito, é tudo aquilo que “foge a norma padrão” no sentido de reprodução sexual, porém só podemos dizer que temos um transtorno sexual, uma parafilia quando estes sintomas nos trazem prejuízos significativos, ou seja, quando aquilo que estamos experimentando interfere a nossa vida social, laboral, entre outras áreas. Em prática, vamos dizer que um rapaz exibicionista tem um relacionamento sadio com outras pessoas que gostem do mesmo fetiche, no entanto isso passa a ser um problema quando ele passa, por exemplo, a se exibir em público, sem o consentimento das outras pessoas ao redor. Uma pessoa adepta à cultura BDSM pode muito bem viver uma vida sadia mentalmente desde que conviva com outras pessoas sadias que admirem e pratiquem esta mesma cultura, no entanto se esta prática cultural interfere em sua vida pessoal no sentido que ele abandona a sua vida “civil” para viver interinamente àquela cultura, trazendo prejuízos sociais, laborais, financeiros, podemos dizer que esta pessoa tem algum problema de ordem sexual.

O que sabemos, afinal, que o BDSM assim como os outros fetiches e “parafilias” constroem uma cultura à parte da qual estamos acostumados, assim como na década passada tivemos a cultura emo, temos a cultura gótica, entre outras e como uma cultura que foge as “convenções sociais” temos que nos atentar a uma considerada “subcultura” , uma subcultura muito rica que merece um espaço para ser, ao menos entendida e, de maneira nenhuma devemos sentir pena de nós mesmos ou culpa por sentir desejos que são absolutamente normais que podem e devem ser explorados.

Em resumo, o relacionamento do entendimento dos fetiches, das práticas fetichistas em relação à saúde mental é novo e um tanto delicado, envolve acima de tudo uma visão fenomenológica, ou seja, deixar de lado as crenças pessoas de quem estuda e entende a prática, e quando falamos de estudos, principalmente no contexto brasileiro temos que levar em consideração que vivemos em um país amplamente retrógrado e falso-moralista com mania de rotulações. Esta coluna foi criada para, semanalmente nos sentarmos por alguns minutos para discutir alguns aspectos importantes relacionado às ciências psicológicas relacionado as práticas fetichistas, BDSM e práticas relacionadas. Essa coluna será um canal aberto para conversas, comente, deem ideias para os próximos assuntos.

Para fechar o primeiro post, deixo uma reflexão para todos que leem: Os ditos submissos que dizem que não possuem limites na hora e uma sessão BDSM são mentalmente saudáveis?

E caro leitor, deixe aqui seus questionamentos, comentários ou sugestões de temas para direcionamento ao Dr PSI.

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