Vou começar meu texto de hoje com uma afirmação, que pra mim, não cabe contestação: “o que separa o BDSM do abuso é o consentimento”
Isto posto, é inadmissível para mim, essa corrente dentro do BDSM que prega que o “sub space é um lugar a se chegar”, que você “só experencia a verdadeira submissão quando entra em sub space”.
E porquê eu digo isso?
Por que conceitualmente falando, sub space é um estado de psicológico alterado que é alcançado por um bottom durante uma cena.
A grande maioria das pessoas associa o BDSM somente ao seu aspecto físico e acaba esquecendo dos aspectos psicológicos que devem ser considerados durante toda cena.
SUB SPACE
Sub-space é muito parecido com um transe hipnótico, onde a pessoa consegue mentalmente “se separar do ambiente” enquanto processa a experiência e o mundo ao redor pode “desaparecer”.
A sensação dupla de prazer e dor gera uma resposta do sistema nervoso simpático, que causa a liberação de epinefrina das glândulas suprarrenais e uma descarga de endorfinas e encefalinas.
Essa mistura tem um efeito parecido de drogas, gerando um tipo de “anestésico natural” aumentando a tolerância de dor do bottom induzindo um estado de “euforia” e algo relatado como experiência “fora do corpo”.
Embora pareça muito atraente, ele não o é, pois o sub space cria um estado mental que “impede o pensamento racional e afeta a capacidade de tomar decisões” e, nesse momento, na minha opinião, o SSC foi por ralo abaixo!
Por isso sou muito partidária em dizer que o Top tem que se manter alerta às reações do bottom e saber quando diminuir o ritmo ou até mesmo, parar a cena.
Muitos bottoms, quando em profundo estado de sub space perdem a noção dos limites próprios e acabam colocando a própria segurança em risco, pedindo por mais e insistindo na continuidade da cena, nas mãos de um Top inexperiente ou sem entendimento dos perigos do sub space podem ser algo extremamente perigoso para o bottom.
Qualquer coisa que tire do bottom a capacidade de entender e perceber seus limites é muito, mas muito perigoso para o BDSM.
TOP SPACE
Do outro lado do chicote, hoje em dia temos também os Tops que dizem que “não conseguiram parar” por estarem em Top Space.
E nesse momento eu lhes pergunto: uma pessoa que não conhece a hora de parar tem alguma condição psicológica de estar no BDSM? Uma pessoa que está olhando para a agonia de seu bottom e não consegue entender que aquilo deixou de ser prazeroso e passou a ser violento pode ser considerado uma pessoa que joga dentro do SSC?
Eu particularmente questiono a capacidade dessa pessoa!
Muita gente me contesta dizendo que tanto o sub quanto o Top Space são momentos de intenso prazer, e para esses eu digo: o nome disso é orgasmo! Não sub, nem Top Space!
O orgasmo é algo que acontece também no cérebro mas está muito longe de causar alienação. O cérebro é tão importante na dinâmica do orgasmo que até o arrepio que a gente sente na pele quando goza, nada mais é do que uma resposta do nervo pudendo, que é o nervo que conecta o cérebro com o clitóris ou pênis. Mesmo o orgasmo sendo sentido e percebido por todos os nervos do nosso corpo, esse mocinho pudendo aí, é quem mais se diverte com a festa.
A diferença entre o orgasmo e os spaces? O deslocamento psicológico!
Quando atingimos o orgasmo nosso cérebro emite mensagens para nosso corpo de prazer, de tranquilidade, de satisfação e não de alienação.
O spaces tiram a pessoa da realidade! E quando você está fora de uma realidade você perde sua capacidade de consentir ou de perceber o perigo.
Na minha singela opinião, passou da hora de parar com essa “Ode ao Space” que vivemos hoje no BDSM. Devemos começar sim a viver um BDSM que cumpra seu papel principal que é o de causar prazer consciente, de fazer as pessoas terem orgasmos felizes e com a total consciência de que ali, naquele momento, tudo faz sentido!
AUTORA: SRA STORM
Chef de cozinha e empreendedora da área de alimentos e no BDSM Top dedicada às práticas de Wax Play, Flogging, Branding, Castidade e Inversão e algumas outras pequenas perversões!Instagram: @darkroomcla com conteúdo instrutivo da subcultura Kink e BDSM.
CONTRATO BDSM – MODELO EM ANEXO
AS BASES DO BDSM E AS DIFERENÇAS ENTRE ELAS