“VOCÊ NÃO PODE SE EMOCIONAR NÃO, PARCEIRO (A/E)” – A ARMADILHA DESSA FALÁCIA NO BDSM

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“Não emociona, parceiro, não emociona”.

Variações deste tipo são escutadas constantemente no meio. Que não cabe espaço para “romantismo” (como se toda vinculação de afeto e, até mesmo, amor, se vinculasse a expressão romântica, no sentido clássico). Como se os afetos deste tipo coubessem apenas do lado de lá, onde o sabor de baunilha é o sorvete preferido e aqui, onde o bicho pega, somos todos seres totalmente racionais, não influenciados por emoções.

(você conta ou eu conto que toda decisão racional passou, em primeiro lugar, pelas emoções, cientificamente falando?)

Você já deve ter lido sobre isso no BDSM. Já deve ter ouvido que a culpa de algo ter dado errado foi que fulano(a) se apaixonou por beltrano(a), imputando diretamente que (a) qualquer emoção que perpasse seja análoga à amor e (b) que o simples apaixonamento por si só (e muitas vezes pode nem ser essa a questão) é cegamento e, portanto, coloca automaticamente a pessoa em risco.

Esse não é um fenômeno, obviamente, restrito ao BeDê. Afinal, quantas vezes ouvimos o termo “fulano é emocionado” como um demérito? Mas, como sempre falamos, o meio não é apartado da sociedade e temos reflexos do que acontece “lá” por aqui também.

Com isso, muitas pessoas passam a tentar “impedir” que eles aconteçam. Mesmo que, muitas vezes, ele já esteja lá.

E, muitas vezes, na vã tentativa do controle dos afetos, fazemos algo que talvez possa ser o tiro no pé nas nossas relações com nossas emoções e afetos: evitar olhá-las, reprimi-las. Isso não faz com que elas deixem de existir.

Afinal, não é colocando as nossas “bagunças” em um quarto escuro para deixar de vê-las que elas deixarão de existir, não é mesmo? Sempre retomo uma analogia que ouvi e que permeia muito a forma como tenho tentado aprender a lidar com as questões internas: tudo que a gente suprime com força é como uma bola que empurramos para o fundo da piscina achando que conseguiremos conter ela. Mas quanto mais empurramos, com mais força ela vai subir depois. E acredite, ela vai subir uma hora. E se bobear, te acertar com toda a força na fuça.

Como sempre digo, afetos precisam que a gente os chame para tomar um chá, um café, pegar um bolinho e falar: “tá, cê tá aqui, vamos entender melhor o que tá acontecendo, né? E o que podemos fazer a partir disso”. Expulsá-lo na marra não vai evitar que ele volte amanhã (ele tem a chave da casa também, só para constar).

Então, em vez de tentar parecer o cool frio e calculista, totalmente racional, blindado de emoções, que tal permanecer atento a si e entender o que está acontecendo? E, também, quando elas acontecerem, compartilhar com sua parceria.

Afinal, quando falamos de estabelecer uma confiança para jogo, isso vale também para emoções, sentimentos e afetos. Afinal, é preciso estar com alguém que poderá compreender, por exemplo, a avalanche de emoções de um drop e ajudar neste momento.

Vale lembrar também que não cabe aqui também uma crença cega em percepções guiadas por fortes emoções, que podem nos desviar, muitas vezes, de uma autopreservação (como muito bem abordado, por exemplo, pela Sra Storm em textos tanto no DarkRoom Clã quanto aqui no site).

Então, não é a emoção ou o afeto em si que é o problema, mas o que é feito a partir disso. Se você deixa seu senso de autopreservação e segurança (e exime da sua parte da responsabilidade de cuidar de si também. Afinal, isso jamais pode ser deixado de lado, ainda mais no BDSM), ou projeta expectativas de questões que nunca foram ditas, alimentadas ou abordadas, a questão está em outro lugar. E não no sentir em si.

Você tem o direito de não querer sentir nada, ou não estabelecer relações baseadas em determinados afetos. Nesse caso, tem o dever de comunicar sua parceria sobre suas (falta de) expectativas, para que todos estejam alinhados quanto a isso. Mas sobre o que o outro sente, você não tem o direito de interferir. Isso cabe apenas a ele.

E aí, o que você pensa sobre o assunto? Compartilha aí suas opiniões sobre essa questão.

AUTORA

HACKING SEX

Nascido de uma ideia de mudar o sistema por dentro, aproveitando as brechas de vulnerabilidade para repensarmos e fortalecermos as concepções sobre (a)sexualidade(s), em constante (des)(re)construção, feito de forma coletiva. Construindo uma comunidade com o fortalecimento de todos os membros, abrindo espaços para trocas colaborativas de ideias, para que todos possamos crescer juntos no processo.

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