Durante as últimas semanas acabei conversando com algumas pessoas que tinham um fetiche em comum: Fardas. Este é um fetiche que não está envolvido na cultura BDSM, é um dos fetiches mais comuns que vemos em qualquer conversa de bar. Basta estarmos em um restaurante ou em uma roda de amigos e passar alguns policiais, devidamente paramentados com suas fardas, botas de couro muito bem lustradas que o assunto para por um instante e alguém comenta que este é um dos seus maiores fetiches.
Mas o porquê disso? Para entender a lógica das Fardas e dos uniformes nós temos que entender o papel disso ao longo da história da sociedade. Farda é praticamente um sinônimo de poder. Fardas e uniformes são destinados àqueles homens – e mulheres – que entraram em um determinado recinto, tem um determinado estudo ou profissão, que se destinam àquela situação. Policiais militares, por exemplo, necessitam “honrar” sua farda, fazer jus aquele brasão que carrega junto ao peito. Estas roupas e vestimentas que nos retiram de um padrão, de um status quo, por si só nos trazem uma noção de poder.
Basta olharmos para a literatura para entendermos isso. Em Orgulho e Preconceito (Jane Austen) um dos maiores romances da história da literatura mundial, apontam que se casar com um militar é uma das maiores honras para uma família. Há diversas citações de detalhes das vestimentas escarlates com botões dourados que faziam as meninas suspirar. Entrar para o serviço militar, ao longo da história, entra como uma posição de poder, de estabilidade, para os menos favorecidos. O militar, aquele que veste uma farda/uniforme é detentor da nossa segurança, é nosso salvador, bom, pelos menos na teoria. O que ocorre é um condicionamento entre a representação social daquela roupa, o peso em que ela causa em nós e a situação em si. E como já discutimos anteriormente – e ainda mais de uma vez – sobre fetiches e a origem dos fetiches. O desejo intenso por fardas se dá por essa representação social que o nome, a pessoa nos traz. Claro, dependendo da nossa história de vida, nossa história de condicionamento e nossas crenças (já discutimos sobre isso também).
Pois bem, o ser humano como espécie, tem uma fixação pelo poder. Novelas nos mostram isso o tempo todo. Diversas séries também. A alpinista social que faz de tudo, passa por cima de qualquer pessoa para alcançar seus objetivos, para ter poder, para ter luxo, dinheiro. Vestir uma farda, um uniforme, assim como vestir roupas não-convencionais, nos tiram da nossa posição de civis, de pessoas comuns. Ao momento que eu visto uma farda eu incorporo aquele papel social a qual aquela roupa está atrelada a ela. Quando visto uma farda, sou um policial, se visto um uniforme de bombeiros, eu sou um bombeiro, se visto um jaleco eu sou um médico, se visto um uniforme de empregado, eu sou um mordomo, e assim por diante.
E mais, dentro de um contexto com cenas BDSM, podemos brincar dentro deste cenário. A cena BDSM, nada mais é do que um roleplay, um jogo de representação de papéis (já discutimos sobre isso anteriormente). E uma vez que estamos representando papéis, por que não podemos brincar com isso? Por que não nos jogamos dentro da representação de papéis que aquela vestimenta proporciona para nós?
AUTOR: DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas
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