Por que sentimos prazer na dor?
Vamos entrar em um assunto bastante técnico nesta semana e muito interessante também, porque, além de falarmos em termos subjetivos que dependem da nossa história de vida, vamos tratar do funcionamento cerebral, ou seja, a forma como nosso cérebro age naturalmente. Vou tentar fugir de termos técnicos. Pegue um café ou se ajeite com seu Mestre/submisso que vamos entrar em um dos assuntos que eu mais adoro: neurociências.
Por que sentimos prazer na dor? Por que o spanking é uma prática comumente usada no BDSM? – além de ser, aos olhos leigos, a marca principal dessa cultura – E por que isso é tão gostoso para algumas pessoas?
Basta abrirmos os relatos desse site para vermos pessoas que se contorcem de prazer com nippleplay, assplay, CBT, waxplay entre outras práticas deveras… dolorosas. Pode confessar, estas são as fotos que mais trazem tesão para serem vistas. Se tirada corretamente conseguimos observar a dor e o prazer naquele momento, imortalizado como um quadro de Da Vinci – que capturava a natureza psicológica através da pintura como ninguém, observe a Mona Lisa. Olhe por exemplo essa foto de capa. Vemos o prazer, a dor em um misto que não sabemos qual está prevalecendo, só o próprio submisso pode saber.
Mas vamos entender o que está acontecendo no nosso cérebro. Em 2015 a Disney Pixar lançou um dos desenhos mais geniais e complexos: Divertida Mente. Vou usar o filme como base para explicar como funciona a correlação entre a dor e o prazer. Em nosso cérebro temos uma área que fica bem no centro do órgão, entre os dois hemisférios que chamamos de Sistema Límbico, mas vamos chamar ela aqui de Cabine de Comando das nossas Emoções, onde se passa o filme Divertidamente. Toda emoção é processada nesse sistema de pequenas áreas cerebrais. Cada partezinha (cada botão desse teclado) é responsável por um processo. É importante deixar bem claro também que essa partezinha do nosso cérebro faz contato com o nosso lobo frontal (a parte da frente do nosso cérebro que começa na testa e vai até a metade da cabeça) que é responsável pelo controle do nosso comportamento. Então até aqui estamos falando de duas áreas: Sistema Límbico (identificação e controle das emoções) e Lobo Frontal (Controle de comportamentos). Essa comunicação entre as duas áreas é constante por ela permite identificarmos e regularmos nossas emoções e comportamentos.
Quando sentimos prazer, essas áreas de límbicas são super estimuladas e há uma diminuição dessas áreas frontais, que ai explica as coisas que fazemos quando estamos sendo controlados pelo tesão. Sejamos francos, após o final de uma sessão BDSM, quando esse tesão que temos passa, nós paramos e pensamos racionalmente (usando o frontal) sobre o que fazemos, muitos de nós pensamos: “O que eu estava pensando?” E a resposta é? Em praticamente nada. Quando estamos tomados pelo tesão ou por qualquer emoção/sentimento prazeroso, essas conexões entre as áreas mais racionais do nosso cérebro ficam diminuídas, logo somos mais impulsivos, fazemos coisas sem pensar etc., etc., etc. O mesmo acontece quando sentimos dor
A LINHA TÊNUE
Em termos práticos, há uma linha tênue entre o prazer e a dor e o BDSM explora como ninguém essa linha tênue. Os (bons) mestres e dominadores estão bem treinados e dispostos a ensinar – a quem tem disposição e talento para aprender – a identificação entre essa linha entre prazer e dor, explorando os dois níveis de uma forma que, ao final, não sabemos o que sentimos na verdade. Na verdade, sentimos um misto entre os dois que se intercalam e, no nosso cérebro, isso é entendido praticamente da mesma forma. Os estímulos sensoriais, tanto do prazer quanto da dor são recebidos pelo Sistema Límbico da mesma forma e o que vai diferenciar isso é essa comunicação quando fazemos com as nossa áreas mais racionais (Lobo Frontal) onde, através das nossas experiências e o ambiente em que estamos envolvidos, vai distinguir o que é dor ou o que é prazer e como no contexto do BDSM esses dois estímulos estão mesclados em um mesmo momento (ora sentimos dor, ora prazer) o nosso cérebro fica “confuso”, sem saber ao certo o que sentir.
O que vai determinar os finalmentes é a sensação que prevaleceu ao longo daquele tempo. Se sentirmos mais dor, vamos levar a nossa experiência BDSM como dolorosa, se sentimos mais prazer, vamos levar a nossa experiência BDSM de maneira mais prazerosa e vamos voltar ao colo do nosso mestre o mais rápido possível.
Por fim, como bom psicólogo, tenho que falar das nossas experiências individuais e o que pensamos sobre aquilo. Se chegamos à uma sessão BDSM com um olhar de estranhamento, dificilmente o prazer vai prevalecer, pois nosso cérebro já está preparado para uma coisa de ruim que pode acontecer, mas se entrarmos em uma sessão BDSM com um olhar de experiência, de curiosidade, com vontade e motivado a experimentar, é muito mais provável que o prazer nos domine e saiamos tranquilos e relaxados de uma sessão, embora que, às vezes, um pouco dolorido e com algumas marcas leves que sumirão em dois ou três dias.
AUTOR: DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas
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