Como você deve ter lido aqui, eu sou o colunista de sábado e tenho como objetivo apresentar algumas linhas de raciocínio, construções e fatos ao longo da nossa história a fim de enriquecer as bases epistemológicas dos praticantes. Não me posiciono como o portador da razão, muito pelo contrário, apenas um pesquisador que sempre está encontrando coisas novas e adoraria dividi-las com todo mundo.
Essa semana completei dois meses de publicações neste blog e estou absurdamente honrado com essa oportunidade. Hoje pretendo amarrar rapidamente todas as pontas e assuntos nos quais publiquei até agora.
Vamos lá!
Quando falamos de BDSM, imediatamente pensamos no chicote, nas amarras, no couro e também nos prazeres da dor, da submissão e da dominação, mas esquecemos de falar sobre a sexualidade e a libido. Neste texto, procurei explicar o conceito de libido e reforçar que ela é a grande chave que compõe a nossa sexualidade, pois atua por trás dos prazeres e orgasmos que temos dentro e fora do BDSM. Sem perder essa organização didática, apresentei aqui as discussões iniciais sobre a Sexualidade Kinky já reconhecida e divulgada internacionalmente no atual acrônimo LGBTQQICAPF2K+.
Reconhecer os pontos em comum dos termos ‘sexualidade’ e ‘fetiche’ nos permite reforçar a militância de que o BDSM faz parte de um movimento de contracultura sexual, pois abarca essa e outras sexualidades em um ambiente ético e saudável.
Mas nem sempre foi assim, como disse aqui, pois o fato de termos as palavras “sadismo” e “masoquismo” no acrônimo BDSM, faz com que se construa um arquétipo patológico e social que dificilmente conseguiremos reverter enquanto reforçarmos esse estigma. Ainda em relação ao nome do movimento e para que você possa entender o quão distante essas palavras estão da sua origem, recomendo essa leitura aqui.
Reconheço que nossa comunidade vem se formando através da relação dos adeptos com a mercadologia, portanto, um filme e um livro também são produtos de um mercado, pois precisam além de vender uma ideia, ingressos. Dessa forma, obras como a História d’O apresentaram a origem do que temos de mais próximo do nosso atual universo sócio-sexual. Pois veja, os bares e baladas fetichistas procuravam não só incorporar o que viam na literatura e na mídia, como também reproduzir contextos lúdicos. Foi nessa obra que foi apresentado o conceito de comunidade de praticantes, hierarquia, pessoas que se devotam por querer, sem abdicar de suas vidas fora das práticas.
No entanto, somado ao aspecto social extremamente preconceituoso em que estamos inseridos ainda como sociedade, um casal fetichista que tentava explorar sua sexualidade foi preso, algo completamente diferente dos filmes e livros apresentados, pois nessas obras, tudo dava certo. O casal foi um dos nossos maiores mártires da comunidade, mas não foi o único.
E tudo isso aconteceu antes do BDSM chegar no Brasil, e aqui, a comunidade não passou por nenhum desses processos ou fases, tendo sua origem “curiosa” nos sexshops. Depois, com o apelo literário da Wilma Azevedo, e o grupo SoMos nos anos 90, o BDSM do lado de cá da América abraçou bastante a heterossexualidade, não estando nem próximo de se posicionar como uma contracultura.
Hoje, com o advento das redes sociais, a comunidade começa a ganhar novos formatos e o que se aprendia anteriormente através da literatura, da mídia e das práticas em ambientes fetichistas, agora, muitas vezes, se inicia por meio virtual. Plataformas como Instagram, Facebook e Twitter têm sido uma porta de entrada para novos entusiastas da cultura kinky.
Ao mesmo tempo em que esse fato é extremamente positivo, pois permite que pessoas que moram em regiões afastadas dos grandes centros tenham acesso à informação e possam descobrir que aquele desconforto que sentem em não se encaixar no dito ‘padrão de comportamento normal’ na verdade é apenas a manifestação da sua sexualidade e que está tudo bem, por outro lado, traz um novo desafio para a construção da comunidade BDSM.
A informação é uma arma poderosa se bem usada, mas tem seus ônus quando mal aplicada. E é quase impossível impedir a veiculação de informações errôneas e de interpretação duvidosa numa época em que muitos se consideram produtores de conteúdo.
Essa ainda é uma construção recente e que precisa de muito debate, mas se você quiser já se aprofundar mais um pouco no debate sobre BDSM virtual, eu recomendo o episódio 12 e o episódio 13 parte 1 e parte 2 do Café Fetichista, onde eu lanço um panorama do BDSM virtual x real e falo sobre “dominação à distância”.
Ao neófito cabe ter bastante discernimento e buscar informações em diferentes fontes para, só então, confrontá-las com seus valores morais e éticos para separar o que é de fato um conteúdo positivo e o que pode ser considerado abusivo.
Com isso, concluo a minha primeira série neste site. Espero que tenham gostado!
É uma honra poder contribuir com vocês e até a próxima!
AUTOR
Mestre Sadic
Estudo o universo fetichista desde 2010 e iniciei as práticas em 2013. Hoje dou palestras sobre o fetiche, tiro dúvidas e mentoro novatos. Tenho como objetivo propagar conhecimento e não me aproveitar dele.
Café Fetichista: https://m.youtube.com/playlist?list=PLlRq4n48kKVE4hEDAtL_3EDYdiiSGwt1P
Site: https://mestresadic.com.br
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