10 DICAS DE OURO PARA SUBMISSOS NOVATOS

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E aí querido leitor, tudo bem com você? Provavelmente eu não te conheço, mas te desejo um ótimo ano e espero que por 2021 estar começando, a sua sede de conhecimento não esteja nem um pouco baixa e, como de costume, vamos ao texto, porque os estudos não podem parar, certo? 

Confesso que tive algumas dificuldades para começar esse texto, pois tenho algumas ideias de séries para esse ano e tenho muitos assuntos de bastidores que adoraria tratar em um texto maior. O Dom Barbudo (o grande chefe) me passou uma lista de assuntos que deseja que eu aborde em algum momento em minhas colunas. Li e reli e cheguei em uma conclusão: vou abordar todos os textos de uma forma bem descomplicada, começando por um texto, que emendará no outro, e no outro, que permeará pelo outro e assim sucessivamente. Como eu já vinha fazendo, haha. 

Bom, indo direto ao assunto, as próximas publicações girarão em torno de uma questão histórica e bastante importante para o nosso atual BDSM vivido aqui no Brasil, mas como começar? Eis que atendi a uma sugestão que achei bastante pertinente para ser o ponto de partida!

Jay Wiseman (autor do livro SM 101) escreveu o texto a seguir em 1996, revisou-o em 2009 e publicou uma última versão em seu fetlife em 2014 e ele ainda continua extremamente atual, absurdamente profundo e sensato e cai como uma luva para começar esse ano com muita reflexão e ensinamentos desse “velho mestre jedi do BDSM”. O texto foi pensado para mulheres submissas que estavam entrando na cena BDSM estadunidense, mas as dicas não funcionam só para mulheres e sim para todos os submissos iniciantes. Abra seu coração e veja o que ele tem a dizer.


Dez dicas para mulheres iniciantes, solteiras, heterossexuais e submissas

por Jay Wiseman, autor de “SM 101: A Realistic Introduction” e traduzido em 2021 pela Belarina

Nota: Este ensaio foi escrito originalmente por volta de 1996 e foi o ensaio fundamental do meu site “Submissive Women Kvetch”. O nome do site era uma paródia de um site com um nome parecido criado por alguém que, em minha opinião, era praticamente o pior conselheiro possível que uma mulher submissa novata poderia ter. Embora eu não pudesse fazer nada sobre a existência desse site, eu descobri que certamente poderia competir com ele. Por mais que este ensaio mostre um pouco a sua idade, na verdade, ele resistiu bastante bem ao teste do tempo. Foi ligeiramente editado para esta repostagem de 2009 (e 2014).

Deixe-me adivinhar. Você é uma mulher, você é heterossexual e continua tendo fantasias estranhas, perturbadoras, recorrentes e intensas com um homem poderoso e dominador fazendo o que quiser com você. Talvez ele rasgue suas roupas; talvez ele a coloque sobre seus joelhos e lhe dê umas longas e fortes palmadas; talvez ele a amarre nua e de braços abertos a uma cama e comece a provocá-la e torturá-la alternadamente por horas; talvez ele coloque uma coleira em volta do seu pescoço e ordene que você se ajoelhe a seus pés – e você o faz, temendo e amando cada segundo disso.

Essas fantasias se tornaram tão intensas e recorrentes que constituem quase todas as fantasias sexuais que você tem? Elas se tornaram a peça central do seu pensamento quando você se masturba? Você já olhou para anúncios pessoais em busca de anúncios de homens que mencionam escravidão, surras e práticas relacionadas, desejando, mas não ousando, respondê-los? Você já pensou em pedir a um homem que a ajude a explorar suas fantasias? Você se preocupa que se mencionar esses desejos a um homem, pode acabar sendo espancada ou até estuprada? Você se pergunta como diabos conciliar seus desejos profundamente submissos com suas crenças distintamente feministas? Você tem a sensação cada vez mais forte de que, se não agir de acordo com esses sentimentos logo, ficará louca de frustração?

Se muitos desses pensamentos e sentimentos lhe parecem familiares, é provável que você tenha um lado eroticamente submisso e que esteja pronta ou quase pronta para explorar esse aspecto de si mesma. Se for esse o caso, então, como diz o ditado, tenho boas notícias e más notícias – e tenho alguns conselhos.

