SUBMISSÃO MASCULINA ENQUANTO PROCESSO

Já falamos por aqui que o SubMundo dos prazeres não segue a mesma lógica do universo baunilha no que diz respeito a relacionamentos, a padrões estéticos e corporais e também a gênero.

No entanto, a cultura e os contextos sociais a que fomos expostos no decorrer da nossa vida não são simplesmente apagados quando entramos para o mundo dos fetiches. Nossa persona fetichista não “nasce” sem uma história, ao contrário, ela carrega consigo vivências a serem exaltadas ou a serem desconstruídas.

Sendo assim, por mais que prezemos por igualdade quando falamos de pessoas que se submetem, ainda teremos diferenças inerentes aos gêneros e uma mulher se submetendo a um homem lidará com questões diferentes de uma mulher se submetendo a outra mulher, assim como um homem se submetendo a uma mulher e um homem se submetendo a outro homem precisará quebrar paradigmas diferentes.

Então, para nos contar sobre o ponto de vista de um homem cis que iniciou sua trajetória de submissão curvando-se a uma rainha em uma sociedade machista que vê o homem como detentor do poder, convidei o Brat Valet para dividir conosco sua experiência com sua rainha Dommenique Luxor.

Com a palavra, Brat Valet…

“Eu poderia contar romanticamente sobre o dia em que minha Senhora entrou pela porta da minha casa, de como aquele sorriso altivo preencheu cada espaço da minha vida. De como fiquei encurvado e de pernas cruzadas sem ao menos conseguir olhá-la de volta, de como no decorrer daqueles nossos primeiros dias me senti protegido, desejado, em um conforto e sensação de compreensão que me mostravam claramente o quanto eu era frágil perante aquela Rainha.

A ideia de descobrir-me submisso àquela mulher carrega consigo ainda a sutil e equivocada ideia de uma submissão inata. Parecia ali, pareceu por algum tempo e frequentemente volta a parecer que era isso o que faltava ou, então, que encontrei o meu lugar. Antes de qualquer coisa é preciso dizer que encaro minha submissão a uma pessoa específica (e a ela somente) enquanto uma escolha. Sim, minha vida é mais feliz e realizada estando submetido à Ela. Porém, uma perspectiva na qual eu colocaria Nela a chave para minha descoberta e em mim a resolução de alguma espécie de inadequação emocional da qual sofria, parece-me duplamente injusta.

Primeiramente, essa simplificação reduz e desrespeita o impacto que minha Senhora tem hoje em minha vida. Dá uma ideia funcional de preencher uma lacuna, de azeitar uma vida (a vida de um homem) que ia muito bem em seus outros aspectos. Nada é mais distante da realidade do que esta descrição.

Por outro lado, também parece-me injusto que, quando é dito como inerente ao ser, o ato de submissão reveste-se de um conhecimento ou habilidade anteriores, o que de certa forma dispensaria o estudo e dedicação; dispensaria a humildade primeira de ainda não saber.

Falei acima da submissão enquanto uma escolha, logo implicando em uma disposição. Portanto, enquanto submisso, consigo me ver como em um movimento no sentido de submeter-se.

Essa ideia vem da observação de um processo (o meu) ocorrendo a um homem. O gênero adquire uma centralidade nesta reflexão uma vez que, mesmo querendo submeter-me, opero segundo reações socialmente construídas, neste caso portanto, masculina e socialmente construídas.

A própria noção ou definição de submissão que posso ter é definida “masculinamente”, dentro de uma espécie de “refúgio da dominância”, que traduz-se em reação violenta. Neste momento, com o mínimo de honestidade, devo declarar que ainda não me submeti, mas me encontro sim em processo de submissão.

Talvez possa ser visto como um primeiro movimento em direção à submissão a admissão dessa resistência. A identificação do receio da perda de um suposto controle e reconhecimento de que esse receio conduz a uma tendência de negação que por sua vez leva à reação violenta, gerando um ciclo no qual a presunção e auto-engano são a tônica, é um pequeno – ainda que fundamental – passo para quebrar tal lógica.

A dedicação e educação que recebo de Dommenique Luxor, minha Senhora e agora esposa, são os responsáveis por eu, ainda que de forma superficial e cheia de falhas, começar a vislumbrar o quanto a submissão deve ser um caminho não de simples entrega, mas de estudo, humildade e atenção constantes, respeito e confiança. Se hoje tenho a oportunidade de ver-me como um ser relacional em construção e ponderar sobre meu processo, devo à minha Rainha, sua condução amorosa e o adestramento preciso que recebo desde aquele dia que ela entrou pela minha porta, sorriu e me olhou. Jogou todas as cores do mundo em uma vida cinza mas, antes de tudo, começou a me ensinar o principal do pouco que sei: que ainda não.”

SubMundo por Brat Valet

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AUTORA

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Uma resposta

  1. Sempre muito interessante entender como pensam as pessoas… apesar de ser gay e não me enxergar como submisso de uma mulher – sem machismo, de forma alguma! – entendo que, para um homem cis hétero, a submissão diante de uma mulher é ainda mais provocativa, dado o contexto da sociedade em que vivemos. Não tenho desejo sexual por mulheres, porém em um cenário BDSM quem sabe se algum dia não venha a me submeter? Admiro e respeito demais as mulheres – aliás, vocês são muito mais fortes que a maioria de nós homens…

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