Ultimamente a frase/meme “O golpe tá aí, cai quem quer” se popularizou na internet e nas mídias sociais. É um jeitinho engraçado e descontraído de mostrar que o perigo está aí na nossa frente e temos a plena consciência de onde vamos pisar.

Temos, dentro dos pressupostos teóricos da Terapia Cognitiva um conceito de “escolha autêntica” advindo da filosofia existencialista. Este conceito quer dizer que tudo o que fazemos, tudo o que escolhemos tem consequências (qualquer semelhança com os pressupostos da Análise do Comportamento não é mera coincidência) e nós, como seres humanos pensantes cujo cérebro evolui largamente ao longo da humanidade, temos que pensar nestas consequências antes de entrarmos em qualquer situação, mensurando suas consequências e tendo em mente que, ao decidirmos alguma coisa eu estou automaticamente escolhendo, de maneira autêntica, não fazer todas as outras coisas.

Um exemplo para que fique mais palpável: Hoje é segunda feira de manhã, feriado do aniversário de São Paulo. Eu escolhi por uma escolha autêntica, escrever este texto no meu computador ao invés de usar o celular, sentado no sofá do que em qualquer outro lugar disponível na casa, com uma camiseta de algodão branco ao invés de qualquer outra roupa que eu tenho no meu guarda-roupa, mesmo que eu a tenha pegado sem pensar. Eu escolhi não pensar em que roupa eu vou vestir de manhã e simplesmente abrir a gaveta e puxar a primeira roupa que eu vi.

Pois bem, mas o que isso tem a ver com uma relação BDSM saudável? Ao longo de todos esses meses, as páginas e páginas que aqui escrevi sobre BDSM e os fatores psicológicos que estão envolvidos tem como objetivo uma única coisa: conscientizar vocês e psicoeducá-los (termo que usamos na clínica para educá-los através da psicologia ou sobre fatores psicológicos) sobre os limites de uma relação saudável e uma relação abusiva dentro do BDSM.

Ao escrever este texto lembro-me muito do texto que escrevi algumas semanas atrás sobre Money-slave e o que eu chamo carinhosamente de pseudo-dominadores, ou seja, aquelas pessoas que se apossam de algumas práticas e técnicas do BDSM para utilizá-las ao seu bel prazer. Se nesse momento você pensou que este é o papel de todos os dominadores, amigo, você não está lendo este site direito. Sugiro que volte algumas casas e devore todos os textos deste site.

Dada esta pequena introdução, vamos ao que realmente importa: ego e arrogo. Quem estudou um pouco de psicologia, filosofia ou qualquer coisa voltada para as humanidades, passou por cima da mitologia grega. E na mitologia temos a história do Eco e do Narciso. Não vou contar a história para vocês, pois este não é o meu objetivo. Caetano Veloso que tem uma música (Sampa) que diz “Narciso acha feio aquilo que não é espelho” (ouço essa frase não com a voz do Caetano, mas com a da minha professora Vera da faculdade que sempre dizia essa frase ao longo das aulas) o que serve claramente para nos mostrar sobre o papel do Ego, ou o que chamamos na Terapia Cognitiva/Terapia focada nos Esquemas (TE) de Arrogo ou Grandiosidade.

Tá! Mas qual a relação do BDSM com o Arrogo? Arrogo, ego, narcisismo (tirando o Transtorno de Personalidade Narcisista, que é outra coisa) pode ser configurado em uma pessoa que tem uma visão de si, self, muitas vezes distorcidas da realidade e muitas vezes para mais, ou seja, uma pessoa que se acha altamente suficiente e que não precisa das outras pessoas para viver, onde as outras pessoas são meramente objetos de seu prazer ou de seu uso pessoal, descartáveis. Conseguiram ver uma relação com algumas práticas do BDSM? Pois bem, está aí. Aí que o caldo engrossa, mas não pega sabor.

Sempre que eu falo sobre BDSM para alguém que não é do meio a primeira visão que eles têm é disso: de uma pessoa toda poderosa, cheia de si, trajando roupas de couro e dona de sex shop (sim, acredite, eu já ouvi isso) que detêm o poder sobre um submisso, um otário, idiotinha que faz de tudo para agradar o seu mestre. Voltamos para idade média? Talvez dentro de uma sessão podemos voltar, o role play nos permite isso. Porém, quem pratica, quem estuda, quem se dedica a entender o BDSM sabe que a história vai para bem longe disso. Temos isso, dentro de uma sessão, dentro da prática do BDSM, isso nas mais tradicionais. A Sra Storm, uma querida, e grande defensora do BDSM da vida diária que sempre diz que o BDSM não envolve apenas sexo e pode ser muito mais do que isso. Leiam os textos dela, é maravilhoso.

Mas o que geralmente acontece com pessoas com esquemas de arrogo? Das duas a uma: ou temos crianças mimadas que não conhecem limites (cuidado mamães e papais que estão lendo e acham que a sua falta pode ser suprida com presentes e faltas de limites, seus filhos podem se tornar presidente – sim, o atual) ou, uma segunda e mais provável resposta, que este arrogo todo esconde um ego altamente fragilizado. Embaixo das crenças de “eu não presto para nada, eu não sou suficiente” é compensado por uma visão de suficiência não deixando que estes pensamentos negativos e disfuncionais sobre si mesmo venham à tona, trazendo mais pensamentos disfuncionais sobre si, mas trazendo uma visão positiva e também disfuncional.

O BDSM é um capo onde tudo acontece, dada a importância de estarmos discutindo estes temas sérios e imprescindíveis para um bem estar social. Um último recadinho depois desde texto altamente complexo e longo: Qualquer dúvida, procure um terapeuta mais próximo.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas

 

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