Antes de prosseguir, permita que eu me apresente. Meu nome é Jay Wiseman. Sou um homem branco heterossexual, nascido em 1949, que atualmente (2014) mora em São Francisco (Califórnia). Venho explorando as práticas associadas à dominação e submissão erótica desde 1971, sou principalmente, mas não exclusivamente, dominante em meus próprios desejos e, desde 1975, sou membro do que costuma ser chamado de ‘Bay Area SM Community’.

Durante as décadas que se passaram desde que entrei para a comunidade, provavelmente participei de algo entre 1500 a 2000 palestras, demonstrações, grupos de discussão, festas e eventos relacionados ao SM (o total pode realmente ser maior do que isso). Eu também fiz centenas de apresentações em grupos SM, tanto localmente quanto em todo o país – de Boston a Nova York, de Seattle a Los Angeles. Já fiz apresentações em mais de 75 cidades nos Estados Unidos e Canadá. Por mais de vinte anos, tenho aconselhado, ensinado, orientado, treinado e de outra forma auxiliado muitas mulheres submissas novatas e muitos outros tipos de pessoas durante suas explorações nas realidades do que é frequentemente chamado de sadomasoquismo – SM (ou, às vezes, BDSM). Talvez eu seja mais conhecido a esse respeito como o autor do livro “SM 101: A Realistic Introduction” publicado pela Greenery Press.

ESTÁ BEM. Isso é o suficiente sobre mim. Agora, como estava dizendo sobre a sua situação, tenho boas e más notícias – e tenho alguns conselhos. O que se segue não pretende ser um guia completo, mas deve ajudá-lo a começar com o pé direito.

Em primeiro lugar, a boa notícia: é bem possível que você explore suas fantasias de maneira saudável e construtiva, sem de forma alguma diminuir quem você é como ser humano e sem comprometer em nada suas crenças feministas. Também é possível encontrar um homem bom, decente, altamente ético e definitivamente não abusivo para ajudá-la a explorar esse aspecto de você mesma. Existe até uma possibilidade bastante boa de que você termine em um relacionamento de longo prazo com esse homem e se sinta feliz por isso. Eu conheço muitas mulheres submissas que encontraram seu “Mestre certo”.

Agora, as más notícias: algumas “maçãs podres” realmente se escondem no meio SM. Não existe um programa de triagem e treinamento aprovado que os aspirantes a mestres devam concluir com sucesso. Não há educação continuada ou exigências de licenciamento. Não há seguro contra erros. Qualquer idiota pode se proclamar um “mestre”. Um idiota de quase quarenta anos que tentou amarrar uma namorada uma vez quando tinha dezesseis anos pode alegar: “tenho mais de trinta anos de experiência na vida real”.

Assim, pode ser difícil, ou mesmo impossível, para uma mulher submissa novata (como você) dizer rapidamente a diferença entre um príncipe maravilhoso e um sapo horrível. Portanto, também é possível encontrar um “mestre” que é antiético, manipulador, explorador, abusivo e uma pessoa totalmente horrível para você se abrir como uma submissa se abre para um dominante. Envolver-se com um homem assim pode deixá-la gravemente prejudicada – emocionalmente, fisicamente, financeiramente e de outras maneiras. Infelizmente, também conheço algumas mulheres submissas que se envolveram com um “Mestre Errado” ou mesmo com um “Mestre Pesadelo”. A maioria recuperou-se, mas algumas não.

Agora, o conselho: o que você fará, em um sentido muito real, é explorar um deserto. Portanto, faz muito sentido abordar suas explorações em SM da mesma forma que você faria em qualquer outro tipo de deserto. Este deserto, como todos os outros, contém grandes quantidades de beleza e perigo. Faça um grande favor a si mesma e nunca se esqueça desses dois fatos extremamente importantes.

OK, Sra. Exploradora, como você abordaria esse deserto?

Dica Um: Estude e prepare-se antes de se aproximar.

De certa forma, você tem muita sorte em abordar a região selvagem do SM neste momento, porque ela já foi amplamente explorada e muitas pessoas estão dispostas a compartilhar suas próprias descobertas. Embora não exista um acordo universal sobre o que é e o que não é um SM apropriado, na realidade existe um consenso bastante próximo entre os profissionais mais experientes sobre a maioria dos pontos. A maioria dos exploradores chegou a conclusões e recomendações muito semelhantes, e muitos estão dispostos a compartilhar essas informações com outras pessoas interessadas. Em particular, existem vários livros muito bons sobre o assunto, um grande número de excelentes organizações educacionais de SM (a maioria das grandes cidades têm pelo menos uma) e uma riqueza de informações de qualidade na Internet. Você encontrará referências de algumas das melhores fontes no final deste artigo.

