AFTERCARE, UMA NECESSIDADE PSICOLÓGICA

Há algumas semanas viemos falando de um sistema de punição e de recompensas dentro de um contexto BDSM. O assunto de hoje continua por essa lógica, porém abordando uma prática obrigatória para um bom desenvolvimento das práticas BDSM.

AFTERCARE pode ser considerado o cuidado que o DOM/TOP oferece ao sub/bottom no final da cena BDSM. Precisamos lembrar, antes de tudo que o aftercare é diferente das recompensas que falamos na semana anterior. Aftercare e obrigatório, principalmente quando estamos fazendo práticas que envolvem interpretação de papéis, como o rolê play.

Vamos imaginar uma situação: ano passado conheci um rapaz que gostava de spanking. Além do spanking em si ele gostava de elaborar uma situação que, de certa forma, justificava a prática. Um roleplay.

Neste caso em específico precisamos salientar a importância do aftercare. Ao criarmos uma história, uma cena fictícia onde a pessoa fica de certa forma vulnerável e pode-se chega até a praticar o spank, claro que tudo dentro da consensualidade, mas vale lembrar também que muitas vezes as cenas envolvem situações de humilhação, nas quais muitas vezes o sub/bottom se insere dentro de uma lógica interna, onde ele volta-a repensar suas práticas e funções, onde é humilhado, punido, apanha e é castigado. O cuidado após a cena e de responsabilidade do TOP. E necessário saber realizar a imersão dos praticantes daquela cena, mas também e de suma importância a volta à vida real.

Em termos neurobiologicos, o nosso cérebro não diferencia de maneira muito prática a realidade da ficção. As práticas são encaradas de forma concreta e objetiva. Uma punição é uma punição, um flagelo é um flagelo. Nosso sistema psíquico não entende está prática como uma encenação. As emoções vêem do mesmo jeito e sentimos os impactos dela da mesma forma.

Gosto de imaginar a cena BDSM assim como o aftercare como uma experiência no cinema. Entramos no cinema e começamos a imergir naquele ambiente. Entramos em um lugar de meia luz, um cheiro característistico, um ambiente único. A medida que o filme começa, nos desligamos do mundo real. Não há barulho externo. Está escuro e na nossa frente somente a tela. Vivemos aquela história por algumas horas. Quando o filme acaba, a luz não acende de imediato. O clima continua, porem a luz volta um pouco. Há uma música no fundo como se nos abraçasse. Nos levantamos e jogamos as coisas fora e em seguida saímos para dentro do shopping e a realidade volta. Mas já reparáramos no corredor do cinema. É como uma volta da realidade que é feita gradativamente.

Na cena BDSM não pode ser diferente. Entramos naquela realidade, naquela lógica por um período de tempo. Ficamos lá, vivendo aquela realidade, que muitas vezes é paralela a nossa. Não temos contato com o mundo. Do mesmo jeito que entramos, temos que sair. O cuidado do Mestre, o carinho, as palavras de proteção, os elogios, tudo isso auxilia para que o sub volte para a realidade.

Voltando para o rapaz que eu conheci, após a sessão de spanking, de xingamentos, de humilhação, o cuidado e primordial. Ele não é aquela pessoa que estava apanhando, aquilo era um personagem. Mas a dor era real, a dor foi sentida da mesma forma, na pele.

Ha uma espécie de ditado na psicologia clínica que eu acredito que cabe muito bem nessa situação. Quando estava me especializando tinha um professor que sempre falava que multas vezes levamos os pacientes para lugares desagradáveis, mas temos que trazê-los de volta, temos que trazer de volta para o lugar seguro onde eles tem que ficar. O paciente/cliente nunca, em hipótese alguma, deve sair da sessão pior do que ele entrou e o mesmo acontece nas sessões de BDSM.

AUTOR: DR PSI

Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas

 

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