Complementando o assunto que iniciamos na semana passada, hoje vamos dedicar algumas linhas para falar sobre empatia na cena BDSM. Para isso temos que fazer algumas considerações sobre emoções e sobre empatia.
Empatia, em linhas gerais, pode ser entendida como a capacidade de sentirmos a dor da outra pessoa diante de alguma situação desconfortável. Para que eu possa me colocar no lugar do outro, eu preciso primeiro entender as minhas emoções e conseguir controlá-las. Logo, se eu não regulo bem as minhas emoções eu vou ter problemas em ser empático.
Ao longo dos últimos meses venho falando sobre as emoções empregadas dentro do contexto BDSM, a importância de nos comunicarmos para nivelar as expectativas para não nós frustramos entrando de cabeça em uma coisa que não estamos completamente cientes do que estamos fazendo. Mas porque dedicar tanto trabalho com as nossas emoções? Para sermos empáticos!
Um dos males da atualidade e a dificuldade em ser empático, é nos fecharmos as experiências emocionais naturais e buscarmos novas emoções dentro de ambientes químicos – e quando digo químico digo ambientes que não são naturais. Nossa capacidade de sentir nossas emoções não morreram, estão apenas adormecidas. Perdemos a capacidade de identificarmos nossas emoções quando elas acontecem de maneira branda, só sentimos quando elas estão em seu pico, quando elas estão tão fortes que não conseguimos lidar direito com elas, logo tentamos ao máximo aniquilar nossas experiências emocionais. Aniquilando nossas experiências emocionais aniquilamos também nossa capacidade de ser empáticos.
E como voltamos com isso para a prática BDSM?
Se a sociedade como um todo tem a tendência a limitar as nossas experiências emocionais (o que chamamos na prática clínica de inibição emocional), imagina em uma cultura onde temos que lidar a todo momento com eventuais dominadores sem coração, cruéis, sádicos e submissos sem limites que aceitam qualquer coisa por um punhado de prazer (leiam isso com ironia).
Temos que lembrar que somos todos humanos e as emoções que sentimos são legítimas. Costumo dizer para os pacientes que são atendidos por mim, principalmente as crianças, que as nossas emoções são tão naturais quanto a fome, o sono e a vontade de ir ao banheiro. Não podemos controlar elas, mas decidimos o que nós fazemos com elas no momento em que elas aparecem. E elas aparecem em qualquer lugar. Temos que estar abertos e atentos para ouvir o que as nossas emoções estão dizendo para nós. Também temos que estar atento com as emoções das outras pessoas, o que elas estão querendo nos dizer quando elas aparecem. BDSM é uma cultura que necessariamente exige uma relação, como tudo na vida, e quando estamos falando em uma relação estamos falando de uma troca, uma troca justa, colaborativa, dividida em partes iguais independe de quantas pessoas estão envolvidas nessa relação.
AUTOR: DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas
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