Além disso, novamente, assim como com a abordagem de qualquer outro deserto, também seria prudente se preparar um pouco para emergências antes de iniciar essa exploração. Muitas pessoas do SM fizeram coisas como aulas de primeiros socorros/RCP, fizeram um teste de HIV e receberam vacinas para se proteger contra a exposição à hepatite A e B.  Além disso, você sabe o que é uma “safeword” (palavra de segurança) e como um “gesto não verbal” ou um “alerta de segurança” funciona? Descubra antes de jogar com alguém em particular.

Dica dois: obtenha algumas perspectivas.

Por um lado, não existe uma ‘Agência Nacional de Padrões e Práticas Sadomasoquistas’ que emite regras sobre o que é e o que não é SM “real”. Portanto, as pessoas devem descobrir por si mesmas o que funciona e o que não funciona para elas. Por outro lado, existe um consenso entre os praticantes experientes a respeito das linhas gerais do que é e do que não é apropriado. Sendo esse o caso, seria inteligente buscar uma variedade dessas opiniões.

Mais especificamente, seria muito estúpido da sua parte depender de apenas uma fonte de informação, não importa o quão “convincente” ou “confiável” essa fonte de informação (geralmente masculina) tente parecer. Tente ler pelo menos três livros diferentes, escritos por três autores diferentes, sobre o assunto. Pesquise em vários sites diferentes. Participe de tantas apresentações diferentes relacionadas com SM, por tantos apresentadores diferentes, quanto você puder.

Dica três: o tempo é o seu melhor e mais importante aliado.

Correr para qualquer tipo de deserto é uma má ideia. Não tenha pressa. Observe a paisagem. Fale com os nativos. Converse com muitos nativos diferentes. Observe seus trajes nativos coloridos (muitos desses nativos parecem muito mais assustadores do que realmente são). Não deixe a visão desses chicotes e correntes assustá-la demais. Aventure-se em suas lojas e examine os produtos à venda (não se sinta mal se não conseguir descobrir imediatamente como alguns desses produtos são usados). Em particular, não se envolva de forma intensa e exclusiva com nenhum “nativo” rápido demais.

Ponto-chave: Os predadores seriamente perigosos e abusivos geralmente evitam a comunidade SM dominante, porque sabem que seriam rapidamente descobertos e condenados ao ostracismo. Portanto, eles se escondem nas periferias da comunidade, tentando “conquistar” a noviça submissa, cujo baixo nível de conhecimento e perspectiva desinformada podem torná-la perigosamente vulnerável. A propósito, adivinhe o que você é?

Dica Quatro: Você pode receber mais atenção do que consegue controlar.

Você é uma mulher que está entrando em um território onde é comum haver mais homens do que mulheres, e muitos desses homens estão procurando uma mulher para jogar SM (na linguagem comum de SM, fazer SM com alguém é “jogar” com eles. Isso não significa qualquer tipo de diminuição ou banalização, mas sim de uma maneira semelhante a como alguém pode “jogar” tênis ou bridge com um parceiro).

De qualquer forma, tende a haver mais homens do que mulheres nos espaços “relativamente heterossexuais” da comunidade SM (há espaços exclusivos para homens e mulheres também) e muitos desses homens procuram mulheres para serem parceiras ocasionais ou contínuas de “jogo” (um bom número de mulheres e casais também estão procurando parceiras para jogar). Portanto, você pode receber inúmeras ofertas educadas – e, infelizmente, algumas ofertas não tão educadas – para encontros em um café ou outros tipos de encontros. Não há nada necessariamente ruim ou errado com essas ofertas, mas, novamente, vá devagar e não se envolva muito com nenhum homem (ou mulher, ou casal) em particular rápido demais. Principalmente, seja relativamente rápido ao aceitar informações pessoais de outras pessoas, mas seja relativamente lento ao fornecer informações pessoais sobre você a outras pessoas, como seu número de telefone, onde você trabalha, seu endereço de e-mail e assim por diante.

Dado que a competição por novas mulheres ocasionalmente pode ser intensa (aliás, não me deixe te assustar muito neste ponto), tenha em mente que a pessoa que mostra mais agressividade em conhecê-la pode não ser a melhor pessoa para você se envolver. De fato, e infelizmente, o inverso costuma ser mais verdadeiro. Os caras mais legais costumam se conter por cortesia e respeito, enquanto os idiotas se enfiam na sua cara.

