Seguindo na mesma lógica dos últimos posts vamos tentar discutir hoje sobre a origem dos fetiches. Quando começamos a sentir alguma coisa por alguma prática sexual não normativa? É um tanto complexo e particular. Não sei se conseguiremos chegar a um constructo único que possa resumir todas as experiências. Para isso, vou me expor por algumas linhas.
Sempre vi o couro com outros olhos, desde que me conheço por gente. Sempre achei a jaqueta de couro uma coisa linda, botas de couro bonitas e chamativas, mas minhas primeiras peças de couro chegaram no meu guarda-roupa quando eu estava por volta dos vinte anos, aproximadamente. A primeira vez que eu comprei uma jaqueta de couro – sintético, na época – senti uma alegria inexplicável e quando vesti, senti que estava ficando excitado, sem nenhum motivo aparente. Lembro do cheiro e da textura. Com a bota foi a mesma coisa. Brinquedos sexuais nem se fala, eles são feitos para que pensemos e sentimos tudo isso.
Acredito, como tudo que discutimos nos últimos posts, que a origem dos fetiches vem de uma combinação de experiências de vida, abertura a experiências e combinações entre aquele objeto e situações prazerosas. O couro, pelo menos para mim, era um símbolo de poder, de dinheiro, de posse, de prazer, mesmo quando eu não associava o leather com alguma situação sexual. Quando encontrei que outras pessoas faziam a mesma associação que eu, me senti “em casa” como se tivesse achado meu lugar.
Digo que, para termos fetiches temos que ter uma abertura para experiências e um pareamento de combinações (pareamento) com situações prazerosas eu digo e me baseio, como exemplo, no relato que o Mestre Barbudo e eu recebemos no último box de perguntas que um rapaz trouxe sua história de vida e sua relação com os fetiches. Uma vez que temos uma predisposição a alguma situação que dê prazer, podemos, ou não, dependendo da nossa exposição aquele estímulo, desenvolver um prazer real (fetiche) ou não sobre aquilo. Por exemplo. Posso gostar muito de dominação e sempre ficar excitado ao ver vídeos sobre no xvideo, posso abrir o site do Mestre Barbudo e ficar excitado apenas de pensar eu no lugar do submisso nas centenas de relatos que temos ao longo do site. Porém, se eu me aventuro a ser submissão com algum dominador que não está sabendo ao certo que está fazendo ou que não tem experiência/paciência com novatos, eu posso ter uma experiência negativa que pode me fazer fechar as barreiras da experiência, taxando-a como negativa e rotulando toda uma prática como ruim.
Podemos pensar também na relação que a culpa que algumas vezes podemos ter diante do que sentimos tesão. E nesse ponto temos que considerar que a nossa cultura pune – e cruelmente as vezes – tudo aquilo que não “normativo”. O pareamento do que estamos predispostos a gostar com uma série de situações prazerosas podem nos certificar que é aquilo mesmo que queremos. Desde que, tenhamos vontade, predisposição e abertura para tais circunstâncias. Caso contrário nós vamos apenas nos frustrar.
Por fim, da próxima vez que você estiver pensando em alguma experiência nova e ficar excitado por isso, após gozar, pense se o interesse ainda continua. Se continuar, vá em frente e experimente, se a vontade for embora o gozo, acho melhor você reavaliar o que sente vontade se é realmente um fetiche que faz parte de você ou é apenas o resultado do tesão?
AUTOR: DR PSI
Psicólogo, especialista em terapia cognitivo-comportamental, psicopedagogia clínico e institucional e atualmente especializando em neurospicologia. Sempre fui interessado no mundo do BDSM, com a primeira experiência por volta dos 19 anos. Atualmente interessado em disseminar esta cultura em seus diferentes aspectos e as influências psicologias que estão atreladas
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