Mantenha suas opções abertas. Tente encontrar e ter conversas com muitos homens diferentes. É importante que você não permita que nenhum homem (ou mulher, ou casal) em particular monopolize seu tempo e atenção. Lembre-se de que as pessoas um pouco mais reservadas costumam ser as melhores para se envolver.

A propósito, depois de obter algum conhecimento e perspectiva, encontrar parceiros em potencial por meio de anúncios pessoais pode ser útil, pois não haverá concorrência direta quando você falar ao telefone ou se encontrar em um restaurante público.

Além disso, quanto mais “conhecido” um homem, mais seguro ele provavelmente será. Como regra, um homem que é conhecido em sua comunidade SM local há mais de um ano é, provavelmente, relativamente seguro (embora existam exceções). Um homem menos conhecido é mais questionável. Mais uma vez, leve o seu tempo.

Outro ponto-chave: você não tem absolutamente nenhuma obrigação de agir de maneira submissa para com um homem até que vocês dois tenham negociado isso – e feito isso como iguais. Se algum idiota tentar insistir para que você o chame de “Senhor” ou “Mestre”, ou tentar lhe dar ordens, ou tocar em você como se vocês fossem íntimos, ou disser que você não está sendo devidamente submissa quando você não tiver concordado previamente em ser submissa a ele, seu “alarme de atenção” deve começar a tocar bem alto – e você deve ir para outro lugar, rápido.

A propósito, uma amiga minha, que é uma mulher submissa muito experiente, lamentavelmente passou a acreditar que existe uma forte relação inversa entre o quão bom um homem dominante é e a rapidez com que ele aborda o assunto sexo oral.

Por outro lado, uma abordagem discreta, amigável e cortês de um dominante é um sinal muito positivo. Dominantes de boa qualidade tendem a adotar uma abordagem comedida, atenciosa e respeitosa.

Dica cinco: considere as afirmações “elite” (entre outras) com uma grande desconfiança.

Alguns homens, na tentativa de impressioná-la, podem alegar ser membros de uma organização SM privada de “elite” que só admite “poucos escolhidos” – e você, um “pitelzinho” que é, por acaso se qualifica. Bem, a verdade é que existem muitos clubes SM relativamente privados, mas quase todos são pequenos grupos locais, e a maioria não faz nenhuma alegação especial de ser uma organização SM de “elite” ou “verdadeira”. Em particular, eu a aconselho a ser extremamente cética em relação a qualquer pessoa que alegue ser um “verdadeiro mestre” ou a praticar a “única forma verdadeira” de SM.

Lembre-se de que se gabar um pouco costuma ser uma parte normal do comportamento de um homem em um encontro, então deixe-o falar – e ouça com atenção o que ele diz e como o diz. Há quanto tempo ele está na comunidade? De quantas reuniões, festas e outros eventos ele participou? Que livros relevantes ele leu? Ele já fez uma apresentação em um clube SM? Se sim, ele foi convidado a voltar? Ele já serviu como dirigente em um clube SM? Em caso afirmativo, como a maioria dos sócios do clube se sentiu em relação a ele quando seu mandato terminou?

Quais são suas opiniões sobre outras pessoas na comunidade e as opiniões dessas pessoas em relação a ele? Homens dominantes geralmente têm personalidades e opiniões fortes e, portanto, muitas vezes evocam reações fortes. Portanto, seria relativamente normal se ele tivesse uma visão ruim de algumas pessoas na comunidade, mas e se ele tem uma visão ruim de praticamente todos? A propósito, observe com que rapidez, frequência e intensidade ele expressa opiniões negativas sobre os outros. Isso por si só pode ser esclarecedor.

Também seria relativamente normal se ele (corretamente) acreditasse que possui alguns inimigos na comunidade, mas e se ele acredita que está sendo amplamente evitado ou mesmo que há uma conspiração contra ele?

Quantos amigos ele tem? Ele pelo menos se dá bem com a maioria dos outros homens dominantes? Como as mulheres dominantes no clube se sentem em relação a ele? Ele se dá bem com a maioria dos homens submissos? Em particular, ele tem alguma amizade próxima, profunda e de longa data?

Quando sair com um homem assim, observe como ele trata as pessoas que trabalham com serviços. Lembre-se do que às vezes é chamado de “teste da garçonete”: observe como seu acompanhante trata a garçonete – porque é assim que ele vai tratá-la em seis meses. Como uma mulher submissa comentou sobre como seu (agora ex) “Mestre” tratava essas pessoas: “Eu descobri. Ele não é um dominante. Ele é um idiota rude”.

Como ele se sente agora em relação às mulheres com quem costumava se envolver? Se ele tem uma opinião negativa sobre uma ou duas delas, isso é relativamente normal, mas se ele afirma que todas elas são mentirosas, instáveis, vadias, é hora de se preocupar.

Verifique seu senso de humor, pois muitas vezes isso reflete profundamente a pessoa. Desconfie do dominante que não consegue rir de si mesmo.

A propósito, outra mulher submissa com longa experiência e um tanto cansada do mundo concluiu que há também uma forte relação inversa entre quantos títulos um homem se atribui e quão bom dominante ele é. Lembre-se desse fato quando você conhecer alguém que quer que você o chame de MasterTopDaddyLordSir.

Dica seis: saiba que existem “avisos mal intencionados”.

A comunidade SM é composta por seres humanos, e os seres humanos podem ser éticos e antiéticos. Embora a maioria das pessoas na comunidade SM seja bastante ética na maioria das vezes, também ocorrem deslizes. Esta comunidade, infelizmente, mas previsivelmente, tem sua cota humana plena de conflitos de personalidade, rixas políticas, sentimentos amargos após relacionamentos fracassados ​​e assim por diante.

Embora a comunidade tente alertar os recém-chegados sobre pessoas genuinamente perigosas, entenda que esse processo de aviso geralmente não é bem organizado, geralmente carece do “devido processo” e, muitas vezes, a forma como tais avisos são feitos não é muito objetiva. Portanto, infelizmente, você está sujeita a abusos por parte de pessoas antiéticas. Lembre-se de que há pelo menos dois lados em uma história, e o cara pode nem mesmo saber que uma “história” pouco lisonjeira está sendo contada sobre ele. Portanto, eu a aconselho a receber um aviso não solicitado com desconfiança.

Digamos que você esteja em uma reunião de clube e conversando com um homem dominante que parece bastante decente, mas depois de sua conversa com ele, outra pessoa, que você mal conhece ou mesmo não conhece, se aproxima e avisa que o homem que você estava falando é um malvado, instável, agressor, usuário de drogas, que chuta seu cachorro e vota no republicano. O que você deveria fazer?

Primeiro, pergunte discretamente (ou simplesmente ouça enquanto as pessoas falam). Quantas outras pessoas concordam com a avaliação de seu autointitulado “amigo prestativo”? Existe algum histórico de conflito de personalidade e/ou disputa política e/ou relacionamento fracassado entre os dois? Os membros de um grupo particular parecem achar que o cara em questão é um chato, mas o resto dos membros do clube se sentem bem com ele?

Em segundo lugar, faça este teste: peça a várias mulheres que parecem bastante estáveis ​​e objetivas que mencionem alguns homens que podem ser bons para você jogar e veja quem faz e quem não faz suas listas. Como essas listas se comparam? Que razões são dadas para as seleções e exclusões?

Terceiro, novamente, dê tempo ao tempo. A personalidade sempre surge com o tempo. Dê-lhe tempo suficiente e, mais cedo ou mais tarde – e geralmente é mais cedo do que mais tarde – você será capaz de julgar claramente por si mesma se o cara é um príncipe ou um sapo. Você saberá algo importante sobre o seu suposto “amigo prestativo” também.

Dica Sete: Cuidado, principalmente, com a pessoa que tenta isolar você.

Talvez a maior “red flag” (bandeira vermelha) de que um potencial parceiro masculino pode ser abusivo ou tóxico é uma tentativa dele de limitar o seu acesso à informação e discussão sobre o que são e o que não são considerados práticas, ética e relacionamentos SM apropriados.

Isso às vezes pode ser um pouco difícil de determinar porque, como mencionei, a competição por novas mulheres às vezes pode ser intensa; portanto, é compreensível que um homem queira que você passe uma quantidade significativa de tempo apenas com ele para ver se ele consegue estabelecer um relacionamento com você. E vamos lembrar que há uma boa chance de que tal relacionamento possa muito bem ser uma coisa maravilhosa para vocês dois.

Tente este teste: as realidades de encontros sendo o que são, é compreensível que um cara não queira que você passe muito tempo com outros caras (na verdade, é um fato duro, mas muitos homens não trazem uma mulher para uma reunião do clube SM até seu próprio relacionamento com ela estar firmemente estabelecido, porque eles não querem que outros homens tentem “roubá-la”, mas como ele se sente sobre o fato de você passar tempo com outras fontes de informação?

Se ele se opõe fortemente a você discutir ou aprender sobre SM com uma fonte que não seja ele, cuidado! Se ele não quer que você leia livros de não-ficção sobre SM, ou procure sites sobre SM, ou participe de apresentações em clubes de SM, ou saia com outras mulheres submissas, ou se ele pensa que de alguma outra forma você pode se corromper ao ter contato com ideias de um “falso SM” quando ele está disposto a conceder a você a honra e o privilégio de aprender sobre o “verdadeiro SM” (com ele), saia daí!

Por outro lado, se ele lhe dá livros para ler, aponta sites e outros recursos da Internet, leva você a várias apresentações relacionadas com SM e – em particular – coloca você em contato com outras mulheres submissas, fique por perto por um tempo.

Dica Oito: Procure, especialmente, o conselho e a companhia de outras mulheres submissas.

Eu acredito cada vez mais que a primeira fonte de informação que uma mulher submissa novata deve buscar quando ela chega na comunidade SM é um grupo de apoio para mulheres submissas – de preferência um grupo cujos membros se encontrem pessoalmente pelo menos uma vez por mês. Vários clubes SM têm esse grupo e muitos outros estão começando.

Geralmente há uma quantidade enorme de sabedoria e perspectiva coletiva em tal grupo, e uma submissa novata pode aprender muito rapidamente. Provavelmente, o único grande limite seria a regra “não combine plays” durante essas reuniões. Se uma mulher faz uma oferta para você, durante uma reunião de grupo, do tipo: “você sabia que alguns encontros para participar de uma play com meu maravilhoso Mestre (e talvez comigo também) ensinaria muito a você”, sugiro que você recuse discretamente. Por outro lado, ao conhecer muitas outras mulheres submissas (ou switchers), você pode descobrir que tem uma relação particularmente próxima com algumas delas, e essas mulheres podem se tornar algumas de suas melhores amigas.

Esperançosamente, haverá muitas mulheres no grupo, e elas virão de uma variedade de origens, e nem todas serão membros do mesmo grupo ou clube (diferente daquele). Entre outras coisas, este é um ótimo lugar para verificar a reputação de um dominante. Se a maioria das mulheres do grupo pensa que ele é um cara bom, isso é um sinal. Se a maioria delas pensa que ele é um idiota, esse é outro sinal. Em ambos os casos, tente obter detalhes sobre por que elas se sentem assim. O que, exatamente, são as coisas que ele fez ou não fez que foram tão maravilhosas ou tão terríveis? Opiniões não acompanhadas de fatos não valem muito.

Dica Nove: Explore.

Seu primeiro ano de envolvimento no mundo SM é frequentemente uma época de tremendo crescimento e mudança pessoal. Você provavelmente terá muitas experiências novas, conhecerá muitas pessoas novas e verá muitos lugares novos. Estar no SM permite a você a oportunidade de usar roupas realmente maravilhosas também. Além de explorar seus aspectos submissos, você também pode descobrir que tem alguns aspectos dominantes em si mesma.

Muitas mulheres “submissas” não são exclusivamente submissas. Muitas são mais corretamente chamadas de “switchers” e, pelo menos ocasionalmente, gostam de assumir o papel oposto. Isso também é verdade para muitos homens “dominantes”.

Além disso, você provavelmente terá a chance de examinar mais de perto questões como a bissexualidade e a não monogamia. Eu descobri que muitas das mulheres nos espaços “relativamente heterossexuais” da comunidade SM são pelo menos um pouco bissexuais, e uma grande porcentagem dos casais não é inteiramente monogâmica.

Você provavelmente também terá a oportunidade de explorar muitas práticas diferentes relacionadas ao SM. Por exemplo, você pode ter fantasias de ser amarrado e provavelmente terá a chance de explorar isso. Você também pode ter oportunidades de explorar atividades como surras, chicotadas, uso de pinças, gotejamento de cera quente e assim por diante.

Um conselho: é comum descobrir que você passará a desfrutar de uma gama mais ampla de atividades ao longo do tempo, e que algumas (mas não todas) das atividades que a princípio tiveram pouco interesse para você, ou talvez até a desinteressaram, se tornarão agradáveis. Há um ditado: “Nunca diga nunca”.

Por outro lado, existe uma hora e um lugar adequados para explorar. Confie na sua intuição. Se fazer algo parece realmente certo, então provavelmente é certo. Por outro lado, se fazer algo claramente parece errado, então provavelmente é errado. Em particular, não se precipite cegamente. Nunca deixe algum “especialista” convencê-la a fazer algo se não parecer certo. Não há pressa em fazer nada disso. A verdade quase sempre surge com o tempo, então dê a si mesma esse tempo.

Pode ser útil jogar com vários parceiros diferentes enquanto você explora o SM, mas você deve fazer isso com cuidado. Isso é verdade mesmo se o seu objetivo final for encontrar e ser monogâmica com o “Mestre certo”. Como sempre, não tenha pressa, conheça a outra pessoa razoavelmente bem e negocie com cuidado antes de jogar. Pode ser útil manter o “teste NAS” em mente: como você se sente com a ideia de estar “nu, amarrado e sozinho” com essa pessoa? A propósito, uma grande característica das festas é que elas permitem que você jogue com um novo parceiro com relativa segurança.

Observe como as coisas estão se desenvolvendo ao longo do tempo em qualquer relacionamento que você possa estabelecer com um homem dominante. Embora todo relacionamento tenha seus altos e baixos, seus sucessos e fracassos, e seus pontos difíceis e pontos suaves, a tendência geral deve ser boa. Se você basicamente se sente feliz e, com o tempo, geralmente se sente mais feliz com seu parceiro e com seu relacionamento, isso é um bom sinal.

Por outro lado, se você basicamente se sentir infeliz e, com o tempo, geralmente se sentir mais infeliz com seu parceiro e seu relacionamento, isso é um mau sinal – um péssimo sinal. Se você está infeliz e cada vez mais infeliz, peça ajuda ou saia. Uma mulher submissa novata, que era infeliz em seu relacionamento, me perguntou “toda vez que ele descobre que eu gosto de alguma coisa, ele tira isso de mim – até mesmo o prazer de eu dar a ele um orgasmo. É para ser assim?” Eu não sabia que conhecia tantas maneiras diferentes de dizer “não”. Ela não permaneceu nesse relacionamento por muito mais tempo.

Dica Dez: Quando chegar a hora certa, ajude a educar e orientar novas mulheres submissas e outros praticantes

O interesse em SM está crescendo rapidamente e a demanda por informações realistas também está crescendo. Não se surpreenda se outras pessoas, ao saberem de seu interesse, começarem a pedir informações e conselhos. Isso pode começar a acontecer muito antes de você se sentir pronta para começar a ensinar. Não se preocupe muito. Os princípios geralmente aceitos são bastante conhecidos e não é difícil encaminhar as pessoas a boas fontes de informação. Você pode rapidamente se tornar uma boa fonte de informações desse tipo.

Lembre-se de que, em um sentido muito real, há uma competição feroz, quase uma guerra, acontecendo entre os educadores “mocinhos” e os predadores “bandidos” pelos “corações e mentes” dos novatos, especialmente as mulheres submissas novatas, e que as apostas são muito altas – às vezes tão altas quanto a vida ou a morte.

Os “mocinhos” sempre precisam de mais membros na equipe. Inscreva-se quando estiver pronta.

Fontes de informação:

Existem muitas fontes de informação excelentes e não tenho como incluir todas elas. Vou lidar com esse problema listando algumas fontes que às vezes são chamadas de “porta de entrada”, porque são fontes que levam a muitas outras fontes. Eu recomendo que você examine o maior número possível e veja quais parecem uma boa combinação especificamente para você.

1. “SM 101: A Realistic Introduction” por Jay Wiseman (eu) publicado pela Greenery Press. Escrevi este livro com a intenção específica de ser o primeiro livro que um novato pudesse ler. É uma introdução bastante abrangente ao SM e inclui uma extensa lista de fontes de outros livros recomendados, clubes e recursos adicionais.

2. Greenery Press. Greenery Press publicou “SM 101” e mais de uma dúzia de outros livros que lidam com relacionamentos e questões de sexualidade – especialmente no que diz respeito ao SM. Em particular, depois de ler completamente o “SM 101”, recomendo que você estude cuidadosamente “The Bottoming Book“. Para obter mais informações, incluindo muitos artigos úteis e links para outras fontes, pesquise pela Greenery Press na web.

Os dois livros da Dossie e Janet, The new Topping book e The new Bottoming book.
Os dois são ótimas recomendações para novatos!

3. The Society of Janus. Localizado em São Francisco (Califórnia), este é um dos grupos de suporte e educação SM mais antigos. Suas atividades incluem programas educacionais, grupos de discussão e festas. Eles podem ser encontrados em www.soj.org – outro site com muitos artigos e links excelentes.

4. San Francisco Sex Information. Essas pessoas oferecem um excelente serviço de informações, conselhos e referências por telefone (mas não sexo por telefone). Eles podem ser contatados em www.sfsi.org

5. A rede social baseada em BDSM www.fetlife.com. Este é um site dinâmico e contínuo para a discussão de muitos aspectos diferentes do SM (ou BDSM, como é mais frequentemente chamado aqui). Ele também contém anúncios de muitos eventos nacionais e locais.

6. Suas lojas locais. Sua boutique erótica local ou loja de couro pode ser uma fonte de informação e apoio de primeira linha. Frequentemente, há livros e itens de equipamento à venda ali, e às vezes também há apresentações “na loja”. Frequentemente, há também um quadro de avisos que lista os próximos eventos locais.

7. Seu clube SM local. Este é um recurso primordial. Não há substituto para obter informações e conselhos em primeira mão, e alguns clubes têm especialistas de classe mundial entre seus membros. A propósito, algumas áreas também têm mais empreendimentos comerciais que oferecem aulas relacionadas ao SM. Seu grupo local saberá quais dessas empresas são boas. Eles também podem encaminhá-la para grupos de discussão informais que se encontram ocasionalmente em restaurantes locais; estes são frequentemente chamados de “munches”.

8. Seu grupo local de apoio a mulheres submissas. Esse grupo pode existir formal ou informalmente. Um dos meus objetivos ao escrever isto é encorajar a formação de mais grupos desse tipo. Provavelmente não há fonte de informação, perspectiva e apoio mais segura e útil do que o conselho de suas “irmãs” mais experientes enquanto você explora este deserto.

Meus melhores votos para você em suas explorações!

Conclusão:

Sinceramente, não sei nem o que falar. Fico me perguntando como o Wiseman conseguiu viajar para o futuro, conhecer o BDSM no Brasil em 2021, voltar para 1996 e escrever suas observações, porque olha, mais atual impossível! 

Tirando os detalhes geográficos e algumas recomendações que só funcionam nos EUA, podemos extrair bastante coisa, não? 

Wiseman dedicou grande parte de sua trajetória no BDSM a educar e lecionar sobre primeiros socorros e cuidados que devemos ter e como evitar situações complicadas na nossa comunidade (abusos e afins), sem que seja responsabilidade apenas de uma das partes. Seu material possui uma visão rica sobre observações e a atenção que devemos ter no respeito e na consensualidade, mas também nos alertas que o corpo apresenta em cada momento da nossa vivência.

Não cabe apenas aos Tops saberem sobre como realizar práticas e entender medidas de segurança, primeiros socorros e responsabilidade. Veja que só saberemos se alguém está fazendo errado se soubermos fazer certo, não é mesmo? Ademais, imprevistos podem acontecer de ambas as partes.

Além disso tudo, apontar o dedo e dizer que algo está certo e errado, ou que tal comportamento não é bem-vindo na comunidade soa mais como uma forma de podar do que realmente analisar o contexto ou educar as partes envolvidas. Considero que esse tipo de consciência e informações sobre “como agir caso algo dê errado” e “o que devemos evitar”, tanto nas práticas quanto nos relacionamentos, deve ser mais discutido e apresentado no Brasil do que apenas “o que é”, “como fazer”, etc. Não devemos deixar de ressaltar e reforçar a necessidade de discutirmos sobre os riscos e lembrar que somos praticantes, mas antes de tudo somos humanos! Essa parte é fundamental! 

Por fim, mas não menos importante, espero que esse texto te ajude assim como ajudou tantas outras pessoas ao longo dessas décadas! Então me diga, o que achou do texto?

AUTOR

Mestre Sadic​​​​

​Estudo o universo fetichista desde 2010 e iniciei as práticas em 2013. Hoje dou palestras sobre o fetiche, tiro dúvidas e mentoro novatos. Tenho como objetivo propagar conhecimento e não me aproveitar dele.

Café Fetichista: https://m.youtube.com/playlist?list=PLlRq4n48kKVE4hEDAtL_3EDYdiiSGwt1P

Site: https://mestresadic.com.br

Instagram: https://www.instagram.com/mestre_sadic

Fetlife: https://fetlife.com/users/5909606

Medium: https://medium.com/@mestre_sadic​​​

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